segunda-feira, 26 de março de 2012

Torcida Organizada ou Marginais

São Paulo de joelhos diante das torcidas organizadas. Alckmin, Kassab, Ministério Público, Polícia Civil, Polícia Militar… Todos assistem impassíveis ao rodízio de assassinatos. Só falta a pipoca…

Cosme Rímoli (*)

"Eles começaram a se aproximar.
A PM ficou no meio das duas torcidas.
Mas teve uma hora em que a integridade física da gente ficou comprometida.
E não houve aproximação.

Eles estavam usando fogos de artifícios, bombas.
E a policia não teve outra saída a não ser recuar.
E, infelizmente, praticamente assistiu ao conflito."
O relato é do cabo da Polícia Militar, Adriano Lopomo.

Ele fazia parte do comboio de proteção ao ônibus do Palmeiras que ia para o clássico ontem~.
Ou seja, a polícia da cidade mais rica da América Latina fugiu.
E só assistiu a mais de 400 palmeirenses e corintianos se massacrarem na avenida Inajar de Souza.
A movimentada avenida da Zona Norte fica no caminho do Pacaembu.

Foi por acaso que os policiais viram a briga.
Não tinham a menor ideia do conflito marcado.
Os membros das torcidas organizadas estavam armados.
Com barras de ferro, socos ingleses, facas, revólveres.

André Alves, 21 anos, tomou um tiro na cabeça e morreu.
Ele era membro da Mancha Alvi Verde.
Em agosto do ano passado, seu irmão Lucas foi baleado na perna.
Estava em uma briga entre corintianos e palmeirenses.

Lucas foi tratado como um herói por ter tomado o tiro.
E assumiu a vice presidência da Mancha.
Na briga houve mais dois feridos graves.
Um tomou um tiro na bacia.

E outro teve traumatismo craniano.
Recebeu vários golpes com uma barra de ferro na cabeça.
Uma mãe ontem à noite foi flagrada no Hospital da Cachoeirinha.
Ela esperava para visitar o filho.

Ele teve quase todos os dedos das mãos quebrados por corintianos na briga.
O bárbaro conflito de ontem que fez a polícia fugir e ver de longe foi uma vingança.
Torcedores revelam os corintianos cobraram a morte de Douglas Silva em agosto de 2011.
Ele foi perseguido e massacrado por palmeirenses.

Torcedores da Mancha juram que a morte de André não será em vão.
Terá volta.
Mais sangue está prometido...
Essa é apenas a triste rotina em São Paulo.

Há décadas, desde o surgimento das torcidas organizadas, é a mesma coisa.
As brigas se tornam cada vez mais violentas, covardes.
E traiçoeiras.
Uma facção enfrenta a outra em vantagem numérica.

Parte para o massacre desproporcional.
Mata um ou dois e fere inúmeros.
Depois há a revanche.
Quem teve um morto hoje só sossegará quando fizer o seu, do outro lado.

O Ministério Público faz um papel lamentável.
Jura que exigirá que a Polícia Civil investigue as torcidas.
O ato mais bélico que São Paulo fez contra as organizadas acabou ridicularizado.
Extinguiu a Mancha Verde do Palmeiras.

E a Independente do São Paulo.
As duas foram extintas em 1995.
Por causa de uma briga generalizada em pleno estádio do Pacaembu.
Saldo: 110 feridos.

E a morte de Márcio Gasperin da Silva.
A situação de envergonhar qualquer país foi o que aconteceu com as torcidas.
A Mancha Verde foi extinta.
Os mesmos membros da organizada fundaram a Mancha Alviverde.

E os chefes da Independente criaram a Independete Tricolor.
Tudo ficou na mesma.
O Ministério Público, a Policia Civil e a Policia Militar foram ridicularizados pelos torcedores.
Os presidentes dos clubes dão guarida e dinheiro às organizadas.

O Carnaval virou refúgio, demonstração de poder e lucro.
Levaram medo ao sambódromo.
O desespero é montar desfiles onde os torcedores não se encontrem.
O vexame mundial na apuração das notas das Escolas de São Paulo teve a participação dos 
torcedores.
Nem a queima de carros alegóricos fez com que as autoridades agissem.

Em Campinas houve uma guerra marcada entre torcedores do Guarani e Ponte.
Um torcedor morreu na semana passada, Anderson Ferreira.
Ele pertencia à organizada do Guarani.
Houve a promessa de vingança contra a torcida da Ponte.

São Paulo é refém das organizadas.
O governador Alckmin e o prefeito Kassab não se manifestam.
Dizem que a legislação precisa ser mudada.
E lavam as mãos.

Políticos não querem enfrentar as organizadas.
Ainda mais em ano eleitoral.
Sabem que podem se prejudicar.
Não há vontade, disposição.

Policiais poderiam se infiltrar entre as organizadas e separar os criminosos dos inocentes.
Há várias denúncias além das brigas.
Vão desde criminosos com penas a cumprir até a refúgio de traficantes.
A Polícia Civil não averigua e prende os bandidos das organizadas porque não quer.

Ninguém a manda trabalhar, cumprir o seu dever.
Com as mãos sujas de sangue, São Paulo vai contando seus mortos.
E, por antecipação, vai cavando novas covas para os que virão...
 
(*) Jornalista esportivo e que atuou no Jornal da Tarde/SPo por 22 anos 
 

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