Opinião do Estadão
A competitividade do agronegócio tem assegurado resultados cada vez melhores à balança comercial brasileira. Nos seis primeiros meses de 2011, o agronegócio gerou um superávit de US$ 34,7 bilhões, 20,5% maior do que no primeiro semestre de 2010. Desse modo, o setor manteve seu papel como principal responsável pela geração do superávit comercial do País, pois o saldo acumulado dos demais produtos - como minérios, petróleo e seus derivados, outras commodities não agrícolas e produtos semimanufaturados e manufaturados não derivados de produtos agropecuários - foi negativo em US$ 21,7 bilhões. Daí o superávit de US$ 13 bilhões de toda a balança comercial nos primeiros seis meses do ano.
Relatório do Ministério da Agricultura mostra que o bom resultado se deveu ao aumento das exportações do complexo soja (grão, farelo e óleo), carnes, complexo sucroalcooleiro (açúcar e álcool), que responderam por 82,4% do total de US$ 43,1 bilhões de produtos agropecuários exportados no primeiro semestre. Se o desempenho exportador do agronegócio no segundo semestre repetir o do primeiro, ou produzir resultados aproximados, o total das exportações em 2011 será bem maior do que o recorde exportado em 2010, de US$ 76,4 bilhões.
De qualquer forma, o resultado é auspicioso, pois o superávit do agronegócio compensa, com grande folga, os déficits comerciais de outros segmentos da economia - sobretudo os de importantes setores da indústria, como o eletroeletrônico e o de máquinas -, assegurando um saldo comercial bastante confortável para o País.
É a consequência da competitividade de um setor produtivo que, de certo modo desdenhado pelas políticas públicas adotadas há três ou quatro décadas - sempre focadas no estímulo ao crescimento e à diversificação do setor industrial -, soube superar suas dificuldades por meio do uso de variedades adequadas e das tecnologias mais produtivas, além de recursos gerenciais cada vez mais modernos.
O contínuo e vigoroso avanço da produtividade tem permitido a expansão rápida da produção agrícola, sem um aumento da área ocupada na mesma velocidade. Os ganhos que vão se consolidando, e dos quais o notável aumento das exportações é uma demonstração, são a consequência das mudanças ocorridas no campo.
Os números relativos às exportações chegam a surpreender, pois, além da taxa de câmbio desfavorável, ainda persistem muitos fatores internos e externos que reduzem a competitividade do produto brasileiro no exterior - alguns dos quais de grande impacto econômico.
No plano externo, a manutenção de subsídios excessivos aos produtores rurais em muitos países industrializados dificulta a entrada de produtos brasileiros em seus mercados. Medidas protecionistas - algumas disfarçadas, como o uso de regras sanitárias exageradas - são outro obstáculo às exportações do agronegócio brasileiro.
Internamente, além de suportar o ônus de um sistema tributário complexo e caro demais, o produtor enfrenta problemas sérios na infraestrutura. Por falta de ferrovias e hidrovias, a soja de Mato Grosso é transportada até os portos por rodovias. É um meio de transporte mais caro e, sobretudo, mais arriscado, por causa das péssimas condições das estradas. Não causa estranheza, por isso, que o frete da soja de exportação no Brasil seja quatro vezes maior do que nos EUA, onde se utilizam intensamente as hidrovias. Tendo transportado sua safra até o porto, o produtor ainda arca com ônus adicionais decorrentes da baixa qualidade dos serviços portuários, que impõe perdas no volume exportado e custos em razão da demora do carregamento do produto nos navios.
Como, apesar de todos esses obstáculos, crescem as exportações do agronegócio, e a velocidades cada vez maiores, fica claro que sua competitividade é assegurada antes de a produção deixar seu local de origem. Ou seja, o produtor é o grande responsável por isso. As perdas começam quando o esforço exportador passa a depender do governo, ao qual competiria assegurar a infraestrutura e as condições adequadas, mas não o faz.
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