Brian Homewood (*) para Reuters
A Fifa tem se esforçado para esconder a irritação com os problemas nos preparativos do Brasil para a Copa do Mundo deste ano, mas a entidade que comanda o futebol mundial não pode dizer que não foi alertada.
Os sinais de perigo eram claros desde 2007, quando o Rio de Janeiro sofreu para organizar os Jogos Pan-Americanos.
Estouros de orçamentos, uma expansão do metrô que nunca aconteceu, atrasos e problemas constantes na construção dos locais de competição --muitos dos quais finalizados no último minuto--, deveriam fazer soar o alarme em Zurique.
Mesmo assim, apenas três meses depois, o único candidato a sediar a Copa de 2014, sob o então sistema da Fifa de rotação do torneio pelos continentes, levou a competição sem oposição.
Temas como a obsoleta infraestrutura brasileira, problemas sociais e a violência foram colocados de lado, em meio aos elogios feitos ao Brasil pelas conquistas dentro de campo.
Nos seis anos e meio que se passaram, aconteceu com a Copa do Mundo muito do que ocorreu com o Pan.
Sem poder fazer muito, a Fifa assiste aos organizadores brasileiros não cumprirem prazos, ignorarem os orçamentos iniciais e engavetarem projetos de infraestrutura que representariam um legado da Copa.
Num exemplo recente, a Fifa alertou em maio passado que todos os 12 estádios da Copa do Mundo deveriam estar prontos no fim de 2013 e que atrasos não seriam tolerados. Seis estádios não cumpriram o prazo, e mesmo assim a Fifa nada fez.
RECURSOS PÚBLICOS
O tempo tem sido particularmente cruel com o relatório de inspeção no qual a entidade baseou sua decisão de entregar a Copa do Mundo de 2014 ao Brasil.
"O modelo brasileiro para a Copa do Mundo é dar prioridade ao financiamento privado na construção e nas reformas dos estádios por intermédio de concessões de longo prazo e parcerias público-privadas", afirmaram na época os inspetores da Fifa.
"O objetivo é construir estádios modernos que sigam os requisitos da Fifa, enquanto os recursos públicos são usados em infraestrutura básica, principalmente segurança, aeroportos, estradas e hospitais."
Em vez disso, recursos públicos foram usados para construir estádios, diretamente ou por meio de isenções e empréstimos subsidiados, e muito da infraestrutura prometida não foi viabilizada.
O transporte aéreo tem sido uma grande dor de cabeça, mesmo assim o relatório da Fifa disse no passado que não havia motivos para preocupação.
"A equipe de inspeção concluiu que o Brasil tem a infraestrutura de transporte aéreo necessária para lidar com o número de visitantes internacionais, assim como com o público que desejar viajar de uma sede para a outra para assistir às partidas", disse o documento.
ENVOLVIMENTO
Quando a África do Sul foi sede da Copa há quatro anos, a Fifa se envolveu mais no processo.
O Brasil, no entanto, fez as coisas do seu jeito, de uma maneira que poucos imaginariam, especialmente considerando que a Fifa sobrevive em boa parte dos recursos da Copa do Mundo.
A Fifa queria de oito a dez sedes para reduzir os problemas logísticos, mas acabou concordando em permitir que o Brasil usasse 12.
Os organizadores locais então decidiram que as seleções viajariam pelo país em vez de disputar os jogos da fase de grupo numa única sede, aumentando o pesadelo logístico.
A Fifa periodicamente ameaçou e criticou os anfitriões, mas depois recuou diante das previsíveis reações indignadas do Brasil, que se orgulha de ser o "país do futebol".
"A Fifa não tem o controle que gostaria sobre a Copa no Brasil", afirmou Christopher Gaffney, pesquisador e professor visitante da Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro. "Pode ter havido uma falta de entendimento sobre o jeitinho brasileiro", acrescentou.
"A opinião geral no Brasil é que a Fifa tem feito tudo o que quer em termos de benefícios fiscais e políticos e deve deixar os brasileiros tomarem conta da realização do torneio."
MENOS DEMOCRACIA
A frustração da Fifa com as três esferas de poder no Brasil, a municipal, a estadual e a federal, foi exposta de maneira pouco sábia por seu secretário-geral, Jérôme Valcke, em abril.
"Menos democracia é às vezes melhor para organizar uma Copa do Mundo", disse ele. "Quando você tem um forte chefe de Estado, que pode decidir, como talvez Vladimir Putin possa fazer em 2018, isso é mais fácil para os organizadores."
Segundo Gaffney, a Fifa parece desorientada.
"A complexidade da estrutura governamental brasileira para o evento faz com que mesmo a Fifa não tenha ideia de onde buscar respostas."
Diante de tal cenário, tudo que a Fifa pode fazer é cruzar os dedos e falar de confiança mútua.
"Não há problemas", disse o presidente da entidade, Joseph Blatter, na quinta-feira, após encontro com a presidente Dilma Rousseff na sede da Fifa, em Zurique.
"No fim das contas, tudo estará em ordem em todos os lugares do Brasil."
