Bellini Tavares de Lima Neto (*)
Os programas eleitorais inteiros, desses que duram algo em torno de 15 minutos, desses eu tenho como me defender. Afinal, eles são previamente anunciados, entram sempre entre um programa e outro na televisão e, portanto, ensejam a possibilidade de se mudar de canal para quem tem TV por assinatura ou simplesmente desligar o aparelho e esperar que passe o tempo. Contra esses, portanto, há remédio, é possível se salvar.
Mas, o que dizer daquelas inserções rápidas que invadem a tela durante os intervalos do que se estiver assistindo? Desses já é bem mais difícil de se livrar. Exatamente por isso, desses dificilmente se consegue escapar, a menos que se aproveite os intervalos para uma ida rápida ao banheiro ou à cozinha apanhar um café. Como não há jeito de se ir ao banheiro tantas vezes e também não há estômago que suporte tanto café, só resta assistir as tais inserções mais curtas.
Nessas, o que mais me chama a atenção é o espírito beligerante. Com raras exceções, todos os membros de todos os partidos políticos necessariamente falam em lutar e explicam a sua luta. Todos lutam, todos estão engajados em lutas.
Considerando que não há, em meio a essa constelação de figuras curiosas, nenhum integrante do chamado MMA, é certo que eles não estão se referindo aos octógonos onde criaturas enormes e aparentemente insensíveis a dores e estalos, fazem o delírio de uma plateia uivante e tresloucante.
Claro que não se trata desse tipo de luta. Eles estão, na verdade se referindo a lutas por metas e projetos. Pode ser um projeto de educação ou saneamento básico ou relativo à saúde pública ou à segurança. Os alvos das lutas são diversos. E, como se fala constantemente nessa luta, seria interessante se tentássemos entender com mais clareza e precisão o alcance e o significado desse vocábulo que parece traduzir toda a atividade dos já referidos membros dos já referidos partidos políticos.
Diz o verbete do Dicionário Aurélio: “Lutar – do latim “luctare”.
E, então, se seguem os diferentes significados, dependendo da natureza gramatical de cada situação. Como Verbo Intransitivo:
1. Travar luta; combater, brigar, pelejar, pugnar;
2. Despender todas as forças, trabalhar com aferro, pelejar, pugnar; Exemplo: “Sua natural inércia impede-o de lutar – jamais conseguirá o que pretende”. Como Verbo transitivo indireto:
3. Combater, brigar, pelejar, pugnar; Exemplo: “lutavam pela verdade abstrata e tinham como fim a salvação do mundo (Eça de Queiróz, Cartas Familiares e Bilhetes de Paris, p.183)
4. Despender todas as forças, trabalhar com aferro para atingir certo objetivo; Exemplo: “Lutou pelo cargo de diretor, mas o seu nome foi preterido”.
5. Arcar, arrostar – Exemplo: lutar com dificuldades. Como verbo bitransitivo Indireto:
6. Contender, disputar, competir; Exemplo: “Lutou com o irmão por parte da herança”. Como verbo transitivo direto:
7. Travar (luta, combate); Exemplo: “Leoa que amamenta as almas modernas que hão de lutar a grande luta (Lúcio de Mendonça, Horas do Bom Tempo, p. 316)
Em qual dos sete significados se encaixa a luta a que estão entregues todos os membros de todos os partidos políticos que se alardeiam durante os horários obrigatórios? Resposta difícil. O que se pode perceber é que, seja lá qual seja o significado do verbo, sempre existem dois pontos presentes: ou o lutador luta contra alguém ou luta contra algum tipo de obstáculo. Sem adversário ou barreira não tem como lutar. Mas, e quando o sujeito luta consigo mesmo? Pois é, nesse caso o oponente é ele mesmo, a barreira é alguma coisa sua. Nem assim podem faltar ou o adversário ou a dificuldade.
Então, quando um dos guerreiros da televisão aparece com as mãozinhas fechadas fazendo um gesto em paralelo que sobe e desce e diz que luta pela educação, pela saúde ou seja lá pelo que for, conta quem ele está lutando? Contra a oposição? Pode ser, mas e quando o herói pertence à situação, ao partido que está no poder? E será que tem algum dos intrépidos cruzadistas que seja contra a melhoria da educação, da saúde, da segurança, dos salários dos trabalhadores? Ora, se todos lutam por isso, afinal, lutam contra quem?
Bem, contra o Anderson Silva é que não deve ser. Afinal, quem é maluco, além de nós que ouvimos isso há tanto tempo?
