quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A esta altura do campeonato

Eliane Cantanhêde (*)

O ministro do Esporte, Orlando Silva, foi bem na forma de seu depoimento na Câmara dos Deputados. Treinado em anos e anos de palanques, discursos e assembleias estudantis em que representava o PC do B, ele estava firme, parecia à vontade. Não é uma postura comum para quem está sob suspeita.

Orlando Silva, porém, repetiu no conteúdo o mesmo erro de todos os demais ministros que caíram já neste primeiro ano de governo Dilma Rousseff: abusou dos adjetivos, mas usou poucos substantivos. Faltou-lhe, sobretudo, respostas objetivas, concretas, às acusações.

Quais sejam: segundo o PM João Dias Ferreira, seu correligionário do PC do B, que foi preso por desvios de verbas do Ministério do Esporte para ONGs, Orlando Silva era o chefe do esquema e chegou a receber pacotes de papelão com dinheiro na garagem do ministério.

Orlando Silva reage com uma profusão de adjetivos e diz que seu acusador e correligionário é "criminoso, desqualificado, um preso, uma fonte bandida". Para desmenti-lo, abriu seu sigilo fiscal e bancário e encaminhou um pedido de (auto) investigação à Polícia Federal.

Ou seja, as apurações continuam, com a imprensa marcando firme, e a situação do ministro continua sendo um suspense em Brasília. Não dá ainda para apostar se fica ou não.

Como nas quatro quedas de ministros por corrupção, a presidente Dilma Rousseff nem acusa nem defende. Senta e espera para ver. Assim o acusado passa a ser senhor do seu destino. Se não houver provas e se não aparecerem fatos novos, fica a palavra do PM "desqualificado" contra a do ministro acuado. Caso contrário... lá se vai o quinto ministro a cair sob o peso das denúncias e o sexto no governo Dilma (o outro foi Nelson Jobim, que saiu por outros motivos).

A diferença é que Orlando Silva ocupa uma pasta que costumava ser secundária mas se tornou importante por causa da Copa e da Olimpíada. Um escândalo no Esporte, a esta altura do campeonato, é péssimo para o Brasil lá fora. Apesar de ser apenas mais um entre tantos para nós, os calejados brasileiros.

(*) Jornalista é colunista da Folhade São Paulo desde 1997 

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