Quem ganha se o #nãovaiterCopa e o #vaiterCopa se tornarem uma disputa insana?
Renato Rovai (*)
Há razões objetivas para se opor à realização da Copa do Mundo no Brasil, principalmente do ponto de vista de como o processo foi conduzido por diferentes instâncias do pacto federativo. Há razões objetivas no discurso dos que apontam que não há como retroceder na realização de um evento que é, de alguma forma, apoiado por grande parte da população. São as disputas e as posições antagônicas que legitimam a democracia. E um país se mostra minimamente maduro quando convive com isso com o mínimo de civilidade política.
Essas posições, porém, estão transformando as redes sociais não mais num espaço de debate de ideias. Mas num campo de batalha irracional. Em que mesmo intelectuais e militantes sérios e responsáveis assumiram a agressão verbal, a desqualificação do interlocutor e teses absurdas como instrumento de debate.
Essa é uma parte triste dessa história, mas talvez a menos perigosa.
O mais arriscado disso tudo é que boa parte desta disputa está se dando dentro de um campo de posições que são mais próximas ao que se convencionou chamar de esquerda.
E enquanto isso, a direita raivosa lambe os lábios.
O discurso dos que controlam as policias nos estados, por exemplo, tem se tornado cada dia mais duro. A palavra repressão passou a ser utilizada sem a menor cerimônia.
Ao mesmo tempo há gente dentro do governo federal buscando implementar no Brasil uma política anti-terrorismo. É o discurso da ordem, contra os riscos à democracia.
Um discurso que tem uma imensa força nos setores policiais e militares.
Um discurso que também, por contraditório que possa parecer, tem força entre os setores organizados do crime. E que interessa na disputa geopolítica a interesses externos.
Há muita gente interessada na radicalização contra os direitos humanos e à democracia.
E esperando oportunidades para que sua ação contra esses valores tenha legitimidade.
E não se está falando aqui do PSDB ou de outros partidos do campo democrático que estejam do centro para a direita do espectro político.
Sim, esse blogueiro acha que o PSDB faz parte do campo democrático.
E também acha que de certa forma ele civiliza a direita no país.
As posições de direita no Brasil são muito, mas muito piores do que o PSDB.
Está se falando aqui de um grupo que atua nas sombras e que defende posições nazi-fascistas.
Esse pessoal ainda é uma imensa minoria, mas ao mesmo tempo é muito maior do que imaginam alguns. E estão cada dia mais organizados.
Para eles o que mais interessa é criar o medo da esquerda.
O medo dos movimentos sociais. O medo da baderna. O medo do vandalismo.
E deste medo, produzem suas soluções.
Os movimentos que têm responsabilidade política e independente de se defendem o #VaiterCopa ou o #NãoVaiterCopa podem ser inconciliáveis nas opiniões, mas poderiam ser ao menos mais atentos em relação a outras forças que estão atuando nas brechas dessa disputa.
Abrir mão da tática da violência pode ser um caminho. O chamado direito à resistência contra a opressão na atual conjuntura só interessa aos opressores.
Ele permite o argumento perfeito para que se possa utilizar mais força e violência para oprimir. As bombas de latinhas de cerveja são brinquedos de criança.
E os colchões pegando fogo só assustam a população civil que está no local do tumulto.
A polícia vai estar cada vez mais preparada para massacrar manifestantes nessas situações. E a população por medo, como sempre, tende a cada vez mais a apoiar o uso da força.
Mas ao mesmo tempo, convenhamos, dizer que a Gaviões da Fiel ou seja lá qual for a torcida organizada vai botar ordem na casa quando as manifestações se aproximarem do Itaquerão também é o fim da picada. É jogar no lixo toda a construção histórica de esquerda e apostar na barbárie.
É o caminho da insanidade. De uma disputa por posições supostamente de esquerda que não levam a lugar nenhum. Que dizer, levam. A um lugar que pode ser muito perigoso.
