São Paulo de joelhos diante das torcidas organizadas. Alckmin, Kassab, Ministério Público, Polícia Civil, Polícia Militar… Todos assistem impassíveis ao rodízio de assassinatos. Só falta a pipoca…
"Eles começaram a se aproximar.
A PM ficou no meio das duas torcidas.
Mas teve uma hora em que a integridade física da gente ficou comprometida.
E não houve aproximação.
Eles estavam usando fogos de artifícios, bombas.
E a policia não teve outra saída a não ser recuar.
E, infelizmente, praticamente assistiu ao conflito."
O relato é do cabo da Polícia Militar, Adriano Lopomo.
Ele fazia parte do comboio de proteção ao ônibus do Palmeiras que ia para o clássico ontem~.
Ou seja, a polícia da cidade mais rica da América Latina fugiu.
E só assistiu a mais de 400 palmeirenses e corintianos se massacrarem na avenida Inajar de Souza.
A movimentada avenida da Zona Norte fica no caminho do Pacaembu.
Não tinham a menor ideia do conflito marcado.
Os membros das torcidas organizadas estavam armados.
Com barras de ferro, socos ingleses, facas, revólveres.
André Alves, 21 anos, tomou um tiro na cabeça e morreu.
Ele era membro da Mancha Alvi Verde.
Em agosto do ano passado, seu irmão Lucas foi baleado na perna.
Estava em uma briga entre corintianos e palmeirenses.
Lucas foi tratado como um herói por ter tomado o tiro.
E assumiu a vice presidência da Mancha.
Na briga houve mais dois feridos graves.
Um tomou um tiro na bacia.
E outro teve traumatismo craniano.
Recebeu vários golpes com uma barra de ferro na cabeça.
Uma mãe ontem à noite foi flagrada no Hospital da Cachoeirinha.
Ela esperava para visitar o filho.
Ele teve quase todos os dedos das mãos quebrados por corintianos na briga.
O bárbaro conflito de ontem que fez a polícia fugir e ver de longe foi uma vingança.
Torcedores revelam os corintianos cobraram a morte de Douglas Silva em agosto de 2011.
Ele foi perseguido e massacrado por palmeirenses.
Torcedores da Mancha juram que a morte de André não será em vão.
Terá volta.
Mais sangue está prometido...
Essa é apenas a triste rotina em São Paulo.
Há décadas, desde o surgimento das torcidas organizadas, é a mesma coisa.
As brigas se tornam cada vez mais violentas, covardes.
E traiçoeiras.
Uma facção enfrenta a outra em vantagem numérica.
Parte para o massacre desproporcional.
Mata um ou dois e fere inúmeros.
Depois há a revanche.
Quem teve um morto hoje só sossegará quando fizer o seu, do outro lado.
O Ministério Público faz um papel lamentável.
Jura que exigirá que a Polícia Civil investigue as torcidas.
O ato mais bélico que São Paulo fez contra as organizadas acabou ridicularizado.
Extinguiu a Mancha Verde do Palmeiras.
E a Independente do São Paulo.
As duas foram extintas em 1995.
Por causa de uma briga generalizada em pleno estádio do Pacaembu.
Saldo: 110 feridos.
E a morte de Márcio Gasperin da Silva.
A situação de envergonhar qualquer país foi o que aconteceu com as torcidas.
A Mancha Verde foi extinta.
Os mesmos membros da organizada fundaram a Mancha Alviverde.
E os chefes da Independente criaram a Independete Tricolor.
Tudo ficou na mesma.
O Ministério Público, a Policia Civil e a Policia Militar foram ridicularizados pelos torcedores.
Os presidentes dos clubes dão guarida e dinheiro às organizadas.
O Carnaval virou refúgio, demonstração de poder e lucro.
Levaram medo ao sambódromo.
O desespero é montar desfiles onde os torcedores não se encontrem.
O vexame mundial na apuração das notas das Escolas de São Paulo teve a participação dos
torcedores.
Nem a queima de carros alegóricos fez com que as autoridades agissem.
Em Campinas houve uma guerra marcada entre torcedores do Guarani e Ponte.
Um torcedor morreu na semana passada, Anderson Ferreira.
Ele pertencia à organizada do Guarani.
Houve a promessa de vingança contra a torcida da Ponte.
São Paulo é refém das organizadas.
O governador Alckmin e o prefeito Kassab não se manifestam.
Dizem que a legislação precisa ser mudada.
E lavam as mãos.
Políticos não querem enfrentar as organizadas.
Ainda mais em ano eleitoral.
Sabem que podem se prejudicar.
Não há vontade, disposição.
Policiais poderiam se infiltrar entre as organizadas e separar os criminosos dos inocentes.
Há várias denúncias além das brigas.
Vão desde criminosos com penas a cumprir até a refúgio de traficantes.
A Polícia Civil não averigua e prende os bandidos das organizadas porque não quer.
Ninguém a manda trabalhar, cumprir o seu dever.
Com as mãos sujas de sangue, São Paulo vai contando seus mortos.
E, por antecipação, vai cavando novas covas para os que virão...
(*) Jornalista esportivo e que atuou no Jornal da Tarde/SPo por 22 anos
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