Humberto Luiz Peron (*)
É até aceitável que os técnicos tenham suas preferências na hora de armar sua equipe. Mas, quando eles estão trabalhando em times se torna obrigatório que o comandante coloque em campo seus melhores jogadores, nem que para isso ele precise mudar seus conceitos de jogo.
Em clubes, nunca é bom ter jogadores de níveis semelhantes disputando posições. Por mais que o futebol tenha mudado e atualmente exista um rodízio constante nas escalações é importante que fique claro qual jogador é titular e qual é reserva.
Não existe o tão falado "problema bom" quando o treinador conta com várias alternativas para a mesma posição, porque o técnico sempre vai ser questionado sobre a opção escolhida.
Quando o técnico deixa claro que dois jogadores não podem jogar juntos no mesmo time, ele coloca uma pressão desnecessária naquele que começa jogando, pois ele sabe que, se qualquer coisa não andar como o planejado, ele vai ser substituído durante a partida.
Nessa disputa cega pela posição, a equipe perde a chance de ter dois bons jogadores atuando juntos para ter um atleta candidato a ser o vilão do mau desempenho da equipe.
Com a ideia defensiva de nossos treinadores, eles não pensam duas vezes em escalar dois ou três volantes numa equipe, mas são muito conservadores quando podem colocar em campo dois meias ofensivos juntos, como acontece agora no Palmeiras, com Valdívia e Daniel Carvalho.
No caso do Palmeiras, Felipão pode até dizer que com os dois em campo o time fica exposto com os dois habilidosos meias ao mesmo tempo no gramado, mas, como já comentei, cabe ao técnico achar uma maneira para que o time se acerte com os dois em campo, como, por exemplo, segurar o avanço dos laterais, posicionar melhor os volantes e cobrar que os meias e os atacantes cerquem a saída de bola dos volantes adversários.
Também não se pode esquecer que, com essa dupla de meias, os adversários vão ter de se preocupar em policiar dois jogadores que podem armar as jogadas e não apenas um. O que vai fazer o adversário ter uma postura mais cuidadosa e prender mais um jogador na marcação.
Bons atletas preferem atuar ao lado de jogadores técnicos e alguém pode dar continuidade às jogadas que ele cria. É muito mais fácil você acertar uma equipe composta de jogadores talentosos do que uma equipe de operários - que, por mais acertada que possa ser sempre vai negar fogo, por falta de talento, em jogos decisivos.
É sabido que a reunião de atletas que teoricamente nunca poderiam jogar juntos sempre formou times excelentes.
A seleção de 1970 é um grande exemplo disso, quando juntou no seu setor ofensivo jogadores de mesma posição, como Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivellino, e todos acharam seu papel em campo.
Eu sei que a lembrança da seleção do tri pode ser uma exceção, mas temos em clubes outros bons exemplos. No Flamengo, campeão do Mundo em 1981, encontrou-se uma maneira para que Tita e Lico entrassem no time.
Já no forte Palmeiras do início da década de 1990, o trio formado por Edmundo, Evair e Edílson também conseguiu atuar junto, e logo depois ainda chegou-se a uma forma para que dois canhotos, Zinho e Rivaldo, estivessem no campo ao mesmo tempo. Teve também o Corinthians, que ganhou tudo no final dos anos 1990, jogando com Rincón adaptado na posição de volante.
Com cada vez menos talentos nos nossos gramados é fundamental que o treinador descubra uma forma para que os melhores jogadores sempre possam atuar juntos.
(*) Jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance".
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