quinta-feira, 15 de março de 2012

Tucanalhas, Petralhas, bandalhas e canalhas (parte 1)

Sebastião Imbiriba (*)

“Antigamente os que assistiam ao lado dos príncipes chamavam-se laterones. E depois, corrompendo-se este vocábulo, como afirma Marco Varro, chamaram-se latrones. E que seria se assim como se corrompeu o vocábulo, se corrompessem também os que o mesmo vocábulo significa?”. Respondo ao padre Antonio Vieira que o condicional não se aplica em terras de El Rey, nem nas de Maranhão, Bahia e todo o reino do Brasil, valendo o indicativo, porque corrompe-se o vocábulo e os que este significa: Os que assistem ao lado dos potentados são todos, ou quase, rematados ladrões.

Vejamos o caso do homem de confiança máxima de Getúlio, Tenente Gregório Fortunato que, das acomodações do corpo de segurança ao lado do palácio do Catete, dirigiu uma das maiores redes de corrupção até então vistas em terras brasileiras. O escândalo chamou-se Mar de Lama e conduziu Vargas ao suicídio.

Juscelino construiu Brasília, introduziu a inflação no país e fez a festa dos empreiteiros. Jânio, com seu estrabismo físico e moral, brandia sua vassoura para varrer os corruptos, enquanto vivia à custa de magnatas. Em troco de que? Ao enfrentar a oposição no Congresso, deu um chilique e renunciou na certeza de que o povo o reconduziria como ditador. Errou e disparou a serie de crises que culminou com a derrubada de seu vice, João Goulart.

O esquema de Gregório Fortunato resuscitou após o plebiscito que confirmou Jango na presidência e as autarquias financiavam pelegos. Para quem não sabe o que é isto, pelego é o manto de pele de carneiro que o gaucho coloca por cima da sela para amaciar a andadura do cavalo e, por analogia, o sindicalista que se deixa montar pelo político ao qual serve. Exatamente como CUT e Força Sindical, pelegos modernos, se portam perante Lula. Portanto, as práticas do peleguismo lulista remontam às origens do Estado Novo e passam pelo queremismo.

O Governo Militar se erigiu sob a égide do combate ao comunismo e á corrupção, com o consentimento e até aplausos da população. Era para durar dois anos, limpar a casa e devolver o poder aos políticos civis. Costa e Silva entendeu que políticos não eram confiáveis e prorrogou indefinidamente o regime, espalhando majores e coronéis por tudo quanto era repartição, aparelhando militarmente o Estado brasileiro. A consequência foi que as vestais militares, encarregadas de limpar e moralizar, logo tomaram gosto pelo ofício de “laterone” e não só corromperam o vocábulo como a si próprios, tornando generalizada e exponenciando a ladroagem.

A partir do Estado Novo, quando comecei a me conscientizar das coisas políticas, fui testemunha de casos, por exemplo, para ficar em apenas dois, do genro de ministro que iniciou a construção de seu palacete em 1944, mas só o concluiu no segundo governo Vargas, quando seu esquema de financiamento retornou ao poder; ou o do coronel chefe de uma autarquia que meteu o pé na porta de empresário para exigir pagamento da propina prometida, mas embolsada pelo vendedor. Sempre foi sabido que os negócios com governo se faziam mediante propina, costumeiramente de cinco por cento, chegando em alguns casos a cinquenta na era Sarney. Qualquer um que tenha a mínima noção de composição de custos pode imaginar a impossibilidade da prestação do serviço neste nível de propinagem.

Vamos passar ao largo do governo Sarney com sua superinflação, a maior das corrupções, para o deixar a cargo das pungentes denúncias de Collor, o Caçador de Marajás, ele próprio caçado pela juventude e cassado pelo Congresso. Mas não há como esquecer o “laterone” PC Faria, o Fortunato do Collor.

(continua)

(*) Professor e Historiador (*)

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