Produção de óleo de palma é desafio para o Brasil
O cultivo da palma na Amazônia traz benefícios ecológicos e econômicos, mas a expansão deve ser realizada com prudência.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEKqhZbKQ8euLRfpb1xjQ_sYqwy5DKt6rvdytWMpzpviOUTc8X80ph80L36-oBYaI2x7MsOP447YsRK_7JcmcMY9TmcYkU2Lx-ZRSJmSG0y-Cbnsuxn11E29ayKtHZBcomGeZdnbIa1K8/s200/oleo.jpg)
O Governo Federal anunciou, ano passado, que viabilizará uma expansão agressiva para o cultivo da palma, disponibilizando R$ 60 milhões por meio do Programa de Produção Sustentável do Óleo de Palma para pesquisa e inovação.
A meta proposta é atingir o cultivo de cinco milhões de hectares até 2020, ma s especialistas da área informam que não há meios de alcançá-la no período.
Marcello Brito, diretor comercial e de sustentabilidade do Grupo Agropalma, maior produtor de óleo de palma da América Latina, acredita que em dez anos se cultive cerca de 500 mil hectares.
O óleo de palma é muito conhecido por servir de matéria-prima para a indústria alimentícia, de cosméticos e para agroenergia. Seja pela substituição à gordura trans ou pela produção do biodiesel, nos últimos anos se ouve falar cada vez mais sobre o produto, mas pouco se sabe sobre os fatores envolvidos no processo.
O Brasil quer entrar no circuito dos grandes produtores mundiais dessa commodity, que hoje é o óleo vegetal mais produzido e consumido no mundo, e representar sozinho mais de um terço do mercado mundial.
“Existe um imenso potencial para que o país se torne um gigante no setor em longo prazo. O Brasil possui a maior área cultivável para a cultura da palma no Planeta, são dois milhões de quilômetros quadrados, segundo a Embrapa, mais do que a somatória do terreno de todos os outros países produtores do mundo juntos. Mas, na verdade, a estimativa deve ser baseada na disponibilidade das sementes e no trabalho realizado durante o processo do cultivo da palma e da extração do óleo, pois trata-se de uma atividade agroindustrial complexa, que demanda uma série de conhecimentos técnicos”, explica Brito.
Outro fator competitivo que favorece o Brasil na concorrência com o Sudeste Asiático, região que mais produz o óleo no mundo, é a proximidade com os EUA e a Europa, consumidores em potencial.
Mas o grande motivo que explica as chances do país ser o principal produtor de óleo de palma do mundo, futuramente, é que a palma é uma cultura que cresce nos trópicos úmidos, acompanhando a linha do Equador.
O que também é um grande perigo, pois as áreas propícias para a palma encontram-se no bioma amazônico. Assim, o cultivo em larga escala deve ser realizado com cautela.
“Nesse processo tão almejado de expansão, é preciso estar atento a problemas previstos que surgem neste setor, como expropriação de terras, plantios sem as devidas licenças, terras sem documentação, desmatamento ilegal, queimadas, migração forçada, entre outros problemas sociais e ambientais que podem se desencadear num futuro próximo”, esclarece o diretor.
Se esse processo de expansão for realizado da maneira correta, o cultivo da palma pode ser a peça chave na luta pela pres ervação da floresta Amazônica.
Os pastos e zonas devastadas seriam substituídos pelas plantações, dando valor a terras em desuso, contribuindo com o clima, o ecossistema e inclusive a compensação do carbono. Além disso, geraria mais empregos (agricultura familiar) e receitas fiscais do que a atual forma dominante do uso de terras na região, o gado.
Uma produção responsável poderia estimular a mesma ação em outras partes do mundo. Para isso, o cultivo deve ser baseado na sustentabilidade.
“Não existe agricultura ou qualquer atividade humana 100% sustentável ou que não traga consigo impactos socioambientais, mas pode haver, sim, aquelas em que esse pode ser controlado em favor do ser humano e da biodiversidade. Se as novas plantações começarem sob as diretrizes da RSPO – Roundtable on Sustainable Palm Oil (Mesa Redonda da Palma Sustentável) e das leis brasileiras, podemos ser parte da solução sustentável para a Amazônia, mas uma abordagem estritamente mercadológica poderia destruí-la”, completa Brito.
A RSPO é uma Organização Não Governamental criada em 2003, que congrega plantadores, processadores, ONGs ambientais e sociais, cadeias de supermercados, bancos e fabricantes de bens de consumo, que juntos trazem o debate para um nível jamais visto numa cultura agrícola no mundo, a fim de orientar e estimular a produção sustentável do óleo de palma.
Com o suporte desses participantes técnicos, pesquisadores e experts das áreas que compõem a cadeia de custódia da palma, foi desenvolvido um pacote com princípios, critérios e indicadores sociais, ambientais, técnicos e econômicos que, agregados, fazem parte do processo de certificação da palma sustentável da RSPO (www.rspo.com.br ).
Nenhum comentário:
Postar um comentário