terça-feira, 20 de março de 2012

O Leão sabe das coisas, Lucas

Blog do Cajú para o Jornal da Tarde/SP 
(Paulo César Cajú)

O garoto Lucas jogou muita bola na vitória sobre o Santos, e espero que ele tenha aprendido que tem mais a ganhar se der ouvidos ao Leão do que ao seu empresário. Se ficar dando atenção para o Wagner Ribeiro sobre como deve jogar está roubado.

Ele é muito novo, está começando a carreira e ainda precisa amadurecer. O que o Leão quis dizer quando lhe deu aquele toque é que é preciso entender que tem hora para tudo: hora para driblar, hora para tocar de lado, hora para acelerar o ritmo, hora para diminuir…

Com a velocidade e a explosão que tem – e que, como eu já escrevi aqui algumas vezes, me lembram o Jairzinho Furacão no começo da carreira –, ele precisa se dosar para estar com a caixa cheia quando for a hora de dar uma arrancada.

Se quiser encarar o marcador toda vez que pega na bola, vai apanhar mais e se desgastar além da conta. Só quem se dava bem fazendo a mesma jogada quase toda vez que recebia a redonda era o Garrincha, mas o Mané era de outro planeta.

Ano passado li uma entrevista do Rivaldo aqui no JT em que ele disse que o Lucas ter á de mudar o estilo de jogar quando for para a Europa, porque lá esse negócio de pegar a bola e ir para o drible toda hora não é bem visto. É isso mesmo, lá a habilidade tem de ser colocada a serviço do jogo coletivo. Você joga para o time, e quando tem a chance de usar sua velocidade e sua habilidade para desequilibrar, vai em frente que todo mundo vai aplaudir.

O exemplo perfeito disso é o Messi no Barcelona. Ele vem buscar a bola no meio do campo ou às vezes recebe um passe na intermediária, mas só arranca em direção ao gol quando vê que tem espaço para isso. Se não tem, toca curto e ajuda o time a ficar costurando a jogada até aparecer a brecha para alguém finalizar ou fazer um passe daqueles que deixam o companheiro livre.

O Messi não gasta energia à toa, não dribla toda hora. Por isso tem gás para atropelar o marcador (ou marcadores) quando resolve colocar a quinta marcha.

Esse discernimento que o Leão está tentando colocar na cabeça do Lucas privilegia o jogo coletivo, algo que anda em desuso no futebol brasileiro. Se até a Seleção vive de jogadas individuais, sem funcionar como uma equipe, o que esperar dos nossos times?

Como o Guardiola disse lá no Japão depois de botar o Santos na roda, o Barcelona faz o que os brasileiros costumavam fazer. Em resumo: toque de bola envolvente, futebol coletivo e criatividade. Para voltarmos a isso, o Leão pode contribuir bem mais do que o Wagner Ribeiro.

(*) Ex jogador profissional, campeão do mundo pela selção brasileira

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