Após falha no Enem, jovens atacam nordestinos em redes sociais
Jornal da Tarde/SP
Após a revelação de que um colégio particular de Fortaleza aplicou um simulado com algumas questões idênticas às do Enem, jovens usuários do Twitter passaram a desferir ataques e reclamações contra nordestinos, numa nova onda de ofensas pela internet. Uma aluna de 17 anos do Colégio Christus reclamou dos comentários. “Estamos sofrendo xenofobia, tem gente na internet dizendo que vai jogar uma bomba aqui. Isso não é justo”, disse Beatriz Sucupira, do 3.º ano.
O usuário @GabrielReesende, que se identifica como sendo de Belo Horizonte, escreveu: “galerinha que fez o Enem se f****, se fosse eles, soltava uma bomba no Nordeste que matava quem antecipou a prova e todos os nordestinos, kk”.
Pouco depois, acrescentou: “os alunos do Colégio Christus que quiserem fazer a prova do Enem vão ter que fazer a prova na cadeia, por que eles não ficam por lá?”. E escreveu “@_piolitcho”, na quarta-feira: “Enem pode ser cancelado, e graças a uma escola do Nordeste. Pqp, nordestinos malditos”. Frank Miglionico (@frankmiglionico) publicou : “Eu ia corrigir a prova do Enem, mas essa p**** podendo ser cancelada por causa de NORDESTINOS, desisti”. Pelo menos mais dois usuários que publicaram ofensas contra nordestinos por causa do Enem 2011 deletaram suas contas no Twitter na manhã desta quinta-feira.
No Facebook, o material do Colégio Christus, de Fortaleza, com questões idênticas às do Enem, já era discutido por estudantes desde sábado. Na quarta-feira, 26, o Ministério da Educação determinou que os mais de 600 alunos do 3º ano desse colégio terão de refazer o Enem nos dias 28 e 29 de novembro, quando a prova também será aplicada a presidiários e internos de unidades socioeducativas. Segundo o ministério, uma investigação garantiu que não houve vazamento da prova, mas a suspeita é de que o colégio tenha tido acesso a questões do pré-teste. O MEC acionou a Polícia Federal para investigar o caso. Já o MPF no Ceará vai recomendar ao MEC que anule o Enem 2011 em todo o País.
O estudante que na noite de terça-feira publicou no Facebook fotos de dois cadernos de prova do Christus foi alvo de vários comentários maldosos. Seu irmão mais velho saiu em defesa dele, em comunicado aberto ao público. Na quarta-feira, o estudante que publicou as fotos apagou sua foto de perfil, e, horas depois, deletou totalmente sua conta no Facebook.
“Antes de tudo, não sejamos precipitados e esperemos que todos os fatos sejam apurados para incumbirmos quais responsabilidades cada um merece em tal ocorrido. Até lá, não julguemos o Colégio Christus e principalmente seus alunos. É comum que a maioria das pessoas sejam levadas pelo “calor da massa” e sejam apenas “Maria vai com as outras”, sem nem pensar direito antes de julgar. Julgar meu irmão, o próprio colégio Christus, os alunos ou seja lá quem mais for. Já ví inúmeros comentários maldosos, ameaças e julgamentos pejorativos a respeito de meu irmão bem como aos alunos do Colégio Christus, que também não possuem culpa alguma. Tenhamos amadurecimento e sensatez.
Ao postar as 14 questões, meu irmão tinha simplesmente o intuito de questionar como se acerta 14 questões em 180 dentre um banco de dados de 5 mil questões e só. Apesar de ser como procurar agulha no palheiro e de ser ínfima a possibilidade de achar tais agulhas, a possibilidade ainda assim existe e é concreta. Ele foi apenas um porta-voz de milhares de alunos também bastante curiosos com o ocorrido. Se não fosse ele, teria sido outro. Ademais, não é de direito de ninguém julgar o Christus ou seus alunos como já dito. Isso é dever das autoridades competentes cabendo as mesmas investigarem e ouvirem as devidas partes. Todavia, para que isso chegasse aos olhos e ouvidos do público, mídia e autoridades alguém teria que se manifestar. Só queremos a verdade, só isso. Que ela seja buscada incessavelmente. Temos que exigir mais respeitos aos vestibulandos, eles são estudantes e não palhaços. Estudam o ano inteiro preparando-se para uma prova, trabalham todo seu psicológico para determinada data, para depois o tão esperado exame ser mais uma vez posto em questão e os pobres alunos serem os grandes afetados pela incompetência e irresponsabilidade alheia, jogando-se lama em toda sua preparação.
A meu ver, o fato que mais necessita ser apurado limita-se a banca dos professores do colégio Christus que elaboraram o módulo de revisão e a banca elaboradora da prova do ENEM, imputando penalidades cabíveis que se limitem aos dois investigados (Christus – Enem). Será de extrema injustiça e hipocrisia se cancelarem o exame ou que os alunos do Colégio Christus façam outra prova, afinal, todos os alunos estavam de boa-fé e não podem ter seus méritos manchados por causa de uma suposta e ainda não comprovada fraude de seu colégio. Os alunos simplesmente pegaram um material que foi fornecido pela sua instituição de ensino preparatória de vestibular e, como costumeiramente fazem, estudaram por ele. Qualquer outro aluno de qualquer outro colégio faria o mesmo caso também recebesse um material de revisão. Por isso, reafirmo: se estiver que se arcar alguma responsabilidade após comprovada a má-intenção, que esta recaia sob a Instituição Christus e não a seus alunos. Seria ridículo cancelarem a prova. É evidente, sábio e do senso-comum que qualquer decisão justa tem que punir aqueles que estavam de má índole, e não, aos que estavam de boa-fé. Se isto acontecesse, os alunos, únicas vítimas e à parte de todo este imbróglio, seriam os principais prejudicados. A medida mais adequada e cabível seria a anualçao das 14 questões, assim teoricamente ninguém sairia em vantagem.
Entretanto, é óbvio que, caso estas questões tenham vazado entre outras instituições de ensino (o que é bem provável) e isto seja comprovado, ficará evidenciado o vício do exame, tendo o mesmo que ser anulado.
Que. teve disciplina, garra, renúncia, dedicação e determinação durante todo ano, com certeza terá êxito independente destas 14 questões. Apesar da conhecida concorrência do vestibular, em que uma questão pode ser crucial, o principal fator determinante de quem realmente deseja uma aprovação é exatamente enquadrar-se naquela minoria que virou noites a fio de estudo, que renunciou a maioria das festas e saídas aos finais de semana comuns da juventude, que tiveram força de vontade e disciplina. Atitudes como estas independem de estudar no colégio A ou B. A maioria das pessoas que auferem culpa às 14 questões por não terem se dado bem no exame, possivelmente usam isto como escudo para camuflar a incompetência que tiveram. Sejamos sinceros consigo mesmos antes de tudo. Meu próprio irmão, por exemplo, só viu as questões DEPOIS de ter feito o exame e, das quatorze, errou apenas uma. Ou seja, é o velho ditado da vovó: “Deus ajuda a quem cedo madruga”.”
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