Opinião do Estadão
O novo capítulo da longa e triste história da Cracolândia, pomposamente chamado de Operação Braços Abertos, que acaba de ser lançada, parece ter tudo para seguir o mesmo destino dos que o precederam - o do malogro, logo seguido do esquecimento. Mais uma vez, questões essenciais são deixadas de lado ou não recebem a devida atenção, em benefício de maneiras "inovadoras" de tratar o difícil problema dos dependentes de crack. É como se a Prefeitura, a quem cabe essa iniciativa, achasse que só o brilho enganador da novidade bastasse para justificá-la. E tudo indica também que a improvisação, que vai se tornando uma marca do atual governo municipal, está por trás dessa operação.
O alvo dessa vez não é o conjunto da população de dependentes da Cracolândia, mas de apenas uma parte dela - a que nos últimos três meses montou os barracos de uma pequena favela na região, sob as barbas das autoridades que a isso assistiram passivamente. Apesar da degradação que ali impera, a presença dessa favelinha chocou os paulistanos e era evidente que algo teria de ser feito para removê-la. É difícil de escapar da conclusão de que, independentemente do que se possa pensar da Operação Braços Abertos, por trás dela está a intenção - no mínimo tão importante quanto a de cuidar dos dependentes - de acabar com a favelinha. Como não dar o nome de improviso a essa tentativa de tratar de uma só vez daqueles dois problemas?
A esse vício de origem o governo de Fernando Haddad acrescentou à Operação Braços Abertos propostas de alcance no mínimo duvidoso para cuidar do problema dos viciados de crack. Às cerca de 300 pessoas que ocupam os barracos e que já começaram a desmontá-los, com a ajuda e supervisão de pessoal da Prefeitura, serão oferecidas acomodações em quatro hotéis da região, com diárias pagas pelo governo municipal por tempo indeterminado. Em contrapartida, elas terão de trabalhar quatro horas por dia na varrição de ruas.
Além disso, deverão frequentar durante duas horas diárias cursos de capacitação profissional. Na área de saúde, elas continuarão dispondo dos tratamentos já oferecidos, em parceria da Prefeitura com o governo do Estado, para os dependentes de drogas. Pelo trabalho de varrição, elas receberão salário de R$ 15 por dia, pago a cada semana. Quem eventualmente não for trabalhar, por falta de condições por causa do uso de droga, mas procurar ajuda na rede de saúde, receberá o salário normalmente.
Assistência para moradia, trabalho remunerado, estudo e tratamento médico - a receita aparentemente é boa. Como as aparências enganam, é preciso chamar a atenção para aspectos altamente negativos da operação. Com a maioria das necessidades básicas garantidas, a começar por onde morar, salta aos olhos que a maior parte do dinheiro ganho pelos dependentes quase certamente irá para comprar crack e, como essa é uma droga barata, poderão com ele sustentar seu vício. Aliás, a Prefeitura deixa claro que seu objetivo nesse caso não é acabar com o vício, mas reduzir os danos da situação em que se encontram os dependentes.
O que garante que muitos dos demais dependentes que moram na região não construirão novas favelinhas para serem derrubadas em seguida e lhes garantir os mesmos benefícios? Além disso, como lembra o promotor de Justiça Marcelo Luiz Barone, os hotéis alugados para abrigar os dependentes devem "virar verdadeiros antros de tráfico, de promiscuidade, de doenças". Em resumo, a aparente boa ideia pode se transformar num pesadelo.
O problema da Cracolândia é complicado demais para ser tratado dessa forma. Enfrentá-lo para valer exige ações coordenadas de tratamento médico e assistência social aos dependentes e às suas famílias, assim como policiamento para garantir segurança na região e, sobretudo, combate ao tráfico de drogas, que ali corre solto, ao ar livre, dia e noite. Sem atacar o problema por esses dois lados, não se avançará. Mas isso exige tanto da Prefeitura como do Estado uma disposição de cooperar e uma coragem que até agora não demonstraram. Por isso, não se vai além de operações de muito barulho e poucos resultados.
