Bellini Tavares de Lima Neto (*)
Estou para ver coisa melhor que metrô. Cada vez mais eu olho o metrô como uma espécie de materialização da liberdade. Sobretudo quando se pensa no trânsito de São Paulo, atravessar a cidade por baixo da terra e gastar aí uns 20 minutos de um extremo a outro é ou não é a própria liberdade em forma de ferros e mais uma porção de componentes? Eu não perco oportunidade de me utilizar desse recurso e, cada vez, fico mais entusiasmado.
Hoje pela manhã, lá estava eu saindo do ABC Paulista até a Estação Sacomã e de lá, rumo ao Butantã. Quem conhece a cidade sabe do que estou falando. Isso é percurso para mais de hora e meia. Em mais ou menos 10 minutos eu já estava na Estação Consolação, pronto para fazer a baldeação pela Linha Amarela. Depois de um percurso auxiliado pela esteira e pelas escadas rolantes, eu já estava na plataforma, pronto para fazer o segundo trajeto. Perto de mim estava a mulher.
Se fosse para arriscar um palpite, ela devia ter entre 35 a 40 anos. Mulher negra, jeito simples, ar um pouco tenso, ela falava ao celular. O barulho dos trens e das pessoas falando não permitia ouvir praticamente nada do que ela dizia. Nosso trem chegou, ela entrou e eu também. Aí era bem mais silencioso e a mulher falava relativamente alto:
- “Arthurzinho, faz o que a mamãe falou. Pára de chorar, almoça e vai prá casa da Dona ... Não consegui entender o nome da dona. A prosa continuou:
- “Eu sei, Arthurzinho, mas agora não tem como eu resolver isso. Faz o que a mamãe disse. Pára de chorar, almoça e vai prá la” - ......
- “Mas, meu amor, a mamãe falou que não pode fazer nada agora. O que ele fez? Eu te falei, Arthurzinho, ele não é amigo prá você. A mamãe sabe. ...
- “Ele quebrou só a sua ou a dos outros também? ....
- "Não faz mal, meu bem. Era a flor de plástico? Não faz mal, a noite a gente dá um jeito” .......
- "Mas pára de chorar Arthurzinho, a mamãe não pode te ajudar agora. Faz o que a mamãe falou. Almoça e vai prá lá."....
- “Eu sei, Arthurzinho, mas agora eu não posso fazer nada. E eu só vou chegar em casa depois das oito da noite. Qualquer coisa você me liga”. ..
- “Eu sei, meu amor. A mamãe também tem ama. Mais tarde a gente conversa”. ..
- “Um beijo prá você também”. ...........
A mulher desligou o celular e olhou em volta, meio sem graça, meio culpada, meio sei lá o que. Eu fiquei me perguntando quanto aquela mulher simples, negra, de idade indefinida, quanto aquela mulher pagaria para poder ir voando para casa pegar o seu Arthurzinho no colo, fazer uma porção de carinhos e deixar que ele chorasse o quanto desejasse chorar até molhar sua roupa simples e ficar com ele a tarde inteira em vez de ter que mandá-lo para a casa da tal dona cujo nome não consegui ouvir.
Cheguei na minha estação com a rapidez fantástica que o metrô pode proporcionar, mas confesso que a sensação de liberdade, essa ficou meio assim, meio assim...
(*) Advogado, avô, corintiano e morador em São Bernardo do Campo (SP)
Estou para ver coisa melhor que metrô. Cada vez mais eu olho o metrô como uma espécie de materialização da liberdade. Sobretudo quando se pensa no trânsito de São Paulo, atravessar a cidade por baixo da terra e gastar aí uns 20 minutos de um extremo a outro é ou não é a própria liberdade em forma de ferros e mais uma porção de componentes? Eu não perco oportunidade de me utilizar desse recurso e, cada vez, fico mais entusiasmado.
Hoje pela manhã, lá estava eu saindo do ABC Paulista até a Estação Sacomã e de lá, rumo ao Butantã. Quem conhece a cidade sabe do que estou falando. Isso é percurso para mais de hora e meia. Em mais ou menos 10 minutos eu já estava na Estação Consolação, pronto para fazer a baldeação pela Linha Amarela. Depois de um percurso auxiliado pela esteira e pelas escadas rolantes, eu já estava na plataforma, pronto para fazer o segundo trajeto. Perto de mim estava a mulher.
Se fosse para arriscar um palpite, ela devia ter entre 35 a 40 anos. Mulher negra, jeito simples, ar um pouco tenso, ela falava ao celular. O barulho dos trens e das pessoas falando não permitia ouvir praticamente nada do que ela dizia. Nosso trem chegou, ela entrou e eu também. Aí era bem mais silencioso e a mulher falava relativamente alto:
- “Arthurzinho, faz o que a mamãe falou. Pára de chorar, almoça e vai prá casa da Dona ... Não consegui entender o nome da dona. A prosa continuou:
- “Eu sei, Arthurzinho, mas agora não tem como eu resolver isso. Faz o que a mamãe disse. Pára de chorar, almoça e vai prá la” - ......
- “Mas, meu amor, a mamãe falou que não pode fazer nada agora. O que ele fez? Eu te falei, Arthurzinho, ele não é amigo prá você. A mamãe sabe. ...
- “Ele quebrou só a sua ou a dos outros também? ....
- "Não faz mal, meu bem. Era a flor de plástico? Não faz mal, a noite a gente dá um jeito” .......
- "Mas pára de chorar Arthurzinho, a mamãe não pode te ajudar agora. Faz o que a mamãe falou. Almoça e vai prá lá."....
- “Eu sei, Arthurzinho, mas agora eu não posso fazer nada. E eu só vou chegar em casa depois das oito da noite. Qualquer coisa você me liga”. ..
- “Eu sei, meu amor. A mamãe também tem ama. Mais tarde a gente conversa”. ..
- “Um beijo prá você também”. ...........
A mulher desligou o celular e olhou em volta, meio sem graça, meio culpada, meio sei lá o que. Eu fiquei me perguntando quanto aquela mulher simples, negra, de idade indefinida, quanto aquela mulher pagaria para poder ir voando para casa pegar o seu Arthurzinho no colo, fazer uma porção de carinhos e deixar que ele chorasse o quanto desejasse chorar até molhar sua roupa simples e ficar com ele a tarde inteira em vez de ter que mandá-lo para a casa da tal dona cujo nome não consegui ouvir.
Cheguei na minha estação com a rapidez fantástica que o metrô pode proporcionar, mas confesso que a sensação de liberdade, essa ficou meio assim, meio assim...
(*) Advogado, avô, corintiano e morador em São Bernardo do Campo (SP)
Linda crônica. Muito humana. Parabéns.
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