segunda-feira, 18 de julho de 2011

Divisão do Pará (8)

Sentimento antigo das elites, e não do povo, move divisão do Pará, diz cientista político

Uol Noticias

A proposta de criação dos Estados de Carajás e Tapajós reflete o sentimento de uma elite regional e não se relaciona com uma demanda popular, segundo a avaliação do cientista político Roberto Corrêa, da UFPA (Universidade Federal do Pará). Em dezembro, todos os eleitores do Pará serão consultados, em plebiscito, sobre a divisão territorial do Estado.

“Território e política andam juntos. A divisão do Pará representa o sentimento de uma elite regional econômica que busca mais poder político, mais autonomia com relação a Belém. O povo sempre esteve alheio a essa questão”, diz o cientista político, autor de um estudo, encomendado pelo governo do Estado via Idesp (Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental), no qual apontou como ficaria o mapa político caso a criação de Carajás e Tapajós aconteça.

Segundo Corrêa, as ambições separatistas no sul do Pará existem desde o final do século 19, mas começaram a ganhar força na década de 70, quando o governo militar incentivou a ocupação da região por meio de grandes obras --rodovias Belém-Brasília e Transamazônica-- ou de fronteiras agrícolas.

“Com o Banco da Amazônia, financiaram a chegada de empresários, o agronegócio e recrutaram mão-de-obra, sobretudo no Nordeste, sob o slogan ‘homens sem-terra do Nordeste para terras sem homens na Amazônia’. Ora, essa região foi ocupada por pessoas de vários cantos do país, com outro tipo de cultura. Não há o sentimento e o espírito do Pará em Carajás”, afirma.

Na década de 80, uma nova leva de migrantes chegou a Carajás na corrida pelo ouro em Serra Pelada. Em 1982, a criação do Programa Grande Carajás e a chegada da Vale do Rio Doce na região atraíram mais migrantes para os municípios da região. Com as ondas migratórias e a chegada de grandes agricultores, o cenário de Carajás a partir da década 80 mudou drasticamente.

Atualmente, a região tem mais de 1,4 milhão de habitantes (18% da população do Pará) e um PIB (Produto Interno Bruto) de R$ 19,6 bilhões, o que representa quase 30% do produto do Pará. Em Carajás está a maior reserva mineral do mundo, contendo minério de ferro de alto teor, estanho, bauxita, manganês, cobre e níquel. A reserva é explorada pela Vale, hoje a maior empresa privada do país e uma das maiores mineradoras do mundo.

Apesar da riqueza, Carajás é uma das regiões mais violentas do país e detém índices acentuados de pobreza. Se for separado do Pará, Carajás terá o maior índice de homicídios entre todas as unidades federativas e será o Estado com maior número de mortes no campo.

Em Tapajós, o movimento emancipacionista existe desde a primeira metade do século 19, quando a cidade de Santarém, a maior da região, era uma comarca do Grão-Pará, assim como Belém e Manaus. Desde então, as elites políticas e econômicas da região tentaram em várias oportunidades a separação.

De acordo com Corrêa, diferentemente de Carajás, a ocupação do território dos Tapajós é antiga e teve início praticamente na mesma época que em Belém. “A região conserva o espírito antigo, original do Pará. Em Tapajós a cultura é praticamente a mesma desde o século 19 e está muito ligada ao rio [Tapajós] e à floresta”, diz.

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