(*) Jornalista, mestre em comunicação, editor da Revista Fórum, midialivrista e blogueiro
Renato Rovai (*)
Há razões objetivas para se opor à realização da Copa do Mundo no Brasil, principalmente do ponto de vista de como o processo foi conduzido por diferentes instâncias do pacto federativo. Há razões objetivas no discurso dos que apontam que não há como retroceder na realização de um evento que é, de alguma forma, apoiado por grande parte da população. São as disputas e as posições antagônicas que legitimam a democracia. E um país se mostra minimamente maduro quando convive com isso com o mínimo de civilidade política.
Essas posições, porém, estão transformando as redes sociais não mais num espaço de debate de ideias. Mas num campo de batalha irracional. Em que mesmo intelectuais e militantes sérios e responsáveis assumiram a agressão verbal, a desqualificação do interlocutor e teses absurdas como instrumento de debate.
Essa é uma parte triste dessa história, mas talvez a menos perigosa.
O mais arriscado disso tudo é que boa parte desta disputa está se dando dentro de um campo de posições que são mais próximas ao que se convencionou chamar de esquerda.
E enquanto isso, a direita raivosa lambe os lábios.
O discurso dos que controlam as policias nos estados, por exemplo, tem se tornado cada dia mais duro. A palavra repressão passou a ser utilizada sem a menor cerimônia.
Ao mesmo tempo há gente dentro do governo federal buscando implementar no Brasil uma política anti-terrorismo. É o discurso da ordem, contra os riscos à democracia.
Um discurso que tem uma imensa força nos setores policiais e militares.
Um discurso que também, por contraditório que possa parecer, tem força entre os setores organizados do crime. E que interessa na disputa geopolítica a interesses externos.
Há muita gente interessada na radicalização contra os direitos humanos e à democracia.
E esperando oportunidades para que sua ação contra esses valores tenha legitimidade.
E não se está falando aqui do PSDB ou de outros partidos do campo democrático que estejam do centro para a direita do espectro político.
Sim, esse blogueiro acha que o PSDB faz parte do campo democrático.
E também acha que de certa forma ele civiliza a direita no país.
As posições de direita no Brasil são muito, mas muito piores do que o PSDB.
Está se falando aqui de um grupo que atua nas sombras e que defende posições nazi-fascistas.
Esse pessoal ainda é uma imensa minoria, mas ao mesmo tempo é muito maior do que imaginam alguns. E estão cada dia mais organizados.
Para eles o que mais interessa é criar o medo da esquerda.
O medo dos movimentos sociais. O medo da baderna. O medo do vandalismo.
E deste medo, produzem suas soluções.
Os movimentos que têm responsabilidade política e independente de se defendem o #VaiterCopa ou o #NãoVaiterCopa podem ser inconciliáveis nas opiniões, mas poderiam ser ao menos mais atentos em relação a outras forças que estão atuando nas brechas dessa disputa.
Abrir mão da tática da violência pode ser um caminho. O chamado direito à resistência contra a opressão na atual conjuntura só interessa aos opressores.
Ele permite o argumento perfeito para que se possa utilizar mais força e violência para oprimir. As bombas de latinhas de cerveja são brinquedos de criança.
E os colchões pegando fogo só assustam a população civil que está no local do tumulto.
A polícia vai estar cada vez mais preparada para massacrar manifestantes nessas situações. E a população por medo, como sempre, tende a cada vez mais a apoiar o uso da força.
Mas ao mesmo tempo, convenhamos, dizer que a Gaviões da Fiel ou seja lá qual for a torcida organizada vai botar ordem na casa quando as manifestações se aproximarem do Itaquerão também é o fim da picada. É jogar no lixo toda a construção histórica de esquerda e apostar na barbárie.
É o caminho da insanidade. De uma disputa por posições supostamente de esquerda que não levam a lugar nenhum. Que dizer, levam. A um lugar que pode ser muito perigoso.
(*) Jornalista, mestre em comunicação, editor da Revista Fórum, midialivrista e blogueiro
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