Kennedy Alencar (*)
Em conversas reservadas, o ex-presidente Lula tem dito que a presidente Dilma Rousseff deveria avaliar a possibilidade de fazer uma reforma ministerial. Para ele, o atual ministério, que tem apenas dois meses e alguns dias, envelheceu precocemente.
Uma reforma ministerial seria feita para recompor pontes com o PMDB, dando ao vice-presidente Michel Temer maior espaço no governo e até uma eventual pasta, como aconteceu com o vice José Alencar, que foi ministro da Defesa no governo Lula.
Há possibilidade de Lula e Dilma se encontrarem amanhã em São Paulo.
O Planalto insistiu na ideia de que a lista de Janot dividiria a crise com o Congresso e que isso seria bom para Dilma. A crise se estendeu ao Congresso, mas piorou politicamente a situação da presidente. Ou ela recompõe de verdade a sua relação com o PMDB ou vai enfrentar uma série de derrotas no Congresso que agravarão a crise.
O governo errou ao achar que poderia empurrar a crise para o Congresso. Isso irritou os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), porque foi uma demonstração de inabilidade política da presidente Dilma e de seus ministros.
No entanto, Renan e Cunha tiveram uma reação mais política do que jurídica ao apontar suposta perseguição política do Ministério Público e uma ação do governo para colocá-los na lista. Renan e Cunha precisam dar explicações para as acusações. Ameaçar retaliar o governo no Congresso, a partir da posição de comando que eles possuem, seria um abuso político de suas atribuições. É preciso serenidade na condução da Câmara e do Senado. *
Panelaço surpreendeu Planalto
No pronunciamento de ontem à noite, a presidente Dilma Rousseff fez uma defesa correta da necessidade de ajuste fiscal. Falou em sacrifício temporário, pediu paciência e alfinetou a imprensa. Disse que a crise não era tão grave como retratada e voltou a atribuir ao cenário externo a responsabilidade pelas dificuldades internas.
Um presidente deve transmitir otimismo, mas isso é diferente de dourar a pílula e de não reconhecer os próprios erros. O ajuste é importante sim, mas para corrigir equívocos que a presidente cometeu no primeiro mandato. Uma análise mais sincera talvez fosse mais efetiva.
Não há problema em criticar a imprensa. Mas é importante lembrar que a imprensa não inventou a Operação Lava Jato nem foi responsável pela estratégia equivocada de isolar o PMDB no governo. O governo deveria fazer uma autocrítica e se preparar melhor.
Os serviços de inteligência não mapearam as convocações para o panelaço e o buzinaço de ontem. O Palácio do Planalto foi surpreendido.
As reações ao pronunciamento, com panelaço e buzinaço, sobretudo nas áreas nobres de algumas capitais, devem servir de alerta para o governo. Há uma piora no clima político em prejuízo de Dilma e do PT. Alguns xingamentos foram vergonhosos, ainda mais feitos no Dia Internacional da Mulher.
Uma parcela algo fascista da sociedade tem saído do armário com desenvoltura e agressividade. Existe um setor que não aceita o resultado das urnas e, como disse o economista Luiz Carlos Bresser Pereira, tem ódio ao PT pelas medidas boas que o partido adotou em defesa dos mais pobres.
Há setores dos protestos que têm desrespeito ao resultado eleitoral e desejam a saída da presidente Dilma do poder sem apego às regras institucionais e democráticas.
No entanto, existem outros setores que protestam legitimamente contra a corrupção e contra o governo, dentro de limites civilizados e democráticos.
Panelaço e buzinaço fazem parte da democracia.
Há uma parcela que votou em Dilma que está desapontada.
Será um erro o governo achar, como fez na época da Copa do Mundo, que se trata de um protesto de uma minoria de maior renda e maior escolaridade anti-PT.
A campanha eleitoral tão dividida mostrou que o PT perdeu base social, sobretudo na classe C. O Datafolha já mostrou queda da popularidade da presidente e do governo.
Nesta semana, haverá, na prática, dois protestos contra o governo.
No dia 13, centrais sindicais e movimentos populares vão criticar medidas do ajuste.
No dia 15, haverá um protesto contra o governo e a corrupção. Apesar da presença de neofascistas, mal-educados e golpistas, o panelaço e o buzinaço de domingo em cidades do país sinalizaram que os protestos do próximo domingo poderão ter uma força maior do que a imaginada pelo governo.
