sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Brasileirão bate recorde de esculhambação

André Barcinski (*)

É impressão minha, ou este Brasileirão está uma bagunça?
Bom, sempre foi uma bagunça, mas este ano está particularmente esculhambado.
Não há um dia sequer sem uma notícia de mudança de data, ou mudança de local, ou mudança de horário, ou mudança de alguma coisa.

Ontem, Mano Menezes convocou a Seleção para mais dois amistosos caça-níqueis do Ricardo Teixeira, daqui a 15 dias.
Serão dois jogos tão vagabundos e sem importância que nem a CBF sabe ainda com quem o Brasil jogará.
Mano foi democrático, e prejudicou todos os líderes do Brasileirão igualmente: tirou Elias do Corinthians, Giuliano do Internacional, Mariano do Fluminense, Jefferson do Botafogo, Victor do Grêmio e Neto do Atlético-PR.
Só não convocou o Neymar por conta dos chiliques e o Montillo, do Cruzeiro, porque é argentino.

São jogadores importantes, que ficarão de fora num período crucial do campeonato.
Se eu fosse presidente de qualquer dos clubes acima, dava uma banana pro Mano e pra CBF. Não liberaria jogador nenhum pra jogar pelada na Europa.

Especialistas trabalham dia e noite para tratar o gramado do Engenhão
E as obras para a Copa estão acabando com o Brasileirão.
O Cruzeiro vive num bate e volta entre Sete Lagoas e Uberlândia. Marcou jogos para Uberlândia, mesmo com o estádio interditado por falta de alvará.
E os times do Rio?
Flamengo joga em Volta Redonda, com pouco mais de 3 mil pagantes. Três mil? Num jogo do Flamengo?
E o Engenhão não dá. Nem os botafoguenses aguentam aquilo lá. Tanto que Vasco x Botafogo deu 14 mil pagantes. O Fla x Flu deu menos de 16 mil pessoas. E Flu x Atlético-MG, pouco mais de 4 mil.

É engraçado ver os comentaristas da Globo implorando aos torcedores para ir ao Engenhão. No Flu x Atlético, o gente boa Luiz Roberto disse que era “um dos estádios mais simpáticos e gostosos de ir”.
Gostoso pra você, meu amigo, que vai de van da Globo e fica no camarote. Tente sair de lá às 11 da noite e achar uma condução. É mais fácil achar uma barra de ouro na rua.

E o gramado do Engenhão? Parece uma trincheira da Primeira Guerra. Tem mais areia que o deserto de Lawrence da Arábia.
No jogo com o Vasco, Maicosuel, do Botafogo, ia marcar o gol, mas chutou um buraco, torceu o joelho e saiu de maca. Só volta ano que vem.
Foi lá também que Fred, do Flu, se machucou. Está há dois meses parado.
O Engenhão deveria ser patrocinado por alguma clínica de traumato ortopedia. Quem joga lá ganha um vale-estiramento.

E os horários dos jogos? Precisa ser o Chico Xavier pra adivinhar. Tem dia com jogos às 19h30, 21h e 22h. Liguei a TV pra ver Vasco x Botafogo e percebi que tinha perdido metade do jogo.
Se a Globo mandar, a CBF faz até um jogo na sessão coruja, às 2 da manhã, depois do Jô.
Será que é muito difícil pensar numa tabela já antecipando, por exemplo, que o Corinthians vai completar cem anos? Ou será que ninguém da CBF lembrava da data?

Pra finalizar, a cereja do bolo: a Conmebol anuncia, depois de 2/3 do Brasileirão, que teremos um time a menos na Libertadores.
Será que não dava pra ter resolvido isso antes do início do campeonato? Ou já estamos tão acostumados com regras que mudam de repente que nem nos surpreendemos mais?

(*) Crítico da Folha de São Paulo

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