quinta-feira, 16 de setembro de 2010

“Antenor, como você é chato”!

Antenor Pereira Giovannini (*)

Tenho ouvido essa observação várias vezes. Tudo porque eu cobro meus direitos. Apenas isso me torna chato para alguns. A atitude que deveria ser natural nas pessoas que pagam impostos, trabalham, produzem, e que gostariam de ter seus direitos de cidadão reconhecidos, curiosamente o tornam “um cara chato”. Fazer o que? O comodismo ou o “pouco importa, não vai mudar”, parece que tomaram conta geral das pessoas, ou pelo menos dessas pessoas.

Nossa cidade tem sérias dificuldades com fornecimento de água cuja concessionária se chama Cosanpa. Para se ter água, como no meu caso e de várias pessoas que possuem condições, constroem-se poços, porém aqueles que não têm e sofrem pela falta ficam a mercê de uma companhia que pouco ou quase nada explica. Há obras sendo feitas pelo tal PAC, mas sabe-se que ainda não irá atender toda a necessidade. Como fica? Fica assim mesmo. Ao se entrar com um processo junto ao MPE junto com outros “chatos”, a indagação que recebemos é “Adiantou alguma coisa?”.

Nossa cidade tem sérios problemas de energia elétrica. Há apagões e principalmente, oscilações constantes que causam expectativa pela eventual perda de algum aparelho elétrico. Na loja é um absurdo e já foi motivo de e-mails para Ouvidoria da concessionária Celpa. E o que recebemos foram dois protocolos sobre um mesmo assunto e sem qualquer solução. Inserimos no blog, fizemos artigos, enfim reclamamos tal qual muitos que sofrem com esse mesmo problema. Lá vem a indagação: “Adiantou alguma coisa?”.

Nossa cidade tem sérios problemas de saneamento básico. Nas ruas do centro corre junto ao meio fio todo esse lodo oriundo de casas e de prédios que, por fim, vão direito para o rio. Nos bairros e principalmente periferia, o problema se torna maior já que pelo meio das ruas de terra e esburacadas, corre de forma fétida todo esse lodo oriundo de casas humildes e onde crianças pulam pelos filetes que se formam ao longo das ruas. Novamente esperneia-se através da imprensa, do blog, principalmente porque se sabe que a cidade é cercada por eco-chatos e ambientalistas que batem duro quanto à agricultura mecanizada, movimentação portuária, mas se tornam inertes quanto a esse assunto. O que se observa de pontos turísticos bem no centro da cidade é aquela imundície sendo despejada no Rio Tapajós. A pergunta vem quase que em seguida: “Deixe de ser chato. Adiantou alguma coisa?”.

Nossa cidade não tem calçadas transitáveis em quase sua totalidade. Quando existem são tortas, inclinadas, ínfimas, ou ainda são ocupadas por tudo o que é possível seja de tipo de comércio, ou ainda de entulhos. Ninguém move uma palha para mudar essa situação. Os pedestres já se acostumaram a andar pela rua disputando espaço com todo tipo de veículo, e não se importam com isso. Calçadas são para vender moto, vender pizza, vender ferro-velho, ter entulho de qualquer espécie e o pedestre, ora, que ande pela rua. Já tive o privilégio de ver publicado um texto de página inteira sobre o assunto, com fotos inclusive. Esse texto foi lido em sessão da Câmara dos Vereadores, outros tantos foram expostos em blogs da cidade e a situação nem sequer é mencionada pelos responsáveis pela cidade. E fundo aquela vozinha logo vem me dizendo: “Antenor, deixe de ser chato, adiantou alguma coisa?”.

Nossa cidade não tem uma Central de Compras de horti-frutas o que beneficiaria um enorme contingente de produtores, principalmente da chamada produção-familiar, que vivem em torno de nossa cidade e na maioria das vezes trazem seus produtos de bem longe. Ao chegarem à cidade, se vêem obrigados a ir no Mercadão que não é o local apropriado, e tentar negociar sua mercadoria. Tal Mercadão, que não possui estrutura de armazenagem, se vê na condição de recusar a mercadoria e lá se vai o produtor para alguma esquina da cidade tentar comercializar seu mamão, sua banana, sua melancia, que geralmente pelo calor, se deteriora facilmente. Os reclamos já efetuados em nada surtiram efeito e a cobrança também é imediata. “Não lhe disse que não adianta. Porque você insiste?”

Nossa cidade não tem Plano Diretor e se o tem não é aplicado. IPTU apenas uma parte da cidade está inserida e paga. Inúmeros pequenos comércios ilegais não possuem Alvará de Licença e com isso não pagam as taxas municipais. Ou seja, poucos pagam e muitos usufruem, ou ainda, os bons pagam pelos maus. E tudo isso é visto como normal e o enterro segue sem qualquer preocupação em sanar todos esses problemas que certamente afetam um todo e causam prejuízo ao próprio município. Já escrito, já falado, e a vozinha de novo: “Antenor como você é chato. Adianta alguma coisa?”.

Qual caminho afinal? Entrar para o time do deixa pra lá ou continuar ouvindo a vozinha repetindo: “Antenor como você é chato”?  Não sei, mas, devo ficar com a segunda.

Aposentado e agora comerciante. Morador em Santarém - PA

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