Ruth de Aquino (*)
Um bom motivo para participar de manifestações – a favor ou contra Dilma Rousseff – chega a ser pueril. Podemos sair às ruas porque ainda é possível protestar pacificamente no país sem ser preso. O Brasil ainda não virou uma Venezuela; o regime democrático ainda não caiu de “maduro” e algumas instituições não estão podres. Melhor aproveitar e exercer o direito à livre expressão – ou será que não?
Um bom motivo para ficar em casa é não acreditar em nenhuma grande bandeira das manifestações pró e contra. Os grupos se confundem. Se existe algo que não identifica a grande massa de manifestantes e não manifestantes, é a ideologia.
A maior burrice é rotular de “direita” ou “esquerda” quem vai numa ou na outra manifestação. Ou quem decide não sair às ruas. Quem são os fascistas?
Em qual categoria ideológica se situam os que querem detonar, “com botas e chuteiras”, a política econômica atual de Dilma? Leia-se aí o MST de Stédile.
Pergunte se são de esquerda ou de direita os garis em greve contra o reajuste anual ridículo de 3%, os caminhoneiros que bloqueiam as estradas, os favelados sem- casa-esgoto-creche-hospital, os policiais, os professores, os médicos, os comerciantes, os estudantes em fila por senha para estudar. Pergunte se são de esquerda ou de direita os desempregados pela incompetência oficial, ou todos nós que pagamos contas de luz e gasolina estratosféricas pela má gestão do governo.
A resposta será: ah, vem para a vida real, sem esse papo de direita ou esquerda, somos a maioria sem voz, queremos um país que funcione, um governo que não assalte os cofres públicos, uma economia que favoreça o emprego e os empreendedores, sem descontrole da inflação, uma educação de qualidade para todos, uma saúde digna, uma aplicação honesta dos altos impostos que pagamos, uma infraestrutura que nos tire do Terceiro Mundo, uma política de segurança que não deixe as famílias à mercê de criminosos. Queremos bons exemplos de cima e fim da corrupção institucionalizada.
É pedir muito?
Se você é a favor da Petrobras e contra o roubo sistemático do PT à Petrobras, a qual manifestação deve aderir? Se você abomina o cinismo dos últimos pronunciamentos de Dilma Rousseff mas é contra o impeachment, deve sair às ruas em protesto ou ir à praia e ao futebol? Se você é contra Eduardo Cunha e Renan Calheiros – e, consequentemente, contra o domínio do pior PMDB –, qual manifestação deve escolher? Ou vai ficar no sofá, um direito seu?
Se você acredita na lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, se você continua estarrecido com o depoimento frio do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, relatando a distribuição sistemática de propinas milionárias ao PT desde a era Lula até a campanha de Dilma em 2010, como deve se comportar? Sai ou não sai às ruas?
Leva suas panelas para o fogo ou para a janela?
Se você se preocupa com a desigualdade social, deve se aliar ao MST e ir contra o ajuste fiscal de Dilma e Joaquim Levy? Mas aí você estará conspirando contra a presidente. Como ela disse na quinta-feira no Rio de Janeiro, o Brasil “esgotou todos os recursos para combater a crise”. Se empresários e sindicalistas se unem em São Paulo contra o ajuste, quem é burguês, quem é coxinha, mãozinha, perninha?
Você acredita que o Brasil está nesse buraco por causa da “crise internacional” e porque Dilma fez tudo pelos pobres – na educação e na saúde? Você acredita na presidente quando ela diz que o governo do PT cortou gastos da máquina? Está faltando pau de selfie no Planalto – a presidente precisa se enxergar sem distorções de foco. Sobra cara de pau. Até o ex-tesoureiro da campanha presidencial de Dilma fez mea-culpa, disse que o PT errou. Quando Dilma assumirá alguma responsabilidade e pedirá desculpas à nação?
A presidente nos pede “paciência”. A população deveria pedir à presidente “sinceridade”. Mas é pedir muito.
Quem quer derrubar Dilma no grito esqueceu o que é uma ditadura, não respeita o voto democrático, não pensa no país nem no povo e ainda por cima é ingênuo. Está claro que manifestações por impeachment não são oportunas e não darão em nada.
Quem apoia incondicionalmente uma presidente que fez desandar a economia e as alianças políticas, que resistiu durante meses a afastar a presidente da Petrobras e que mentiu e continua a mentir sobre índices e análises de seu desempenho com uma desfaçatez nunca antes vista não pensa no país nem no povo e ainda por cima é ingênuo.
Pedir impeachment de Dilma não é golpismo, é tolice de desmemoriados.
Acreditar em Dilma não é idealismo, é tolice de desmemoriados.
Vamos tentar o caminho do meio.
Saindo às ruas ou ficando em casa.