(*) Advogado, avô, corintiano e morador em São Bernardo do Campo (SP)
Os programas eleitorais inteiros, desses que duram algo em torno de 15 minutos, desses eu tenho como me defender. Afinal, eles são previamente anunciados, entram sempre entre um programa e outro na televisão e, portanto, ensejam a possibilidade de se mudar de canal para quem tem TV por assinatura ou simplesmente desligar o aparelho e esperar que passe o tempo. Contra esses, portanto, há remédio, é possível se salvar.
Mas, o que dizer daquelas inserções rápidas que invadem a tela durante os intervalos do que se estiver assistindo? Desses já é bem mais difícil de se livrar. Exatamente por isso, desses dificilmente se consegue escapar, a menos que se aproveite os intervalos para uma ida rápida ao banheiro ou à cozinha apanhar um café. Como não há jeito de se ir ao banheiro tantas vezes e também não há estômago que suporte tanto café, só resta assistir as tais inserções mais curtas.
Nessas, o que mais me chama a atenção é o espírito beligerante. Com raras exceções, todos os membros de todos os partidos políticos necessariamente falam em lutar e explicam a sua luta. Todos lutam, todos estão engajados em lutas.
Considerando que não há, em meio a essa constelação de figuras curiosas, nenhum integrante do chamado MMA, é certo que eles não estão se referindo aos octógonos onde criaturas enormes e aparentemente insensíveis a dores e estalos, fazem o delírio de uma plateia uivante e tresloucante.
Claro que não se trata desse tipo de luta. Eles estão, na verdade se referindo a lutas por metas e projetos. Pode ser um projeto de educação ou saneamento básico ou relativo à saúde pública ou à segurança. Os alvos das lutas são diversos. E, como se fala constantemente nessa luta, seria interessante se tentássemos entender com mais clareza e precisão o alcance e o significado desse vocábulo que parece traduzir toda a atividade dos já referidos membros dos já referidos partidos políticos.
Diz o verbete do Dicionário Aurélio: “Lutar – do latim “luctare”.
E, então, se seguem os diferentes significados, dependendo da natureza gramatical de cada situação. Como Verbo Intransitivo:
1. Travar luta; combater, brigar, pelejar, pugnar;
2. Despender todas as forças, trabalhar com aferro, pelejar, pugnar; Exemplo: “Sua natural inércia impede-o de lutar – jamais conseguirá o que pretende”. Como Verbo transitivo indireto:
3. Combater, brigar, pelejar, pugnar; Exemplo: “lutavam pela verdade abstrata e tinham como fim a salvação do mundo (Eça de Queiróz, Cartas Familiares e Bilhetes de Paris, p.183)
4. Despender todas as forças, trabalhar com aferro para atingir certo objetivo; Exemplo: “Lutou pelo cargo de diretor, mas o seu nome foi preterido”.
5. Arcar, arrostar – Exemplo: lutar com dificuldades. Como verbo bitransitivo Indireto:
6. Contender, disputar, competir; Exemplo: “Lutou com o irmão por parte da herança”. Como verbo transitivo direto:
7. Travar (luta, combate); Exemplo: “Leoa que amamenta as almas modernas que hão de lutar a grande luta (Lúcio de Mendonça, Horas do Bom Tempo, p. 316)
Em qual dos sete significados se encaixa a luta a que estão entregues todos os membros de todos os partidos políticos que se alardeiam durante os horários obrigatórios? Resposta difícil. O que se pode perceber é que, seja lá qual seja o significado do verbo, sempre existem dois pontos presentes: ou o lutador luta contra alguém ou luta contra algum tipo de obstáculo. Sem adversário ou barreira não tem como lutar. Mas, e quando o sujeito luta consigo mesmo? Pois é, nesse caso o oponente é ele mesmo, a barreira é alguma coisa sua. Nem assim podem faltar ou o adversário ou a dificuldade.
Então, quando um dos guerreiros da televisão aparece com as mãozinhas fechadas fazendo um gesto em paralelo que sobe e desce e diz que luta pela educação, pela saúde ou seja lá pelo que for, conta quem ele está lutando? Contra a oposição? Pode ser, mas e quando o herói pertence à situação, ao partido que está no poder? E será que tem algum dos intrépidos cruzadistas que seja contra a melhoria da educação, da saúde, da segurança, dos salários dos trabalhadores? Ora, se todos lutam por isso, afinal, lutam contra quem?
Bem, contra o Anderson Silva é que não deve ser. Afinal, quem é maluco, além de nós que ouvimos isso há tanto tempo?
(*) Advogado, avô, corintiano e morador em São Bernardo do Campo (SP)
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