Cristovam Buarque (*)
No próximo ano, Londres sediará as Olimpíadas, mas este ano, entre 5 e 8 de outubro, a cidade realizou a 41 WorldSkills Competition — as Olimpíadas Mundiais do Ensino Técnico.
Durante quatro dias, 944 competidores, de 51 países de todos os continentes, disputaram medalhas em provas que simulam o dia a dia do trabalho em 46 profissões.
Para receber a medalha de ouro, prata ou bronze na sua especialidade, os estudantes precisavam demonstrar habilidades técnicas e pessoais para executar as tarefas dentro de padrões internacionais de qualidade e no prazo estipulado.
Em um imenso galpão onde estavam montadas as 46 oficinas, o público assistia a jovens disputando qual deles seria o melhor cozinheiro, costureiro, mecânico, torneiro, jardineiro, webdesigner, joalheiro, marceneiro, carpinteiro, pedreiro e tantas outras profissões.
Algumas das profissões em disputa despertavam mais ou menos a atenção do público que acompanhava e torcia por seu país como numa competição esportiva. Mas era uma Olimpíada diferente, porque, além da medalha, como em um esporte, os concorrentes criam e produzem; saem com empregos garantidos graças ao desempenho de uma habilidade profissional.
Cada coreano vencedor recebe um prêmio de cem mil dólares. Não é por acaso que outra vez a Coreia foi o país que recebeu mais medalhas. O Brasil ficou em segundo lugar.
O honroso segundo lugar do Brasil se deve especialmente ao trabalho do Senai, que enviou 23 alunos, e do Senac, que enviou 5. Foram essas duas instituições que deram a formação aos brasileiros que participaram do maior torneio de educação profissional e tecnológica do mundo.
Os 28 estudantes da equipe brasileira conquistaram seis medalhas de ouro, três de prata, duas de bronze e dez certificados de excelência.
As medalhas de ouro foram conquistadas por Wilian de Souza (DF), em mecânica de refrigeração; Natã Barbosa (SC), webdesign; Rodrigo Ferreira da Silva (RJ), joalheria; Gabriel D’Espíndola (PR), eletrônica industrial; Guilherme Augusto (SP), desenho mecânico em CAD; e a dupla gaúcha Maicon Pasin e Christian Alessi, em mecatrônica.
Se nossas escolas técnicas federais tivessem participado, certamente teríamos um número ainda maior de campeões. O número de campeões realmente crescerá quando o Brasil fizer duas coisas.
Primeiro, quando der mais importância ao Ensino Fundamental. No mundo de hoje, para ter um bom Ensino Técnico, o aluno precisa ter tido uma boa base no Ensino Fundamental, conhecer os princípios da aritmética, álgebra, geometria e saber um pouco de inglês.
Temos grandes campeões graças ao Senai e ao Senac, mas o número dos que puderam disputar — apenas 28 estudantes — foi pequeno.
Imagine se, no lugar de apenas alguns milhares, tivéssemos milhões de jovens na escola técnica, todos eles com uma boa formação fundamental.
Em segundo lugar, quando os jovens, os pais e os governos entenderem que, de hoje em diante, um bom emprego será mais seguro para quem tiver uma boa formação técnica do que para quem possuir um deficiente curso universitário.
No Brasil, ainda dividimos a educação entre Universidade e Nada, como se o futuro estivesse apenas no Ensino Superior. Mas, quando se analisa o apagão de mão de obra de que o Brasil padece, percebe-se que a verdadeira falta é de profissionais técnicos, e não de profissionais universitários.
Por isso, se você quer um bom futuro para seu filho, deve pensar também em uma universidade, mas pense antes em um bom curso técnico. Com sua profissão garantida, com emprego certo, ele poderá pensar em um curso superior, para atender a vocação, mas não por causa do salário, que poderá ser maior como técnico especializado.
Para melhorar o Ensino Fundamental, é preciso que os governos percebam a importância da boa escola, desde a primeira infância, e também que as famílias estejam atentas, visitem a escola e cobrem a qualidade educacional. Para ressaltar a importância do Ensino Técnico seria bom que o Brasil assistisse ao espetáculo da competição entre os alunos no WorldSkills.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, com o apoio das federações estaduais, apresentou em Londres proposta para sediarmos a 43 WorldSkills, em 2017.
Até lá temos algum tempo para que as famílias incentivem os jovens na escolha de cursos técnicos, de modo a que a nação brasileira faça sua revolução educacional, criando um Ensino Fundamental de qualidade para todos.
(*) Engenheiro Mecânico, Economista, Educador, Professor Universitário e Senador da República pelo PDT/DF
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