A terceira mulher mais poderosa do mundo prometeu falar grosso com o presidente da Fifa e se rendeu ao secretário-geral
Augusto Nunes (*)
Primeira mulher a assumir a presidência da República, primeira mulher a abrir a Assembleia Geral da ONU, terceira mulher mais poderosa do mundo no ranking da revista Forbes, Dilma Rousseff acaba de ampliar o acervo de pioneirismos: é a primeira chefe de governo que, em vez de conceder uma audiência ao presidente da FIFA, pediu ao comandante da mais corrupta entidade esportiva do planeta que lhe abrisse um espaço na agenda. Foi Dilma quem solicitou a Joseph Blatter que a encontrasse em Bruxelas. Para ampliar a humilhação, o supercartola do futebol mandou em seu lugar o secretário-geral Jérôme Volcke.
Lastimável na forma, o espetáculo da subordinação protagonizado por Dilma e Orlando Silva, ministro do Esporte, foi ainda pior no conteúdo. Terminada a conversa com Volcke, ficou claro que o Brasil, para não perder a chance de gastar o que não tem com a Copa de 2014, fará tudo o que a Fifa quiser. “Deixamos claro que não aceitaremos certas reivindicações, como a suspensão dos descontos para os idosos”, recitou o ministro, caprichando na pose de defensor da pátria em perigo. Ou seja: o governo topa tudo, menos o que a Constituição não permite. Se tentasse suprimir algum dos direitos conferidos aos idosos, a Lei Geral da Copa tropeçaria no Supremo Tribunal Federal.
Esqueçam as patriotadas do noticiário jornalístico. Esqueçam as exclamações dos repórteres ufanistas. O que houve na Bélgica cabe numa frase: a presidente do Brasil prometeu falar grosso com o número 1 da Fifa, sujeitou-se a uma reunião com o número 2 e capitulou.
(*) Jornalista e Ex-Diretor do Jornal do Brasil, do Jornal Gazeta Mercantil e Revista Forbes. Atualmente na Revista Veja
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