O novo capítulo da longa e triste história da Cracolândia, pomposamente chamado de Operação Braços Abertos, que acaba de ser lançada, parece ter tudo para seguir o mesmo destino dos que o precederam - o do malogro, logo seguido do esquecimento. Mais uma vez, questões essenciais são deixadas de lado ou não recebem a devida atenção, em benefício de maneiras "inovadoras" de tratar o difícil problema dos dependentes de crack. É como se a Prefeitura, a quem cabe essa iniciativa, achasse que só o brilho enganador da novidade bastasse para justificá-la. E tudo indica também que a improvisação, que vai se tornando uma marca do atual governo municipal, está por trás dessa operação.
O alvo dessa vez não é o conjunto da população de dependentes da Cracolândia, mas de apenas uma parte dela - a que nos últimos três meses montou os barracos de uma pequena favela na região, sob as barbas das autoridades que a isso assistiram passivamente. Apesar da degradação que ali impera, a presença dessa favelinha chocou os paulistanos e era evidente que algo teria de ser feito para removê-la. É difícil de escapar da conclusão de que, independentemente do que se possa pensar da Operação Braços Abertos, por trás dela está a intenção - no mínimo tão importante quanto a de cuidar dos dependentes - de acabar com a favelinha. Como não dar o nome de improviso a essa tentativa de tratar de uma só vez daqueles dois problemas?
A esse vício de origem o governo de Fernando Haddad acrescentou à Operação Braços Abertos propostas de alcance no mínimo duvidoso para cuidar do problema dos viciados de crack. Às cerca de 300 pessoas que ocupam os barracos e que já começaram a desmontá-los, com a ajuda e supervisão de pessoal da Prefeitura, serão oferecidas acomodações em quatro hotéis da região, com diárias pagas pelo governo municipal por tempo indeterminado. Em contrapartida, elas terão de trabalhar quatro horas por dia na varrição de ruas.
Além disso, deverão frequentar durante duas horas diárias cursos de capacitação profissional. Na área de saúde, elas continuarão dispondo dos tratamentos já oferecidos, em parceria da Prefeitura com o governo do Estado, para os dependentes de drogas. Pelo trabalho de varrição, elas receberão salário de R$ 15 por dia, pago a cada semana. Quem eventualmente não for trabalhar, por falta de condições por causa do uso de droga, mas procurar ajuda na rede de saúde, receberá o salário normalmente.
Assistência para moradia, trabalho remunerado, estudo e tratamento médico - a receita aparentemente é boa. Como as aparências enganam, é preciso chamar a atenção para aspectos altamente negativos da operação. Com a maioria das necessidades básicas garantidas, a começar por onde morar, salta aos olhos que a maior parte do dinheiro ganho pelos dependentes quase certamente irá para comprar crack e, como essa é uma droga barata, poderão com ele sustentar seu vício. Aliás, a Prefeitura deixa claro que seu objetivo nesse caso não é acabar com o vício, mas reduzir os danos da situação em que se encontram os dependentes.
O que garante que muitos dos demais dependentes que moram na região não construirão novas favelinhas para serem derrubadas em seguida e lhes garantir os mesmos benefícios? Além disso, como lembra o promotor de Justiça Marcelo Luiz Barone, os hotéis alugados para abrigar os dependentes devem "virar verdadeiros antros de tráfico, de promiscuidade, de doenças". Em resumo, a aparente boa ideia pode se transformar num pesadelo.
O problema da Cracolândia é complicado demais para ser tratado dessa forma. Enfrentá-lo para valer exige ações coordenadas de tratamento médico e assistência social aos dependentes e às suas famílias, assim como policiamento para garantir segurança na região e, sobretudo, combate ao tráfico de drogas, que ali corre solto, ao ar livre, dia e noite. Sem atacar o problema por esses dois lados, não se avançará. Mas isso exige tanto da Prefeitura como do Estado uma disposição de cooperar e uma coragem que até agora não demonstraram. Por isso, não se vai além de operações de muito barulho e poucos resultados.
Infelizmente acho que esta medida é somente para "esconder" os pobres coitados, em ano de Copa do Mundo de Futebol. Mais um fato vergonhoso, para a lista de coisas malfeitas pelo atual prefeito. Fabio
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