Antenor Pereira Giovannini (*)
Hoje o jornal Gazeta de Santarém traz em sua capa uma das vergonhas santarenas mais evidentes (álias já rabiscamos aqui no blog) e que tem pelo poder público um descaso humanitário.
O que ocorre no que eles chamam de portinho na Praça Tiradentes é o reflexo da incapacidade administrativa de todos os que passaram pela Prefeitura até hoje.
Capa do jornal Gazeta de Santarém |
Santarém é uma cidade ribeirinha.
Nasceu do rio, cresceu em função ao rio, viveu e vive do rio e em 350 anos de vida não tiveram a capacidade e o discernimento de ao longo dos anos montarem uma estrutura que servisse como uma hidroviária.
Aliado a isso Santarém é uma cidade que não usa o seu Código de Postura e em conseqüência cada um faz o que quer da orla junto ao rio Tapajós, principalmente.
Na chamada Praça de Tiradentes há um arremedo de acesso aos barcos que quando a vazante está cheia os barcos atracam junto à orla prejudicando seriamente a sua estrutura com os constantes e sucessivos impactos.
Na vazante baixa o rio chega a ficar 150/200 metros da orla e o passageiro se vê obrigado a caminhar ou por uma passarela de madeira improvisada se o seu barco se encontrar junto a ela ou então caminhar pela areia fétida que se mistura aos diversos filetes de esgoto lançados ao rio por vários canos.
Já as cargas, as quais se misturam com os passageiros, são levadas por homens que acabam fazendo um trabalho escravo orla-barco-orla sem qualquer proteção, na maioria das vezes num sol escaldante para conseguirem seu ganha-pão.
Há anúncios do atual governo que uma hidroviária está sendo construída.
Mas a coisa anda de forma lenta e certamente é muito pouco provável que ainda seja pronta no atual governo.
De qualquer modo há um descompasso total onde nem mesmo a questão humanitária é colocada como prioridade, para que nessa atual praça se fizesse pelo menos um "engana que eu gosto" para que a população não precisasse subir que nem macaco para ter acesso na orla como mostra a foto da reportagem.
E as pessoas de idades? E as pessoas doentes que vem das diversas colônias se tratarem em Santarém? Ou que saem de Santarém de retorno às suas casas?
Não há o mínimo respeito. É um descaso. É uma vergonha total.
Isso me leva alguns anos atrás quando recebi a noticia que o pai da Daniela (Sr Milton) sofrera um infarto na comunidade de Aritapera em seu sitio e que estava sendo trazido por um barco de linha. Com apoio da lancha do Corpo de Bombeiros tivemos condições de alçar o barco e acelerar a sua chegada até a orla onde uma ambulância o aguardava. Tristeza e revolta ao chegar à orla e não encontrar um local sequer para encostar a lancha e poder colocá-lo na ambulância. Alternativa foi transportá-lo numa maca sobre os ombros dos bombeiros , pulando vários barcos até chegar à orla. A conseqüência foi um AVC que o fez ficar paralisado do lado direito e sem fala, o colocando numa cadeira de rodas para o resto dos seus dias.
Uma certeza foi dada pelos médicos : esse movimento brusco e totalmente fora do comum acelerou o processo do infarto lhe provocando outras seqüelas. Motivo: não temos uma hidroviária.
Cidades menores ao redor conseguem ter uma hidroviária simples, mas equipadas com sanitários, sala de espera, bilheteria e dessa forma aguardar a chegada do barco anunciada por alto falantes. Tanto para chegada como para partida há um local confortável que se pode chamar de hidroviária como em qualquer cidade ribeirinha por esse País. As cargas, em outro ponto, são colocadas de forma ordenada como deve ser o procedimento.
Santarém, 350 anos, vivendo do rio e não tem uma hidroviária.
(*) Aposentado e morador em Santarém
Estive recentemente em Santarém e região a trabalho e vivenciei essa situação. O senhor tem razão em descrever como uma vergonha. Para uma cidade do porte e importância de Santarém para a região, é simplesmente absurdo ela não ter uma hidroviária decente aonde os visitantes e também que vive na região, possa ter acesso aos barcos. Fiquei impressionado vendo esse enorme estacionamento de barcos junto a orla e quem quiser pergar o seu que vá atrás . Parabéns pela exposição. Santarém e os visitantes não merecem esse descaso das autoridades.
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