Clóvis Rossi (*)
Está se formando uma onda que vai transformar Anwar Al-Awlaki no novo Osama Bin Laden, o homem capaz de incendiar a mente de jovens muçulmanos a ponto de levá-los a atos de terrorismo.
Micro-perfil de Al-Awlaki: nasceu nos Estados Unidos, sim, nos Estados Unidos, mais exatamente no Estado do Novo México, em 1971. É portanto jovem, pouco menos de 40 anos. Pregou em San Diego, na Califórnia.
Sobre a sua pregação, o imã da mesquita local disse hoje à rede CNN que era jovem, simpático e falava inglês praticamente sem sotaque, o que cativava o público.
Detalhe relevante, que conecta Al-Awlaki a Bin Laden: frequentaram sua mesquita dois dos sequestradores dos aviões utilizados nos atentados de 11 de setembro de 2001, que derrubaram as Torres Gêmeas de Nova York, causaram tremendo estrago no Pentágono, para não mencionar o aparelho que caiu em terreno baldio.
Se alguém não lembra, os ataques de 11 de setembro são o grande cartão de visitas da Al Qaeda de Bin Laden.
Os contemporâneos de suas pregações dizem agora que Al-Awlaki considerava a violência um "dever religioso". Dizem também que tinha forte ressentimento pelo fato de que os jovens muçulmanos de segunda ou terceira geração no Ocidente estavam demasiado convertidos aos modos ocidentais.
Al-Awlaki mudou-se para o Iêmen em 2004 (é de família rica, filho de um ex-ministro iemenita).
Chegou a ser preso dois anos depois por, supostamente, ter conspirado para sequestrar o adido militar norte-americano nesse país que passou a ser o novo foco do terrorismo (ver texto do dia 29 de dezembro, Aumenta a lista dos países-problema).
A capacidade de persuasão de Al-Awlaki fica demonstrada pelo fato de que ele é acusado de ter sido o, digamos, conselheiro espiritual do major Nidal Malik Hasan, que matou 13 companheiros de farda e feriu outras 30 pessoas, ao sair disparando pelo Fort Hood (Texas), no dia 5 de novembro. O que parecia ser mais um caso de atiradores alucinados que aparecem com regularidade nos Estados Unidos acabou se revelando uma história de fanatismo religioso, induzido à distância.
Agora, aparece outro "fiel" convertido ao terrorismo por Al-Awlaki: o nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab, que tentou praticar um atentado no voo da Northwestern Amsterdã/Detroit, no dia de Natal, manteve um encontro com o pregador, na sua casa da província de Shabwa.
Mas o recrutamento de Abdulmutallab havia sido feito em Londres, quando ele era estudante do University College.
Os três personagens (Al-Awlaki, o major Nidal e o nigeriano) desmentem uma teoria com alguma popularidade, segundo a qual o recrutamento de fanáticos pela Al Qaeda se dá entre os muçulmanos marginalizados ou no Ocidente ou nos próprios países de origem. Os três não tinham nada de marginalizados: Abdulmutallab é filho de banqueiro; Al-Awlaki é de família rica; e o major, além de toda uma carreira militar, completou sua residência em psiquiatria no Centro Médico Walter Reed, do Exército, instituto de excelência.
A rede CNN que dedicou bom tempo a Al-Awlaki em seu noticiário mandou uma repórter ao Iêmen atrás dele. Claro que não o encontrou, mas a informação da família é que está vivo, em paradeiro incerto --como Bin Laden.
(*) Jornalista é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha de São Paulo. É autor, entre outras obras, de "Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo e "O Que é Jornalismo". E-mail: crossi@uol.com.br
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