Augusto Nunes (*)
Nos anos 80, os campeonatos de futebol eram decididos pelo número de pontos perdidos e os debates eleitorais na TV eram decididos pelo volume de pontos ganhos. Nesta primavera, os times que disputam o Brasileirão são classificados pelo critério dos pontos ganhos e os candidatos à Presidência resolveram que o campeão será apontado pela contagem dos pontos perdidos. Os artistas dos gramados aprenderam a valorizar o ataque. Os atores dos palanques eletrônicos resolveram ensinar que o importante é a defesa.
No debate desta quinta-feira, José Serra terá a última chance para atirar ao lixo a estratégia obsessivamente defensiva. Se ficar trocando bolas com Marina Silva e Plínio de Arruda Sampaio, evitará tomar gols. Mas também não fará nenhum. Para fazê-los, terá de invadir a pequena área defendida por Dilma Rousseff e explorar os muitos flancos expostos. Por eles se chega à Receita Federal, à Casa Vil, à fábrica de dossiês criminosos ou ao clube dos cafajestes. Fora o resto.
As patifarias que envolvem Erenice Guerra, por exemplo, fizeram ligeiríssimas aparições nos últimos debates e vão perdendo espaço no noticiário político-policial. O escândalo não pode ser sepultado antes de concluída a autópsia que mal começou. Serra não precisa de mais que 30 segundos para que a veia sob o queixo da adversária comece a latejar.
Se tomar uma dose de audácia, pode informar aos milhões de espectadores que Erenice é a melhor amiga e o braço direito de Dilma Rousseff há cinco anos, registrar que há três coleciona delinquências e, sem rodeios, perguntar à adversária se sabia das bandalheiras na sala ao lado. Se Dilma disser que sim, confessará que é cúmplice. Se disser que não, merece ser convidada a rasgar a fantasia de gerente do Brasil que Lula criou.
Se algum miliciano acusá-lo de falta de cavalheirismo, Serra pode dizer que é melhor violar o manual de boas maneiras que atropelar o Código Penal.
(*) Ex-Diretor do Jornal do Brasil, do Jornal Gazeta Mercantil e Revista Forbes. Atualmente na Revista Veja.
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