terça-feira, 28 de maio de 2013

Idade é coisa da cabeça

Riad Younes (*) 

Não cansamos de ouvir dizer que a idade está na cabeça das pessoas, e não em suas carteiras de identidade. Um estudo recentemente publicado na prestigiosa revista científica Nature tenta provar que esse ditado é mais do que verdadeiro. Podem ter identificado o centro de controle do envelhecimento. 

Pesquisadores da faculdade de medicina Albert Einstein, em Nova York, conseguiram manipular a velocidade de envelhecimento de camundongos, em experiências laboratoriais bem controladas. Descobriram que, em uma região minúscula no cérebro dos animais, chamada hipotálamo, existem conjuntos de neurônios que podem afetar a taxa de envelhecimento. Presente nesses neurônios, encontraram uma molécula que parece ter, entre outras funções, o controle dos processos de envelhecimento do corpo. 

Essa proteína é velha conhecida dos cientistas. Era fortemente correlacionada com inflamações no corpo, e uma resposta a lesões externas. A dica veio exatamente daí. As pessoas, à medida que envelhecem, normalmente apresentam um aumento progressivo no número e na intensidade de processos inflamatórios em diferentes órgãos. Já se tentou utilizar produtos que combatem a inflamação e a lesão de células e tecidos decorrentes desse fenômeno, sem grande sucesso.

Exemplos clássicos são os chamados antioxidantes. Podem ajudar, mas seu impacto é geralmente imperceptível. Nesse estudo, por outro lado, os cientistas foram diretamente à fonte dessas alterações inflamatórias, a molécula cerebral presente no hipotálamo, chamada NF-kB. Manipularam as concentrações da NF-kB de duas formas. Em um estudo, conseguiram reduzir o ritmo do envelhecimento dos camundongos de forma significativa e aumentar sua expectativa de vida em 20%. 

Por outro lado, manipulando a NF-KB no hipotálamo dos animais de forma contrária, observaram uma aceleração da degeneração cardiovascular, neurológica e cognitiva. A força muscular decaiu progressivamente, a pele ficou mais fina e sua capacidade de adquirir novos aprendizados ficou significativamente reduzida. Em outras palavras, os camundongos ficaram rapidamente mais velhos. Os neurocientistas dedicados ao estudo do hipotálamo ficaram muito entusiasmados com esses resultados. Apesar de serem estudos experimentais em camundongos, e a maioria absoluta dos humanos não é rato nem camundongo, a perspectiva que se abre na pesquisa e na identificação de modos de influenciar o funcionamento da NF-kB nas pessoas, quer seja por medicamentos, quer seja por outras vias, é infinita. 

Não é o caminho da eternidade, mas atrasar o relógio do envelhecimento, nem que seja por meros 20%, parece bastante promissor. E interessante. 

(*) Médico, diretor clínico do Hospital Sírio-Libanês e professor da Faculdade de Medicina da USP.

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