José Cruz (*)
O advogado paulista, Alberto Murray Neto, sugere debater sobre o acúmulo de cargos de Carlos Arthur Nuzman. Como presidente do COB, ele se tornou presidente do Comitê dos Jogos 2016. E repete Ricardo Teixeira, cabeça da CBF e líder da Copa 2016, como se não houvesse mais ninguém confiável ou competente para tocar os megaeventos.
Tal duplicidade de funções reflete a cultura da cúpula do desporto nacional, caracterizada por prolongadas gestões e falta de transparência nas finanças. E se torna a extensão do Poder Executivo federal, com Orlando Silva ministro do Esporte e, paralelamente, chefão do Comitê Organizador da Copa do Mundo.
Esta concentração de cargos, indício de ganância pelo poder, revela o amadorismo que temos na gestão do esporte. Amadorismo que se identifica, também, pela ausência de diálogo entre os órgãos afins e o chega pra lá na universidade, alijando-a do debate das principais questões dos megaeventos.
Se há um segmento que o COB e a CBF poderiam se orgulhar de incluir no legado é aproximarem-se da área acadêmica, da pesquisa, inclusive.
O que impressiona neste distanciamento é que o COB, em particular, é um órgão altamente subsidiado pela verba pública. Logo, deveria oferecer, voluntariamente, uma contrapartida, propiciando a divisão de ensinamentos valiosos, vindos da promoção de um bilionário megaevento esportivo.
É neste contexto que seguidamente alerto para a nossa “desordem institucional no esporte”. Temos órgãos em profusão, mas não temos objetivos comuns. Porque, egoisticamente, cada um busca os recursos financeiros sem que se tenha um projeto integrado e de longo prazo de promoção e valorização do esporte, seja ele de lazer ou de rendimento.
E o Ministério do Esporte, que deveria ser o centralizador e formador dessa política é omisso, pois sua prioridade é o fortalecimento partidário – no caso, o PCdoB. E o esporte que se lixe, no bom português.
Isso tudo – e a corrupção denunciada em relatórios do TCU - é evidente, muito claro. Há um espetacular desperdício de verbas e talentos, sugerindo o aparecimento de e de aproveitamentos de ocasiões; falta-nos um trabalho integrado para o desenvolvimento do esporte. E o egocentrismo das autoridades, mais interessadas no acúmulo de cargos e poder, é impedimento real para o diálogo que nos falta.
Lembremo-nos do péssimo exemplo do Pan 2007, cujo balanço final ainda não fechou... A elementar prestação de contas que deveria ser pública é oculta, exclusiva de poucos que, para evitarem críticas, também silenciam.
Qual o legado do Pan para o segmento escolar do Rio de Janeiro? Qual o legado das instalações para a comunidade carioca? Que grandes eventos foram realizados naquelas áreas nos últimos quatro anos? Qual o projeto integrado da prefeitura do Rio com as federações e clubes para a identificação de talentos?
Tais fatos deveriam ser respondidos pelas autoridades que hoje se duplicam nos poderes institucionais do esporte; pelos políticos que ajudaram a gastar bilhões, irresponsavelmente, em detrimento de outras prioridades da população, entre elas o esporte educacional.
(*) Jornalista e que cobre há mais de 20 anos os bastidores da política e economia do esporte, acompanhando a execução orçamentária do governo, a produção de leis e o uso de verbas estatais na área esportiva.
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