Duas pesquisas recentes reavivam a memória sobre temas relativos aos chamados transtornos afetivos, felizmente cada vez mais debatidos, mas nem por isso suficientemente esclarecidos.
Menos mal que compulsão, ansiedade, depressão, assim como outras particularidades da mente humana, tenham deixado, há bom tempo, de ser classificadas como psicoses, loucura. Muito embora tomar remédio de "tarja preta" siga sendo um estigma alimentado por indivíduos preconceituosos e/ou mal informados.
Mas o fato é que duas pesquisas nos remetem ao universo das compulsões e da depressão.
Começando por esta última, um estudo realizado pelo Medical Research Council, em Londres, demonstrou que casais que concebem filhos possuem maiores riscos de desenvolver depressão, principalmente no primeiro ano de vida da criança.
Note bem: casais. Não é o caso, portanto, da conhecida depressão pós-parto que acomete as mulheres recém saídas do episódio sem dúvida nenhuma traumático (seja qual for o grau do trauma) de dar à luz uma criança, com toda a dor, a angústia, o medo e também a euforia e felicidade que isso propicia. Não é difícil entender, assim, que uma mulher possa, recém passada esta experiência, mergulhar em estado depressivo, chegando, em muitos casos, a rejeitas o filho, quando não colocando a vida do mesmo em risco.
Mas a "novidade" aqui é a constatação segundo a qual o pai também se deprime. Menos, claro, que a mulher (1/3 das mães, contra 1/5 dos pais), mas também pode enfrentar sintomas como choro e tristeza sem motivo, irritabilidade, intolerância em relação ao parceiro, insônia e agressividade.
O estudo relaciona, como justificativa para o advento do transtorno, a mudança da rotina do casal, a inexperiência em lidar com um recém nascido, diminuição do período de sono e das relações íntimas com a parceira, ansiedade (medo) em relação ao futuro. Mas não leva em consideração, o que não nos impede de especular a respeito, se este homem aqui já tinha algum tipo de propensão à depressão, servindo a chegada do filho apenas de gatilho para que os problemas se desencadeassem de vez.
O que ocorre, dizem especialistas com quem conversei, com boa parte dos casos de depressão em geral, independente de filhos ou de "gatilhos" dessa natureza: bastaria algum pequeno evento para que o estado depressivo se instalasse. Talvez evento nenhum: a tristeza e a perda da vontade de viver apenas se instala, e ponto.
Esta pesquisa é útil, sem dúvida, para ampliar o conhecimento sobre este mal, contribuindo para que as barreiras do entendimento sejam ampliadas e do preconceito, derrubadas.
Não é possível que a depressão ainda esteja, para muita gente, em um dos extremos: frescura ou loucura. Ela está arraigada na sociedade contemporânea como uma alteração de comportamento, e assim precisa ser compreendida e tratada, em nome da qualidade de vida.
A outra pesquisa a que me referi é ainda mais contemporânea e um pouco mais assustadora: nada menos que 4 milhões de brasileiros têm uma relação doentia com o jogo, informa estudo do psiquiatra Hermano Tavares, coordenador do ambulatório de jogo patológico do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Pouco menos da metade deste número preenche todos os critérios para a doença e pouco mais que a metade apresenta uma relação nociva com os jogos de azar. Ou seja, jogam muito, sempre, sem limites, muitas vezes perdendo tudo, inclusive a própria dignidade.
E olha a depressão por aqui novamente: de acordo com o pesquisador, é comum que o jogador viciado desenvolva, paralelamente à patologia, doenças como ansiedade e depressão.
Outro detalhe da pesquisa que chamou a atenção refere-se a compulsividade em relação ao jogo desenvolveu-se por meio da internet.
Ou seja, creio: compulsão leva à compulsão, e a compulsão por jogos pela internet acabam levando a outros tipos de jogos e ao vício.
Bem, basta olhar à sua volta, no trabalho, em casa ou na escolha, para entender este ponto da questão: quem não conhece alguém ligado compulsivamente à internet ganha um doce.
Acredito, a partir disso tudo, que é apenas uma questão de tempo para que alguma pesquisa séria mostre que o uso dos chamados smart-phones, ou computadores de mão, impacta fortemente na qualidade de vida e na qualidade da relação de muita gente.
Esses aparelhinhos fantásticos e suas possibilidades maravilhosas se multiplicam alucinadamente, ganham cada vez mais adeptos e abrem todas as portas para o mundo.
Mas também deixam brechas por onde podem passar facilmente a compulsão, o vício e, por que não?, a depressão.
Alguém duvida?
(*) Jornalista, Produtor Cultural e Consultor na Area de Comunicação Ccorporativa.
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