Nesse periodo de euforia por se prever uma grande safra agrícola, tudo extasia, tudo brilha e até usam isso como alavancagem politica, mas esquecem daqueles que passam ano após ano, dia após dia, numa luta ferrenha para, pelo menos, continuar sobrevivendo.
O produtor rural.
Lamentavelmente quando falam de safras e colheitas, a grande mídia foca os olhos e as cameras apenas para os grande produtores, de grande áreas, esquecendo-se que a grande maioria dos produtores desse País, é formada por minis, pequenos e médios produtores rurais.
Mas, a todos eles que proporcionam ao nosso País ter uma agricultura de ponta, respeitada no mundo inteiro, rabisquei algumas palavras algum tempo atrás, para esses heróis que dentro de sua fazenda, do seu rancho, do seu sitio, são imbatíveis, mas após colocarem o pé fora dela para comercializarem e entregarem sua produções sofrem todo tipo de dificuldades, mas mesmo assim tomam tombos, levantam, superam e seguem em frente.
PRODUTOR RURAL – QUEM SE ATREVE A SÊ-LO?
Antenor Pereira Giovannini (*)
Durante 25 dos 38 anos trabalhados numa empresa agrícola tive oportunidade de andar muito por este país e quase que exclusivamente pelas regiões agrícolas, que não são poucas. Graças a esses milhões de brasileiros, assim como aos estrangeiros que para cá vieram ganhar seu pão de cada dia, nosso país se tornou essa potência agrícola de causar inveja ao resto do mundo. Inveja e, ao mesmo tempo, preocupação já que os demais países, via de regra precisam ser largamente financiados por verbas públicas para conseguir chegar aos patamares de produtividade deste nosso produtor brasileiro.
Confesso que, sob o prisma estritamente profissional nunca me dei muito bem com o chamado grande produtor. Refiro-me àqueles titulares de grandes áreas, solidamente estruturados, com condições de colher e estocar seus produtos, que já operavam além do seu tempo graças às suas condições financeiras e principalmente ao acesso aos financiamentos domésticos que nossos bancos anualmente concedem. Quase que sempre entrei em conflito com eles, especialmente em razão da postura habitualmente arrogante e um tanto prepotente, querendo impor regras nunca conciliatórias ou eqüitativas na negociação de seus produtos. A discussão quase nunca se prendia a apenas querer um preço melhor, mas, isto sim, condições gerais em que praticamente se pretendia inverter os papeis do comprador e do vendedor e criar uma quase submissão comercial. Por isso, sempre fui meio arredio e prevenido com ao menos uma parte desses chamados grandes produtores. Já com os considerados pequenos a conversa era de outro tipo bem diferente. Nunca faltou quem andasse alardeando aos quatro cantos que se tratava de imposição do grande comprador sobre o pequeno produtor. Muito pelo contrário. O fato de termos no nosso País um contingente muito maior de pequenos e médios produtores que de grandes obrigava a se ter uma postura equânime, exatamente para que todos recebessem um tratamento igualitário, adequado e justo.
Mas, não se trata de falar desse produtor apenas e tão somente sob o ponto de vista comercial. Minha admiração por esses bravos heróis sempre esteve baseada na atitude corajosa e perseverante de ir em busca dos seus ideais, de suas conquistas, de seus desejos de uma forma incansável, apesar das enormes dificuldades, das intermináveis barreiras que lhes são colocadas pelos mais diversos órgãos e setores da sociedade.
Cartórios, bancos, fornecedores de insumos e sementes, fornecedores de combustível, setores de transporte e logísticas e até os compradores do produto final, os obstáculos vão se sucedendo, alguns com aparência de serem intransponíveis.
Tudo é feito com muita luta e debaixo de muita pressão. Dificuldades relativas à documentação, ao cumprimento do compromisso da entrega do produto nos prazos estabelecidos, e principalmente pagamento de dívidas assumidas, esses fantasmas assombram essa gente sem trégua. Quantos, neste nosso imenso país de natureza essencialmente agrícola, refletem ao menos um pouco a respeito dessa luta diária pela sobrevivência empreendida por esses guerreiros do cotidiano? Quase ninguém dispensa sequer alguns poucos minutos para entender que a indústria dessa gente é a céu aberto.
Que antes de plantar seja lá o que for seus olhos se erguem e se fixam no alto a pedir chuva para afofar a terra e dar meios para que se desenvolva a vida na semente plantada. Vencida essa etapa, os olhos continuam voltados para cima pedindo que a chuva continue, mas seja amena e suficiente. E, logo em seguida, lá estão a pedir para que ela pare e proporcione condições necessárias para que seu produto entre em estágio de crescimento, maturação e, afinal, colheita. Então, a luta recomeça quando o produto é colocado no caminhão, ou numa simples carroça puxada por cavalo, burros ou bois que, ao som nostálgico do ranger das rodas busca freneticamente o comprador, fonte única dos recursos que permitirão tanto a continuidade da lavoura quanto o sustento da família.
Para os grandes produtores esse ciclo pode ser curto, alguns meses. Mas, para esses abnegados da vida rural, é um ciclo longo que invariavelmente dura um ano inteiro, sem chance ou tempo para descanso ou parada.
Olhando mais especificamente para a nossa região, chega a ser triste constatar que o produtor rural vem sendo ofendido com o título pejorativo de “sojeiro”, em razão da vinda dessa cultura para cá há alguns anos. Antes de tudo, quem se dedica ao plantio da soja é sojicultor e não “sojeiro” como se tem dito com flagrante desdém. Além disso, e, sobretudo, não há sojicultor por aqui, pelo simples fato de que não há como viver 365 dias por ano exclusivamente dessa cultura. Ninguém consegue isso nos dias atuais. Assim, além da injusta e indecente perseguição que eles sofrem por serem acusados de devastadores de floresta, embora jamais tenham derrubado uma árvore sequer para sua instalação, esses produtores são obrigados, por questão única de sobrevivência, a diversificar sua atividade, seja plantando milho, arroz, milheto, sorgo, painço, ou então criando frangos, patos, suínos, atuando com apicultura, fabricando rações, ou ainda transformando fruticultura em polpas. Em outras palavras, são polivalentes, se desdobram se multiplicam para sobreviver e manter aquilo que realmente são: Produtores Rurais.
Produtores Rurais, sim, com letra maiúscula é o que são esses lutadores incansáveis, por tudo que são obrigados a fazer para continuar suas atividades, desde fugir das provocações e acusações insanas a, e principalmente, ir atrás de seus sonhos.
Produtor Rural: alguém se habilita? Alguém se atreve a ser um deles?
(*) Aposentado e morador em Santarém
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