(*) É jornalista dedicado principalmente aos assuntos de política e economia
Em conversas reservadas, o ex-presidente Lula tem dito que a presidente Dilma Rousseff deveria avaliar a possibilidade de fazer uma reforma ministerial. Para ele, o atual ministério, que tem apenas dois meses e alguns dias, envelheceu precocemente.
Uma reforma ministerial seria feita para recompor pontes com o PMDB, dando ao vice-presidente Michel Temer maior espaço no governo e até uma eventual pasta, como aconteceu com o vice José Alencar, que foi ministro da Defesa no governo Lula.
Há possibilidade de Lula e Dilma se encontrarem amanhã em São Paulo.
O Planalto insistiu na ideia de que a lista de Janot dividiria a crise com o Congresso e que isso seria bom para Dilma. A crise se estendeu ao Congresso, mas piorou politicamente a situação da presidente. Ou ela recompõe de verdade a sua relação com o PMDB ou vai enfrentar uma série de derrotas no Congresso que agravarão a crise.
O governo errou ao achar que poderia empurrar a crise para o Congresso. Isso irritou os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), porque foi uma demonstração de inabilidade política da presidente Dilma e de seus ministros.
No entanto, Renan e Cunha tiveram uma reação mais política do que jurídica ao apontar suposta perseguição política do Ministério Público e uma ação do governo para colocá-los na lista. Renan e Cunha precisam dar explicações para as acusações. Ameaçar retaliar o governo no Congresso, a partir da posição de comando que eles possuem, seria um abuso político de suas atribuições. É preciso serenidade na condução da Câmara e do Senado. *
Panelaço surpreendeu Planalto
No pronunciamento de ontem à noite, a presidente Dilma Rousseff fez uma defesa correta da necessidade de ajuste fiscal. Falou em sacrifício temporário, pediu paciência e alfinetou a imprensa. Disse que a crise não era tão grave como retratada e voltou a atribuir ao cenário externo a responsabilidade pelas dificuldades internas.
Um presidente deve transmitir otimismo, mas isso é diferente de dourar a pílula e de não reconhecer os próprios erros. O ajuste é importante sim, mas para corrigir equívocos que a presidente cometeu no primeiro mandato. Uma análise mais sincera talvez fosse mais efetiva.
Não há problema em criticar a imprensa. Mas é importante lembrar que a imprensa não inventou a Operação Lava Jato nem foi responsável pela estratégia equivocada de isolar o PMDB no governo. O governo deveria fazer uma autocrítica e se preparar melhor.
Os serviços de inteligência não mapearam as convocações para o panelaço e o buzinaço de ontem. O Palácio do Planalto foi surpreendido.
As reações ao pronunciamento, com panelaço e buzinaço, sobretudo nas áreas nobres de algumas capitais, devem servir de alerta para o governo. Há uma piora no clima político em prejuízo de Dilma e do PT. Alguns xingamentos foram vergonhosos, ainda mais feitos no Dia Internacional da Mulher.
Uma parcela algo fascista da sociedade tem saído do armário com desenvoltura e agressividade. Existe um setor que não aceita o resultado das urnas e, como disse o economista Luiz Carlos Bresser Pereira, tem ódio ao PT pelas medidas boas que o partido adotou em defesa dos mais pobres.
Há setores dos protestos que têm desrespeito ao resultado eleitoral e desejam a saída da presidente Dilma do poder sem apego às regras institucionais e democráticas.
No entanto, existem outros setores que protestam legitimamente contra a corrupção e contra o governo, dentro de limites civilizados e democráticos.
Panelaço e buzinaço fazem parte da democracia.
Há uma parcela que votou em Dilma que está desapontada.
Será um erro o governo achar, como fez na época da Copa do Mundo, que se trata de um protesto de uma minoria de maior renda e maior escolaridade anti-PT.
A campanha eleitoral tão dividida mostrou que o PT perdeu base social, sobretudo na classe C. O Datafolha já mostrou queda da popularidade da presidente e do governo.
Nesta semana, haverá, na prática, dois protestos contra o governo.
No dia 13, centrais sindicais e movimentos populares vão criticar medidas do ajuste.
No dia 15, haverá um protesto contra o governo e a corrupção. Apesar da presença de neofascistas, mal-educados e golpistas, o panelaço e o buzinaço de domingo em cidades do país sinalizaram que os protestos do próximo domingo poderão ter uma força maior do que a imaginada pelo governo.
(*) É jornalista dedicado principalmente aos assuntos de política e economia
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