Eliane Cantanhêde (*)
A eleição ainda nem acabou, e o Datafolha reabre a possibilidade de haver segundo turno, mas Aécio Neves já fala como líder do que seria, digamos, a nova oposição que vem por aí, caso se confirme a vitória de Dilma Rousseff.
Aécio tem razão quando diagnostica uma "sucessão geracional" no PSDB. Fernando Henrique é o venerável do partido, José Serra enterra o sonho presidencial, Tasso Jereissati demonstra um certo cansaço político, Mário Covas, Franco Montoro e José Richa morreram. A fila anda.
Agora, é a vez dos "jovens" Geraldo Alckmin, que deve vencer no primeiro turno em São Paulo, Beto Richa, mesmo perdendo no Paraná, e o próprio Aécio, que vai ter uma das principais vitórias desta eleição, irá disputar a presidência do Senado e assumir quase que naturalmente a liderança tucana. Ele é o político mais hábil e de maior potencial de sua geração.
O problema é como será esse tal PSDB renovado e como será essa tal de oposição aos frangalhos, com o DEM e o PPS a caminho do ocaso. A grande vantagem de Aécio é que ele não tem fronteiras, tem abertura e diálogo com todos. A grande desvantagem é que talvez isso seja excessivamente suave diante do jogo bruto de um lulismo sem limites, com a perspectiva de se instalar por 20 anos no Planalto e disposto a se entranhar eternamente pela máquina pública, inclusive com seus Waldomiros e Erenices.
A primeira disputa tucana pós-eleição poderá ser entre Alckmin, por São Paulo, e Aécio, por Minas. Os dois não são de radicalizações e é possível que se entendam, atraindo juntos os aliados e ex-correligionários que foram ficando pelo caminho, a começar de Ciro Gomes, que pode trazer uma banda do PSB anti-Eduardo Campos, e de César e Rodrigo Maia, que vão precisar de uma bóia para o naufrágio do DEM. Isso fortaleceria o "novo PSDB" no Rio e no Nordeste.
A dúvida é quanto a liderança de José Serra, que tem passado, uma bonita história, é um homem público respeitado pela direita, pela esquerda e pelo centro e era, de fato, o candidato natural para a eleição de 2010. Mas... tem um temperamento incompatível com verdadeiros líderes. Políticos agregam, Serra desagrega. Políticos compõem, Serra rompe.
Passada a eleição, Dilma e Serra vão ter de conversar. Mas é bastante possível que o principal canal da oposição com um eventual governo Dilma seja Aécio. Para o governo, ótimo. Para a oposição, um perigo. É aí que se vai saber exatamente até que ponto Aécio é oposição, confirmando até que ponto eram verdadeiros os "boatos" de que há tempos ele é um amigável interlocutor dele.
Quanto à ida de Aécio para o PMDB, não faz o menor sentido. Logo agora, que o PSDB está caindo de maduro no colo dele?
(*) Jornalista e Colunista da Folha, desde 1997,
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