Algumas coisas vêm para ficar e são definitivas. A roda, o fogo, a bússola, alguém pode imaginar o mundo sem isso? Até se poderia adicionar, aí, o “shopping center”, a novela das seis ou das sete ou das oito (nenhuma começa no horário, mesmo), mas não é o caso.
E a “internet”?
Hoje é difícil dizer qual, entre a “internet” e o celular, são gêneros de primeira necessidade. Melhor é considerar a ambos, anos-luz à frente da água, do ar, da luz do sol.
O meu telefone celular, inicial e gentilmente cedido pela empresa para a qual eu trabalhava e, depois, adquirido a duras penas, era uma mistura de equipamento de comunicação (nem sempre) e arma de defesa pessoal. Falar ou ouvir não era bem o seu forte, mas arremessado com pontaria, certamente faria um estrago considerável. Meu primeiro computador foi um equipamento pré-histórico que simplesmente não tinha um sistema operacional próprio. Para aqueles que não estão lá muito familiarizados com essa linguagem (o meu caso, por exemplo) hoje basta ligar o aparelho e tudo já aparece na tela, colorida, grande e de altíssima qualidade. Aquele monstrengo não era assim.
Depois de ligar a eletricidade, era preciso enfiar um objeto chamado “diskette”, uma espécie de chapa feita em material bem flexível, em um orifício em posição horizontal com cerca de quinze centímetros e quase nenhuma largura, para que todos os programas fossem instalados. Isso tinha que ser feito a cada vez em que se fosse operar a engenhoca.
Observar, hoje, os celulares com televisão, internet, transmissão de rádio e tudo mais que se possa imaginar, é de dar vertigem. E os computadores, esses derrubam qualquer saudosista com a velocidade, capacidade de armazenagem e o tamanho a que foram reduzidos. Como todo esse verdadeiro milagre tecnológico, seria possível imaginar que alguma dessas maravilhas perdesse o lugar de destaque conquistado de maneira tão sólida?
A “internet” veio para ficar e, quem sabe, até mudar o curso da história, criando uma nova era que já tomou o lugar da Idade Contemporânea. É difícil dizer se o escritor George Orwell foi ou não uma espécie de Nostradamus moderno quando escreveu o seu “1984” e imaginou a raça humana completamente submetida a um grande computador ou a um grande sistema de computação. O fato é que, em muitos aspectos, já estamos vivendo isso e há algum tempo. Hoje a informática se tornou uma senhora poderosa que é capaz de causar estragos incalculáveis tanto quando funciona como quando não funciona.
Quem nunca chegou no guichê de um banco ou de uma repartição pública depois de enfrentar a fila com todos os “office-boys” e, mais recentemente, os aposentados com suas pastinhas cheias de documentos, contas para pagar e, bem na sua vez de ser atendido, ouve do outro lado do balcão um “Desculpe, senhor, o sistema caiu”. Não, não foi o sistema que caiu. Foi o mundo, bem em cima da minha cabeça. E, o que acontece quando se chega ao trabalho pela manhã e se é informado de que o sistema “deu pau” e nenhum computador está funcionando? Bem, para alguns, é desesperador e para outros, uma alegria indisfarçavel. É melhor não entrar no constrangimento de tentar calcular qual dos grupos é maior, mas o fato é que, na maioria das empresas e atividades, hoje, sem computador não há como trabalhar. Não se trata de ficar mais difícil. É simplesmente impossível.
Tudo está lá dentro.
Apesar dos inconvenientes, essa maravilha é imbatível e ninguém vai nunca mais tira-la do mundo. E, tal como já aconteceu em muito maior escala, antes, com o jornal, o rádio e a televisão, a “internet” adquiriu uma espécie de presunção de verdade. Tudo o que saiu na “internet” tende a ser recebido como verdade absoluta. E aí reside, talvez, o maior problema gerado por ela: o terrorismo. É incontável a quantidade de informações, textos, artigos, noticias que circulam pela internet dando conta de catástrofes de toda espécie, desde o fim do mundo até o surgimento de epidemias incontroláveis ou os perigos causados pelos remédios produzidos para combater doenças e que acabam matando mais que ela.
Agora, a internet foi incorporada pelas campanhas eleitorais e pelas atividades políticas. E. então, tem se multiplicado o número de noticias e mensagens dando conta de todo tipo de tragédia que acontecerá caso este ou aquele partido ou candidato venha a ser eleito. Seja por que ótica se enxergue, se depender do teor dessas matérias, muito em breve estaremos todos acorrentados pelos grilhões de uma ditadura poderosa e imortal que levará o país à bancarrota pela eternidade. A imprensa estará definitivamente subjugada e amordaçada, o Poder Judiciário será praticamente soterrado pelos desmandos deste ou daquele partido, voltaremos à idade média em todos os aspectos.
Considerando a realidade e o conteúdo histórico deste país, a experiência que tem vivido a sociedade, é praticamente fora de cogitação que essas ameaças tenham mínimas chances de se tornar realidade. Portanto, é uma pena que um veículo de comunicação tão importante e eficiente se torne instrumento dessa manipulação. Que isso aconteça, infelizmente, é uma questão de consciência da parte de quem se dispõe a manipular as comunicações dessa maneira. Mas, seria perfeitamente contornável e neutralizável se houvesse, por parte do ponto central disso tudo, os partidos políticos e seus integrantes, uma atitude honesta e transparente no sentido de dar um “basta” a tudo e esclarecer que isso tudo não passa de mera especulação sem qualquer fundamento. Estranha ou curiosamente, no entanto, não se vê nem se ouve qualquer manifestação no sentido de dar transparência ao processo e apagar qualquer espécie de receio ou pânico que possa se espalhar pela sociedade. Aí começa a ficar difícil de identificar quem é menos honesto ou mais oportunista e irresponsável. Afinal, com todos os recursos para distribuir corretamente a informação e permitir que a sociedade saiba exatamente quais são os planos e seu futuro, só a desonestidade e a irresponsabilidade podem explicar essa falta de esclarecimentos.
Enquanto os que poderiam deixar tudo bem claro preferem se manter na sombra tirando partido da histeria coletiva, a “internet” vai fazendo o que não deveria, mas acaba se tornando seu papel: o de arauto do apocalipse.
Até o dia em que todo mundo se cansar da palhaçada. Aí, quem sabe, o tão poderoso veículo acabe se tornando apenas num instrumento para baixar música ou visitar “os sites” das bonitonas peladas. Pois é, desbancar a “internet” seria um quase milagre. Será que planeta-Brasil vai conseguir mais esse feito? E também seria uma pena, não é?
(*)Advogado , avô recente e morador em S. Bernardo do Campo (SPO). Escreve para o site O Dia Nosso De Cada Dia - http: blcon.wordpress.com
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