quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O dinheiro do esporte: há fartura, mas falta gestão

José Cruz (*)

De nada vale ter recursos orçamentários se o gestor não é competente. Exemplo? Vejam aí abaixo, com dados oficiais:
O Ministério do Esporte tem R$ 1,6 bilhão para gastar este ano. Até agora, setembro, conseguiu executar apenas R$ 485 milhões, isto é, gastou míseros 30% do dinheiro disponível.
Pior: se voltarmos no tempo vamos constatar que o mesmo Ministério é muito irresponsável – é o termo correto – para cuidar do dinheiro público.

No ano passado, a pasta do ministro Orlando Silva, teve R$ 1,5 bilhão disponível, mas aplicou somente R$ 485 milhões, ou seja, executou 37% de seu orçamento.
Reparem bem, 30%. Não teve projetos ou executores capazes de chegar à metade do dinheiro que estava disponível. Inacreditável!

Faço esta análise a partir da reportagem de Leandro Kleber publicado no site da ONG Contas Abertas (www.contasabertas.com.br) , para a qual fiz chamada preliminar na mensagem anterior.

Aumento
As questões orçamentárias são complexas e sempre peço socorre ao pessoal do Contas Abertas para tornar mais fácil o entendimento, meu e do leitor.
Então, vamos lá:
No ano passado estavam previstos R$ 407 milhões para o Esporte, mas com as emendas dos parlamentares chegou a R$ 1,6 bilhão, quatro vezes mais. O mesmo deverá ocorrer este ano com vistas a 2011.

Emendas é o dinheiro que os parlamentares federais pegam dos cofres públicos para construir uma quadra de basquete, um ginásio, uma sala atrás da igreja etc, em suas respectivas regiões.
E o governo libera esse dinheiro em tempos de votação de seus projetos em plenário. 
Se votar a favor, leva o dinheiro da emenda. É assim que funciona, toma lá dá cá. 
Ou é dando que se recebe.

É assim que funciona a independência dos poderes, trocando dinheiro público por votos. Bah, que democracia!!!

Segue o baile
Bueno, mas vamos aos gastos para 2011, quando o orçamento do Ministério do Esporte crescerá três vezes.
R$ 1,3 bilhão vai para pagamento de pessoal, água, luz, telefone, pessoal terceirizado etc.

Quer dizer, o Ministério não executa quase nada, mas paga muita gente e contrata outro tanto. Como se trata de esportes, é um saudável cabide de empregos.

Bolsa Atleta
Este ano o governo gastará (espera-se) R$ 67,7 milhões.
Em 2010 serão R$ 843 milhões, 12 vezes mais.
E tem outros R$ 40 milhões para pagar mais três mil bolsas do projeto Brasil Campeão.

Seguinte:
Dia 20 ou 21, o governo federal lançará um pacote para incentivar o desenvolvimento do esporte. Estou preparando reportagem sobre o assunto.
E lançará novas bolsas além das três mil que já paga anualmente.
Se destinarão a atletas com potencial para estar nas Olimpíadas de 2012, em Londres, e 2016, no Rio de Janeiro.

Quer dizer se o Ministério conseguir executar o seu orçamento e o dinheiro chegar de fato aos atletas, teremos um time de primeira.
Ah sim! E ainda há recursos das sete estatais injetando grana no esporte olímpico e paraolímpico – Banco do Brasil, Correios, Caixa, Petrobras, Infraero, Casa da Moeda e Eletrobrás .

E mais dinheiro da Lei das Loterias (10.264/2001), que em 2009 rendeu R$ 120 milhões ao COB.
Ah! Já estava me esquecendo dos R$ 300 milhões anuais da Lei de Incentivo ao Esporte.
Brasil, potência olímpica!
Dinheiro não falta para tanto.
Agora vai?

Bem, depende do gestor, dos programas, dos projetos, das prioridades, dos entendimentos entre os órgãos que recebem a grana.
Depende de muita coisa, Gente.
Não adianta dinheiro farto se nos faltam metas, prioridades e, principalmente, gestor competente.
Nisso, estamos longe do pódio.

(*) Jornalista> Cobre há mais de 20 anos os bastidores da política e economia do esporte.

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