Opinião do Estadão
O presidente da Vale, Roger Agnelli, atribuiu a grupos do PT a nova onda de rumores sobre sua substituição, no caso de vitória da candidata governista Dilma Rousseff. É tudo parte do "jogo político, jogo de eleição", segundo o empresário. Há muita gente, disse, empenhada em ganhar uma cadeira na diretoria da empresa. "E é geralmente gente do PT", acrescentou. Como em outras ocasiões, Agnelli, mesmo apontando interesses de setores petistas e defendendo as privatizações, esforçou-se para evitar o confronto com o presidente Lula e com sua candidata à sucessão presidencial. Mas o caso não se limita à ambição de alguns correligionários do presidente da República nem a rumores passageiros.
As pressões sobre a administração da Vale, a maior empresa privada do Brasil, vêm de longe e seu principal articulador tem sido sempre o presidente da República. Agnelli mencionou a existência de petistas inconformados com as privatizações, mas descreveu como "boa" sua relação com o partido. Sua atitude é compreensível. Mas os fatos são conhecidos. O conflito ganhou notoriedade quando a empresa, no pior momento da crise econômica, em 2008, anunciou a demissão de 1.300 empregados. Na mesma época, a Embraer, outra grande empresa privatizada, decidiu reduzir o quadro de funcionários. Do Palácio do Planalto partiram censuras e pressões sobre as duas companhias. Foram claras tentativas de interferência na gestão de duas empresas com maioria de capital privado e ações negociadas em bolsa. Sem dar a necessária atenção a esses fatos, o presidente da República tentou orientar os diretores das duas companhias e cobrar-lhes explicações por seus atos. Não se trata, portanto, apenas de grupos do PT. Também o presidente Lula ainda mostra dificuldade em aceitar a desestatização de grandes - e hoje muito mais eficientes - empresas brasileiras.
Além de criticar as demissões, ele pressionou a presidência da Vale para aumentar os investimentos no Brasil e, particularmente, para ampliar a atuação do grupo na siderurgia. Também quanto a esse ponto o executivo Roger Agnelli tenta "pôr água na fervura", dizendo compreender o empenho do presidente da República em promover a expansão da indústria do aço. Mas nenhuma quantidade de "água fria" mudará os fatos. Um presidente da República pode manifestar desejos e até convidar dirigentes de empresas para a discussão de planos, mas não tem o direito de tentar interferir em suas decisões estratégicas e de pressioná-los para que aceitem seu comando.
Como não conseguiu intervir tanto quanto pretendia, o presidente Lula manobrou para substituir o presidente da Vale. Também essa manobra foi amplamente noticiada. Mas o governo não tem ações suficientes para derrubar o presidente da empresa. Somando as participações da BNDESPar e dos fundos de pensão de estatais, o governo conseguiria 61,51% dos votos, mas seriam necessários 67% para a destituição de Roger Agnelli. Um grande empresário tentou comprar uma fatia importante das ações, para facilitar a substituição do presidente da Vale. Não conseguiu, mas mostrou até onde vai sua disposição de agradar a um chefe de governo.
O presidente Lula não conseguiu assumir o comando da Vale nem o da Embraer. Seus companheiros não deixaram, no entanto, de fazer campanha pela reestatização das duas empresas. Mas o presidente da República pelo menos conseguiu assumir a chefia de fato da Petrobrás, determinando seus planos de investimento e contestando publicamente os dirigentes da empresa. Eles só decidiram investir em refinarias no Nordeste, disse Lula, porque ele mandou. Não o teriam feito, se fossem guiados pelos critérios empresariais. Nenhum desses dirigentes mostrou desconforto por ter sido criticado. O presidente Lula e seus companheiros decerto gostariam de ter executivos com a mesma disposição em outras grandes companhias, a começar pelas privatizadas. Será uma de suas prioridades, se o PT continuar instalado no Palácio do Planalto.
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