quinta-feira, 27 de junho de 2013

Cadê o Lula?

Eliane Cantanhêde (*) 

Acossados pela pressão popular, Executivo, Legislativo e Judiciário sacodem e despertam num estalar de dedos, ou em votações simbólicas, uma lista quilométrica de reivindicações adormecidas. Além do tomate, há um outro grande ausente: o ex-presidente Lula. 

O Brasil está de pernas para o ar e os Poderes estão atônitos diante da maior manifestação em décadas, mas o personagem mais popular do país, famoso no mundo inteiro, praticamente não disse nada até ontem. 

Confirma assim uma sábia ironia do senador e ex-petista Cristovam Buarque: "Tudo o que é bom foi Lula quem fez; o que dá errado a culpa é dos outros". Hoje, a "outra" é Dilma Rousseff, herdeira do que houve de bom e de ruim na era Lula. 

Na estreia de Haddad, Lula roubou a cena e a foto, refastelado no centro da mesa, dando ordens e assumindo a vitória como sua. Nos melhores momentos de Dilma, lá está Lula exibindo a própria genialidade até na escolha da sucessora. E agora? 

Haddad foi obrigado a engolir o recuo das passagens, Dilma se atrapalha, errática, sem rumo. Nessas horas, cadê o padrinho? O que ele tem a dizer ao mais de 1 milhão de pessoas que estão nas ruas e, especialmente, aos 80% que o veneram no país? 

Goste-se ou não de FHC, concorde-se ou não com o que diz, ele se expõe, analisa, dá sua cota de responsabilidade para o debate. Dá a cara a tapa, digamos assim. Já Lula, como no mensalão, não sabe, não viu. 

Desde o estouro das primeiras pipocas, afundou-se no sofá e dali não saiu mais, nem para ouvir a voz rouca das ruas. Recolheu-se, preservou-se, deixou o pau quebrar sem se envolver. As festas pelo aniversário do PT e pelos dez anos do partido no poder? Não se fala mais nisso. 

Como marido e mulher, companheiros e partidários prometem lealdade "na alegria e na tristeza". Mas isso soa meio antiquado e Lula é pós-moderno. Deve estar se preparando para quando o Carnaval chegar. 

(*) Jornalista é colunista da Folha de São Paulo

3 comentários:

  1. Pelo que temos visto, lealdade (para com os "amigos") não é o forte de Lula. Nem o enfrentamento público de situações adversas. Mas falando do "desaparecimento" de Lula, cadê o Sarney? Cadê o Renan? Cadê o Maluf? Cadê o Barbalho? Cadê o Collor? Cadê o Jesuíno? Cadê o Paulo Cunha? Cadê o Zé Dirceu? Etc. Etc. Etc. (Gentil Gimenez - um leitor do blog do Antenor e admirador dos artigos da Eliane Cantanhêde)

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  2. Essa figura se tivesse um pingo de decência na cara sumiria para os quintos dos infernos junto com a corja dele ...

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