Opiniã do Estadão
A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, pondera que os países emergentes poderão entrar numa fase de desaceleração. O Brasil parece lhe dar razão, uma vez que começa a haver desemprego no ABC e, no Relatório de Mercado - Focus, a previsão do aumento da produção industrial em 2012 cai a cada semana. O último boletim apontou queda de 2,50%, um mês atrás, para 2,03%, nesta semana.
Diante de uma perspectiva altamente negativa, parece-nos que este é o momento oportuno para reverter uma situação que ainda não entrou num processo inexorável.
Nos últimos dias, houve alguns fatos novos que poderiam levar o governo, e também as empresas, a reagir ao fato de que o Brasil está ficando para trás na corrida com outros emergentes. Algumas semanas atrás dois obstáculos ganhavam vulto: a taxa cambial e os juros elevados. Mas estamos verificando que o governo se empenha em amenizar seus inconvenientes. E parece querer ir além, ao falar em procurar aliviar as empresas do peso dos encargos decorrentes da legislação trabalhista.
O problema é que alívios episódicos de custos não são suficientes para aumentar a produtividade de nossa indústria. As comparações internacionais que foram divulgadas pela imprensa nos últimos dias convidam para a abertura de um sério debate sobre os problemas que explicam o recuo da produção industrial.
Desde logo, é importante denunciar o fato de que nossa indústria se habituou a importar componentes do exterior com o intuito não apenas de oferecer preços menores a seus produtos acabados, mas para aumentar seus lucros, evitando imobilizar recursos em equipamentos adequados e despendê-los em pesquisas para produzir esses bens com inovações.
A comparação dos custos de produção, no Brasil e em outros países, embora possa ser afetada por uma taxa cambial excessivamente valorizada, deve ajudar o governo a refletir sobre quais problemas tipicamente brasileiros elevam nossos custos e que medidas caberiam a nossas autoridades para que o parque industrial opere em situação mais equilibrada.
O custo real da mão de obra não é o único problema. Não podemos esquecer o custo elevado das exigências burocráticas nem tampouco a pesada carga tributária, especialmente a concentração dos impostos sobre o consumo - sem falar no péssimo estado da nossa infraestrutura.
O momento é oportuno para reagir e procurar reordenar o clima em que vive a indústria, antes que o atraso seja irrecuperável.
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