(*) Jornalista escreve para Reuters
A Fifa tem se esforçado para esconder a irritação com os problemas nos preparativos do Brasil para a Copa do Mundo deste ano, mas a entidade que comanda o futebol mundial não pode dizer que não foi alertada.
Os sinais de perigo eram claros desde 2007, quando o Rio de Janeiro sofreu para organizar os Jogos Pan-Americanos.
Estouros de orçamentos, uma expansão do metrô que nunca aconteceu, atrasos e problemas constantes na construção dos locais de competição --muitos dos quais finalizados no último minuto--, deveriam fazer soar o alarme em Zurique.
Mesmo assim, apenas três meses depois, o único candidato a sediar a Copa de 2014, sob o então sistema da Fifa de rotação do torneio pelos continentes, levou a competição sem oposição.
Temas como a obsoleta infraestrutura brasileira, problemas sociais e a violência foram colocados de lado, em meio aos elogios feitos ao Brasil pelas conquistas dentro de campo.
Nos seis anos e meio que se passaram, aconteceu com a Copa do Mundo muito do que ocorreu com o Pan.
Sem poder fazer muito, a Fifa assiste aos organizadores brasileiros não cumprirem prazos, ignorarem os orçamentos iniciais e engavetarem projetos de infraestrutura que representariam um legado da Copa.
Num exemplo recente, a Fifa alertou em maio passado que todos os 12 estádios da Copa do Mundo deveriam estar prontos no fim de 2013 e que atrasos não seriam tolerados. Seis estádios não cumpriram o prazo, e mesmo assim a Fifa nada fez.
RECURSOS PÚBLICOS
O tempo tem sido particularmente cruel com o relatório de inspeção no qual a entidade baseou sua decisão de entregar a Copa do Mundo de 2014 ao Brasil.
"O modelo brasileiro para a Copa do Mundo é dar prioridade ao financiamento privado na construção e nas reformas dos estádios por intermédio de concessões de longo prazo e parcerias público-privadas", afirmaram na época os inspetores da Fifa.
"O objetivo é construir estádios modernos que sigam os requisitos da Fifa, enquanto os recursos públicos são usados em infraestrutura básica, principalmente segurança, aeroportos, estradas e hospitais."
Em vez disso, recursos públicos foram usados para construir estádios, diretamente ou por meio de isenções e empréstimos subsidiados, e muito da infraestrutura prometida não foi viabilizada.
O transporte aéreo tem sido uma grande dor de cabeça, mesmo assim o relatório da Fifa disse no passado que não havia motivos para preocupação.
"A equipe de inspeção concluiu que o Brasil tem a infraestrutura de transporte aéreo necessária para lidar com o número de visitantes internacionais, assim como com o público que desejar viajar de uma sede para a outra para assistir às partidas", disse o documento.
ENVOLVIMENTO
Quando a África do Sul foi sede da Copa há quatro anos, a Fifa se envolveu mais no processo.
O Brasil, no entanto, fez as coisas do seu jeito, de uma maneira que poucos imaginariam, especialmente considerando que a Fifa sobrevive em boa parte dos recursos da Copa do Mundo.
A Fifa queria de oito a dez sedes para reduzir os problemas logísticos, mas acabou concordando em permitir que o Brasil usasse 12.
Os organizadores locais então decidiram que as seleções viajariam pelo país em vez de disputar os jogos da fase de grupo numa única sede, aumentando o pesadelo logístico.
A Fifa periodicamente ameaçou e criticou os anfitriões, mas depois recuou diante das previsíveis reações indignadas do Brasil, que se orgulha de ser o "país do futebol".
"A Fifa não tem o controle que gostaria sobre a Copa no Brasil", afirmou Christopher Gaffney, pesquisador e professor visitante da Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro. "Pode ter havido uma falta de entendimento sobre o jeitinho brasileiro", acrescentou.
"A opinião geral no Brasil é que a Fifa tem feito tudo o que quer em termos de benefícios fiscais e políticos e deve deixar os brasileiros tomarem conta da realização do torneio."
MENOS DEMOCRACIA
A frustração da Fifa com as três esferas de poder no Brasil, a municipal, a estadual e a federal, foi exposta de maneira pouco sábia por seu secretário-geral, Jérôme Valcke, em abril.
"Menos democracia é às vezes melhor para organizar uma Copa do Mundo", disse ele. "Quando você tem um forte chefe de Estado, que pode decidir, como talvez Vladimir Putin possa fazer em 2018, isso é mais fácil para os organizadores."
Segundo Gaffney, a Fifa parece desorientada.
"A complexidade da estrutura governamental brasileira para o evento faz com que mesmo a Fifa não tenha ideia de onde buscar respostas."
Diante de tal cenário, tudo que a Fifa pode fazer é cruzar os dedos e falar de confiança mútua.
"Não há problemas", disse o presidente da entidade, Joseph Blatter, na quinta-feira, após encontro com a presidente Dilma Rousseff na sede da Fifa, em Zurique.
"No fim das contas, tudo estará em ordem em todos os lugares do Brasil."
(*) Jornalista escreve para Reuters
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