domingo, 31 de outubro de 2010

Tributo a Mário Kozel Filho

Antenor Pereira Giovannini (*)

Que o Brasil é um país sem memória, isso estamos cansados de saber. Em qualquer área, em relação a qualquer pessoa, não se reverencia a figura daqueles que alguma coisa fizeram e contribuíram ao País. Pior que isso, é saber que País sem memória é País sem história.

Por isso, hoje ao saber da eleição de uma ex-guerrilheira que ainda não perdeu a pose e continua sendo arrogante, presunçosa, uma pessoa despreparada e que foi colocada no cargo, eleita para Presidente da República do meu País, me permitam enaltecer a memória de um jovem que se hoje estivesse vivo completaria 61 anos de idade, mas, que aos 19 anos teve sua vida interrompida pela explosão de 50 quilos de dinamite num carro sem motorista atirado contra um Quartel do Exército e teve seu corpo espalhado a metros de distancia totalmente dilacerado.

Essa senhora não participou do ato e não pertencia a esse grupo, porém, por ser integrante de outro grupo que depois se aliou ao VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) compartilhou, endossou, se tornou co-responsável e principalmente cúmplice desse assassinato que nada tem a ver com luta pela democracia como se alegava na época da ditadura. Assassinatos, seqüestros, roubos a bancos, roubos a residências, eram ações de um bando que acabou sendo anistiado por esse último governo e afora isso indenizado com vultosas quantias, enquanto um dos nossos heróis ficou esquecido, com sua história apagada como se ele fosse um inimigo a ser abatido.

Mário Kozel Filho é seu nome

Em junho de 1968, aos 19 anos de idade seu corpo foi dilacerado por uma bomba atirada pelo grupo Vanguarda Popular Revolucionária ao Quartel General do II Exército localizado no bairro de Ibirapuera em São Paulo, durante o Regime militar no Brasil. O Presidente na época era o Marechal Costa e Silva.

Eu, prestes há completar 20 anos, havia dado baixa do Exército poucos meses antes. Não conheci o soldado Mário, mas, por ter realizado o mesmo trabalho que ele fazia por mais de um ano, de sentinela da guarda, tenho a certeza de que morreu um cidadão absolutamente inocente, isento de qualquer responsabilidade pelo que o País passava naquele momento. Não havia porque fazer o que fizeram e da forma como fizeram, apenas para chamar a atenção e registrar um ato de oposição ao Regime imposto até então.

Os autores foram membros da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), uma das organizações de esquerda que lutaram contra a ditadura no período 68/71. Foi uma organização formada por dissidentes da POLOP (Política Operária) e antigos militares brizolistas do MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário) sendo que seu agrupamento inicial começou em 1966, tendo o ex-sargento do exército Onofre Pinto por trás de sua articulação. Foi Onofre quem comandou a execução do capitão norte-americano Charles Rodney Chandler , em 1968 , acusado de ser "professor" de tortura a militares brasileiros.


No inicio de 1969 se incorporou à organização o capitão do exército Carlos Lamarca, que desertara do quartel de Quitaúna, levando mais de 50 fuzis FAL (Fuzil Automático Leve), A VPR era de ideologia Marxista, e seus militantes eram muito disciplinados (talvez por haver muitos militares no grupo).

Os assaltos a bancos e as expropriações feitas pela VPR no começo de 1969, fizeram com que a VPR se tornasse bem conhecida da repressão que, por sua vez estava com as prisões cheias depois da decretação do AI-5. Pensando em se tornar ainda maior, a VPR numa fusão com a COLINA (Comando de Libertação Nacional), forma a VA-PALMARES (Vanguarda Armada Revolucionária - Palmares). Essa fusão foi feita num congresso realizado em julho de 1969. A eleita Dilma Roussef pertencia aos quadros da Va-Palmares.

Mas, voltando ao soldado Mário Kozel Filho, um grupo de onze militantes da VPR, comandados por Diógenes José Carvalho de Oliveira, Pedro Lobo de Oliveira e José Ronaldo Tavares de Lira e Silva, lançaram um carro-bomba, sem motorista, contra o Quartel General do II Exército, no bairro de Ibirapuera. A guarda disparou contra o veículo, que bateu na parede externa do Quartel General. Mário correu em direção ao carro (sem saber que era um carro bomba) para saber se havia feridos. A carga com 50 quilos de dinamite explodiu em seguida, atingindo uma área de raio de 300 metros. O corpo de Mário Kozel Filho foi despedaçado e saíram feridos gravemente outros seis militares. No atentado foram utilizados três automóveis Volks-Fusca uma caminhonete. Não houve mais vitimas apenas em razão de o carro-bomba não ter penetrado no QG e ter batido antes em um poste.

Faziam parte dessa ação os seguintes integrantes: Waldir Carlos Sarapu, Wilson Egídio Fava, Onofre Pinto, Diógenes José Carvalho de Oliveira, José Araújo de Nóbrega, Oswaldo Antônio dos Santos, Dulce de Souza Maia, Renata Ferraz Guerra de Andrade, José Ronaldo Tavares de Lira e Silva, Pedro Lobo de Oliveira, Eduardo Collen Leite. Muitos já tentaram alegar que a Dulce de Souza (que aparece na lista) teria sido, na verdade, a eleita Presidente da República Dilma Roussef. Mas, não se trata da mesma pessoa.

