Pan marca decadência da ginástica feminina com racha e intrigas entre atletas
Uol
A ginástica feminina do Brasil, que viveu anos como esperança de medalha olímpica, vive seu pior momento desde o surgimento da geração que levantou o esporte. Nesta sexta, a equipe verde-amarela tem sua última chance de medalha no Pan de Guadalajara, mas o mau desempenho nos primeiros dias e o vazamento de informações sobre o mau relacionamento entre as atletas já evidenciou a crise interna.
A seleção chegou ao Pan de Guadalajara depois de falhar no Mundial de Tóquio, que dava vaga para os Jogos de Londres, em 2012. Nenhuma das ginastas conseguiu medalhas individuais e o time ficou fora da lista dos oito melhores, que conseguiriam vagas olímpicas. No México, a história foi parecida.
A equipe ficou na modesta quinta colocação, fora do pódio da competição pela primeira vez desde o Pan de Mar del Plata, em 1995. Nas provas individuais também não foi bem. O melhor resultado até aqui foi de Adrian Nunes, quarta no salto. Nesta sexta, Daniele Hypolito faz sua última tentativa de medalhas no solo, final para a qual se classificou com a sétima melhor nota.
Para ir a Londres, o time precisa se encaixar e conquistar quatro vagas entre oito países concorrentes que estarão no evento-teste na Inglaterra, em janeiro de 2012. Tudo muito diferente dos números de alguns anos atrás. Daniele Hypolito, por exemplo, foi a primeira brasileira a conseguir medalha em um Mundial, em 2001, com a prata no solo.
Daiane dos Santos foi além. Sagrou-se campeã mundial em 2003, no auge da sua forma, mas não conseguiu repetir o bom desempenho nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, quando terminou na quinta colocação. A esperança de medalhas olímpicas em 2008, em Pequim, foi depositada na conta de Jade Barbosa, bronze no Mundial do individual geral em 2007.
A medalha não veio, mas o surgimento de novas ginastas e o crescimento da modalidade parecia inevitável. Só que os resultados cessaram e o clima entre as ginastas não ajuda em nada.
Em coro, todas reclamaram da maratona de 45 dias de confinamento na preparação para o Mundial de Tóquio e o Pan de Guadalajara. Daiane dos Santos pediu a volta da seleção permanente com Oleg Ostapenko, técnico ucraniano que liderou a ascensão do país na ginástica e agora está de volta para um projeto em Curitiba.
Daniele Hypolito foi pelo caminho contrário. A ginasta do Flamengo se recusa a voltar a uma seleção permanente com o estrangeiro e diz não abrir mão de seus técnicos brasileiros. Além disso, falou em falta de união da equipe feminina em comparação com o time masculino, que vive um grande momento: conseguiu o ouro por equipes e já tem Diego Hypolito e Arthur Zanetti, medalhistas no Mundial, garantidos para Londres.
As brigas internas foram o tema do discurso de Adrian Nunes. Sem medo de represálias, a ginasta gaúcha abriu o jogo. “A gente não está sendo um grupo. Tem muita briga, muita intriga. Nós fizemos até uma reunião para tentar resolver isso, mas não ficou tudo certo. O problema é só eu e a Dai [Daiane dos Santos] somos mais escandalosas. As outras são mais quietas e não falam nada. Só que elas falam umas das outras por trás”, disse Adrian.
A divisão do grupo em torno de Daiane dos Santos e Daniele Hypolito parece mais grave que nunca, mas está longe de ser nova. As duas surgiram na mesma época e dividiram o protagonismo da seleção. A ginasta do Flamengo conseguiu bons resultados primeiro, ganhou status de promessa e o apelido de “Pequena Notável”.
Daiane, no entanto, foi mais longe. A gaúcha foi campeã mundial e, mais carismática, abalou a posição de Daniele dentro do time. Desde 2004, em Atenas, ela não é mais apontada como favorita às medalhas. Agora, a rixa pode definir o futuro da seleção. A discordância das duas sobre a estratégia a ser adotada pelo futuro tem a ver com um problema político maior.
A direção antiga da CBG, de Vicélia Florenzano, foi a responsável pela contratação de Oleg na primeira vez e também agora, já que a Federação Paranaense de Ginástica (FPG), presidida por ela, é quem toca o projeto do ucraniano atualmente. Já a cúpula atual da entidade foi a responsável pela decisão sobre o fim da seleção permanente e prefere relativizar a crise atual.
“Essas brigas são normais pelo tempo que elas estão juntas. Agora com uma folguinha elas vão melhorar”, minimizou Leonardo Finco, chefe de missão da ginástica artística em Guadalajara, que diz que a decisão sobre o local onde pode ser instalada a seleção permanente cabe ao comando técnico do time feminino (ele lidera o masculino).
Georgette Vidor, diretora da seleção feminina dentro da CBG, não está em Guadalajara para definir uma posição oficial. Ela, no entanto, sempre foi contra a permanência de um técnico estrangeiro à frente do time nacional.
Atualmente, a CBG está construindo um CT no Rio de Janeiro, no Velódromo. A hipótese de Oleg se juntar a esse projeto é bem remota. Para Eliane Martins, coordenadora da FPG e dirigente da CBG nos tempos de Vicélia, a confusão mostra o mau momento da ginástica.
“Na época em que a seleção foi desfeita, algumas ginastas falaram que muitas coisas não tinham sido tão boas. Não precisa de muito para entender porque elas mudaram de opinião agora. Elas testaram os dois métodos de trabalho e viram as diferenças nos resultados”, disse Eliane ao UOL Esporte.
Em 2008, após as Olimpíadas de Pequim, Jade Barbosa entrou em conflito com a CBG acusando a entidade de negligência médica na seleção, em Curitiba. Maíra dos Santos Silva, ex-atleta da trupe de Oleg, também relatou abusos por parte da comissão, que teria exagerado nas cobranças ao longo dos anos.
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