(*) Jornalista é colunista da revista Época
Um bom motivo para participar de manifestações – a favor ou contra Dilma Rousseff – chega a ser pueril. Podemos sair às ruas porque ainda é possível protestar pacificamente no país sem ser preso. O Brasil ainda não virou uma Venezuela; o regime democrático ainda não caiu de “maduro” e algumas instituições não estão podres. Melhor aproveitar e exercer o direito à livre expressão – ou será que não?
Um bom motivo para ficar em casa é não acreditar em nenhuma grande bandeira das manifestações pró e contra. Os grupos se confundem. Se existe algo que não identifica a grande massa de manifestantes e não manifestantes, é a ideologia.
A maior burrice é rotular de “direita” ou “esquerda” quem vai numa ou na outra manifestação. Ou quem decide não sair às ruas. Quem são os fascistas?
Em qual categoria ideológica se situam os que querem detonar, “com botas e chuteiras”, a política econômica atual de Dilma? Leia-se aí o MST de Stédile.
Pergunte se são de esquerda ou de direita os garis em greve contra o reajuste anual ridículo de 3%, os caminhoneiros que bloqueiam as estradas, os favelados sem- casa-esgoto-creche-hospital, os policiais, os professores, os médicos, os comerciantes, os estudantes em fila por senha para estudar. Pergunte se são de esquerda ou de direita os desempregados pela incompetência oficial, ou todos nós que pagamos contas de luz e gasolina estratosféricas pela má gestão do governo.
A resposta será: ah, vem para a vida real, sem esse papo de direita ou esquerda, somos a maioria sem voz, queremos um país que funcione, um governo que não assalte os cofres públicos, uma economia que favoreça o emprego e os empreendedores, sem descontrole da inflação, uma educação de qualidade para todos, uma saúde digna, uma aplicação honesta dos altos impostos que pagamos, uma infraestrutura que nos tire do Terceiro Mundo, uma política de segurança que não deixe as famílias à mercê de criminosos. Queremos bons exemplos de cima e fim da corrupção institucionalizada.
É pedir muito?
Se você é a favor da Petrobras e contra o roubo sistemático do PT à Petrobras, a qual manifestação deve aderir? Se você abomina o cinismo dos últimos pronunciamentos de Dilma Rousseff mas é contra o impeachment, deve sair às ruas em protesto ou ir à praia e ao futebol? Se você é contra Eduardo Cunha e Renan Calheiros – e, consequentemente, contra o domínio do pior PMDB –, qual manifestação deve escolher? Ou vai ficar no sofá, um direito seu?
Se você acredita na lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, se você continua estarrecido com o depoimento frio do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, relatando a distribuição sistemática de propinas milionárias ao PT desde a era Lula até a campanha de Dilma em 2010, como deve se comportar? Sai ou não sai às ruas?
Leva suas panelas para o fogo ou para a janela?
Se você se preocupa com a desigualdade social, deve se aliar ao MST e ir contra o ajuste fiscal de Dilma e Joaquim Levy? Mas aí você estará conspirando contra a presidente. Como ela disse na quinta-feira no Rio de Janeiro, o Brasil “esgotou todos os recursos para combater a crise”. Se empresários e sindicalistas se unem em São Paulo contra o ajuste, quem é burguês, quem é coxinha, mãozinha, perninha?
Você acredita que o Brasil está nesse buraco por causa da “crise internacional” e porque Dilma fez tudo pelos pobres – na educação e na saúde? Você acredita na presidente quando ela diz que o governo do PT cortou gastos da máquina? Está faltando pau de selfie no Planalto – a presidente precisa se enxergar sem distorções de foco. Sobra cara de pau. Até o ex-tesoureiro da campanha presidencial de Dilma fez mea-culpa, disse que o PT errou. Quando Dilma assumirá alguma responsabilidade e pedirá desculpas à nação?
A presidente nos pede “paciência”. A população deveria pedir à presidente “sinceridade”. Mas é pedir muito.
Quem quer derrubar Dilma no grito esqueceu o que é uma ditadura, não respeita o voto democrático, não pensa no país nem no povo e ainda por cima é ingênuo. Está claro que manifestações por impeachment não são oportunas e não darão em nada.
Quem apoia incondicionalmente uma presidente que fez desandar a economia e as alianças políticas, que resistiu durante meses a afastar a presidente da Petrobras e que mentiu e continua a mentir sobre índices e análises de seu desempenho com uma desfaçatez nunca antes vista não pensa no país nem no povo e ainda por cima é ingênuo.
Pedir impeachment de Dilma não é golpismo, é tolice de desmemoriados.
Acreditar em Dilma não é idealismo, é tolice de desmemoriados.
Vamos tentar o caminho do meio.
Saindo às ruas ou ficando em casa.
(*) Jornalista é colunista da revista Época
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