Isso, no entanto, não apaga o fato de ter pertencido a uma organização guerrilheira que usou roubos, seqüestros, mortes para defender a tal “democracia” como costuma ser alegado por eles. Relembre-se o famoso roubo de US$ 2 milhões da casa da amante do ex-governador paulista Adhemar de Barros. Nunca se ouviu falar que esse dinheiro, oriundo de corrupção, tivesse sido devolvido aos cofres públicos ou gasto tão somente com a “revolução”. Para livrar companheiros de guerrilha presos pelo Exército, como o caso do Chizuo Ozava, não hesitaram em seqüestrar o cônsul japonês Nobuo Okuchi. Assim como ocorreu o seqüestro do embaixador alemão para soltura de 40 guerrilheiros e depois, o do embaixador suíço, além de dezenas e dezenas de assaltos a bancos com intuito de arrecadar dinheiro para realizar operações. Na maioria dos casos tudo era praticado contra gente inocente, tão vitimas do regime como eles.

Mário Kozel Filho era um soldado cumpridor dos seus deveres, cidadão brasileiro que morreu em serviço, e que hoje se encontra totalmente esquecido. Além do esquecimento a Comissão dos Mortos e Desaparecidos que já concedera vultosas indenizações às famílias de muitos terroristas que nunca foram considerados desaparecidos, (todos os acima citados tiveram seus processos de indenização deferidos) resolveu indenizar, também, a família Lamarca, numa evidente provocação às Forças Armadas e desrespeito às famílias de Mário Kozel Filho e de muitos outros que com ele morreram em conseqüência de atos terroristas.

Em 1968 teve sua admissão ao grau de Cavaleiro no quadro do Corpo de Graduados dos Efetivos do Exército Brasileiro sendo promovido “post-mortem” a graduação de 3º Sargento. Apenas em 2003, portanto 34 anos depois da sua morte de forma covarde, seus pais foram indenizados com uma pensão mensal de R$ 300,00 (Trezentos reais) e aumentada depois de muita luta para R$ 1.200,00 (Hum mil e duzentos reais). Isso 34 anos depois. O Deputado Jair Bolsanaro tentou dar entrada em um projeto de lei promovendo o sargento Mário Kozel para capitão e assim melhorar seu soldo. Mas, não teve sucesso.

Diferente dos seus assassinos que ganharam benesses do governo com polpudas gratificações, por terem “lutado pela democracia”. Matar, roubar seqüestrar, manusear armas, fazem parte da conquista da democracia.

Hoje o País concede mais uma demonstração de que não existe memória. Alguém que realizou esse tipo de trabalho, que passou grande parte de sua vida executando esse tipo de trabalho e principalmente com esse tipo de consciência, se torna Presidente da República. Endossa-se, assim, todos seus atos criminosos (pelo que se sabe, assassinar, roubar, seqüestrar sempre estiveram no Código Penal Brasileiro enquadrados como crimes). Todos eles estão perdoados e premiados com o mais alto posto que alguém, num país republicano pode alcançar. Essa senhora que irá sentar na cadeira presidencial endossou o assassinato de um herói e foi perdoada.

A você, Mário Kozel Filho, a minha continência, como uma homenagem simples de um também ex-soldado do Exército Brasileiro, que serviu no seu mesmo Quartel e que poderia ter sido o alvo como outros tantos companheiros dessa sandice, provocado por bandidos, criminosos e não defensores da democracia. Que você onde estiver tente descansar em paz apesar do esquecimento de muitos de um herói nacional.

(*) Aposentado, hoje comerciante emorador em Santarém (PA)

Um comentário:

  1. Olá Antenor.
    Parabéns pela bela e esclarecedora matéria.
    Os fatos que antecederam e culminaram com o Golpe Militar de 1964 e todo o desenrolar da história até o fim da Ditadura Militar no Brasil, é um assunto que muito me fascina, no entanto nasci em 1963 e tudo o que minha geração sabe vem através da história contada por apenas um dos lados, ou seja, dos remanescentes e simpatizantes das organizações comunistas e partidos que por intermédio da luta armada tentaram tomar o poder. Obviamente a historia dos “anos de chumbo” é narrada segundo a conveniência e ótica dessas pessoas de forma que muitos fatos podem ter sidos omitidos ou até distorcidos. Minha preocupação é que o tempo está passando, e a idade avançada já chegou para os jovens e adultos daquela época. E aí quem poderá trazer a luz da verdade aos fatos?
    Estou tentando no meu blog, resgatar um pouco da história, não pelas obras que temos disponíveis, mas através de pessoas como voce, que viveram tudo e que podem contar em pequenos trechos da própria vida, um pouco da história de nosso país.
    Quado tiver oportunidade dá uma olhada no meu blog e se possível nos dê a honra de um depoimento, tenho a certeza de que será muito esclarecedor.
    www.naoaditaduracomunista.blogspot.com

    Um grande abraço
    João Luis da Costa Santos

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