A terra onde todos convivem
Claudio Lembo (*)
Quando alguém se debruça sobre a história de São Paulo sente uma profunda perplexidade. Os episódios de grandeza e os ciclos de miséria se sucederam através dos séculos.
Foi fruto direto dos índios que ocupavam o planalto paulista.
Estes conheciam e conviviam com João Ramalho, o português que habitava Santo André da Borda do Campo.
Os jesuítas chegaram mais tarde.
Edificaram a pequena escola.
O lugar, no alto da colina acima do Rio Tamanduateí, passou a ser chamado Pátio do Colégio.
Não conhecia o planalto as doenças tropicais.
Seu clima era salubre.
A distância do mar o tornava isento dos contatos com o mundo europeu.
O paulista foi gerado na solidão.
O povoado era rude e rude seus habitantes.
Desde os primórdios, lançaram-se a combater os castelhanos em nome dos reis de Portugal.
A pé ou pelos rios alcançaram os extremos da América Setentrional.
Foram ao Paraguai e a Argentina e, na busca de índios para escravizar, lutaram asperamente com os padres da Companhia de Jesus.
Não deram sossego aos jesuítas, aqui e nas mais distantes paragens.
Lançaram-se, sem temor, no interior das florestas.
Cruzaram rios caudalosos.
Estenderam os espaços físicos do Brasil.
Com a descoberta de ouro, em Minas Gerais, lançaram-se à exploração do minério.
Foram mortos e humilhados.
Recuaram. Inicia-se, a partir do ciclo do ouro, período dramático.
Perde São Paulo sua condição de relevo.
É lançada ao ostracismo.
Passaram-se os anos.
A pobreza altiva permanecia imutável.
A primeira reação, após a Independência do Brasil, dá-se com a criação da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.
Os trabalhos constituintes de 1823 apontam para os obstáculos à criação da primeira escola superior no Brasil independente.
Regiões muito mais desenvolvidas pleiteavam o privilégio.
São Paulo – juntamente com Olinda – foi agraciada com a Academia de Direito.
Alteram-se os costumes.
Inicia-se uma nova etapa na vida da cidade.
Permanece provinciana e isolada, mas já recebe o impulso dos jovens originários dos mais distantes pontos do País.
Alteram-se vagarosamente os traços urbanos.
A grande mudança ocorre com a chegada da imigração européia.
Os italianos, particularmente, trouxeram novos costumes e formas de pensar.
Foram encaminhados para as distantes terras do sertão.
Vieram para substituir os libertos de 1888.
Aos poucos, foram chegando à cidade de São Paulo.
Começaram surgir as grandes tecelagens e as pequenas fundições.
Uma ebulição social incessante começou a surgir.
Os senhores das terras se assustaram.
A perseguição ao estrangeiro ocorreu.
As grandes greves, geradas nos aparelhos anarquistas, explodiram.
Nunca mais São Paulo deixou de gerar novidades sociais e políticas.
Abriu seus espaços para a imigração interna e a todos os povos.
Tornou-se a mais cosmopolita das cidades da América Latina.
A ninguém é perguntada a sua origem ou sua ascendência.
Os nomes de família não importam em São Paulo.
Vale a vontade de trabalhar e produzir.
Esta forma de agir e de pensar dos paulistanos contemporâneos levou à perda do estudo de sua História.
Nada importa em São Paulo.
Suas tradições se apagaram.
Todos os dias se gera o novo em São Paulo.
Uma gente indômita, crítica e, apesar da constante evolução, possui traços conservadores. São Paulo, em seus quatrocentos e sessenta anos, por vezes, mostra-se provinciana.
Uma cidade aberta a todas as vocações.
(*) Advogado, professor e ex-governador de São Paulo
Claudio Lembo (*)
Quando alguém se debruça sobre a história de São Paulo sente uma profunda perplexidade. Os episódios de grandeza e os ciclos de miséria se sucederam através dos séculos.
Foi fruto direto dos índios que ocupavam o planalto paulista.
Estes conheciam e conviviam com João Ramalho, o português que habitava Santo André da Borda do Campo.
Os jesuítas chegaram mais tarde.
Edificaram a pequena escola.
O lugar, no alto da colina acima do Rio Tamanduateí, passou a ser chamado Pátio do Colégio.
Não conhecia o planalto as doenças tropicais.
Seu clima era salubre.
A distância do mar o tornava isento dos contatos com o mundo europeu.
O paulista foi gerado na solidão.
O povoado era rude e rude seus habitantes.
Desde os primórdios, lançaram-se a combater os castelhanos em nome dos reis de Portugal.
A pé ou pelos rios alcançaram os extremos da América Setentrional.
Foram ao Paraguai e a Argentina e, na busca de índios para escravizar, lutaram asperamente com os padres da Companhia de Jesus.
Não deram sossego aos jesuítas, aqui e nas mais distantes paragens.
Lançaram-se, sem temor, no interior das florestas.
Cruzaram rios caudalosos.
Estenderam os espaços físicos do Brasil.
Com a descoberta de ouro, em Minas Gerais, lançaram-se à exploração do minério.
Foram mortos e humilhados.
Recuaram. Inicia-se, a partir do ciclo do ouro, período dramático.
Perde São Paulo sua condição de relevo.
É lançada ao ostracismo.
Passaram-se os anos.
A pobreza altiva permanecia imutável.
A primeira reação, após a Independência do Brasil, dá-se com a criação da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.
Os trabalhos constituintes de 1823 apontam para os obstáculos à criação da primeira escola superior no Brasil independente.
Regiões muito mais desenvolvidas pleiteavam o privilégio.
São Paulo – juntamente com Olinda – foi agraciada com a Academia de Direito.
Alteram-se os costumes.
Inicia-se uma nova etapa na vida da cidade.
Permanece provinciana e isolada, mas já recebe o impulso dos jovens originários dos mais distantes pontos do País.
Alteram-se vagarosamente os traços urbanos.
A grande mudança ocorre com a chegada da imigração européia.
Os italianos, particularmente, trouxeram novos costumes e formas de pensar.
Foram encaminhados para as distantes terras do sertão.
Vieram para substituir os libertos de 1888.
Aos poucos, foram chegando à cidade de São Paulo.
Começaram surgir as grandes tecelagens e as pequenas fundições.
Uma ebulição social incessante começou a surgir.
Os senhores das terras se assustaram.
A perseguição ao estrangeiro ocorreu.
As grandes greves, geradas nos aparelhos anarquistas, explodiram.
Nunca mais São Paulo deixou de gerar novidades sociais e políticas.
Abriu seus espaços para a imigração interna e a todos os povos.
Tornou-se a mais cosmopolita das cidades da América Latina.
A ninguém é perguntada a sua origem ou sua ascendência.
Os nomes de família não importam em São Paulo.
Vale a vontade de trabalhar e produzir.
Esta forma de agir e de pensar dos paulistanos contemporâneos levou à perda do estudo de sua História.
Nada importa em São Paulo.
Suas tradições se apagaram.
Todos os dias se gera o novo em São Paulo.
Uma gente indômita, crítica e, apesar da constante evolução, possui traços conservadores. São Paulo, em seus quatrocentos e sessenta anos, por vezes, mostra-se provinciana.
Uma cidade aberta a todas as vocações.
(*) Advogado, professor e ex-governador de São Paulo
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