Eduardo Daher (*)
A importância da agricultura frente a uma população mundial que alcança 7 bilhões de pessoas.
Neste 31 de outubro, a Terra atingiu a marca notável de 7 bilhões de habitantes.
A data e o número ensejam reflexões em diferentes enfoques, segundos as diversas áreas de interesse.
O crescimento populacional em ritmo vertiginoso foi propiciado não pela taxa de nascimentos - esta tem até reduzido.
O que se viu foi o aumento da expectativa de vida, graças aos avanços do conhecimento humano em áreas como Medicina, do nível educacional e sanitário nas cidades, e pela modernização tecnológica nas atividades agropecuárias e industriais, com maior oferta de alimentos e de melhor qualidade.
Os números não deixam dúvidas.
Em 1900, na Europa Ocidental, desenvolvida, as pessoas morriam, em média, aos 40 anos; na Alemanha, a expectativa de vida era de 37,2 anos. Os brasileiros nascidos nesse período tinham, segundo dados do IBGE, a esperança de viver somente até os 32 anos.
De acordo com o historiador inglês Thomas Kirkwood, da Universidade de Newcastle, hoje, a cada dia a expectativa de vida aumenta em cinco horas.
A média de vida no Canadá e no Japão supera 80 anos.
No Brasil, vive-se até os 72,5 anos - as mulheres até os 76,2 anos.
Ou seja, o planeta precisou de quatro bilhões de anos, desde o início da vida no Planeta, para alcançar, no ano da descoberta do Brasil, a população de 400 milhões de habitantes.
Pois bem: quem nasceu em 31 de outubro de 1936 - apenas para ficar no ano de estréia do filme de Chaplin -, portanto, hoje com 75 anos de idade, testemunhou a população multiplicar em três vezes e meia, saindo dos então 2 bilhões de pessoas para os 7 bilhões agora reverenciados.
Se tal indicador de qualidade de vida deve ser comemorado, é certo que o cenário em 31 de outubro de 2020 preocupará nossos filhos e netos quando analisarem a população, segundo projeções da ONU, de 8 bilhões de habitantes e, em 2050, quando terá alcançado 9 bilhões.
Joel E. Cohen, da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, lança a pergunta no título de seu livro How Many People Can the Earth Support?
De fato, dois problemas se acentuaram de forma dramática - e devem se constituir o ponto central de reflexão no dia de hoje. Um deles é o atual cenário econômico.
O que assusta o mundo é o fato das atuais crises ter eclodido nos Estados Unidos, em 2008 - o que colocou, de acordo com o historiador Eric Hobsbawn, em xeque o seu papel de líder mundial da economia de mercado - e, este ano, na até então historicamente sólida Europa.
Como é freqüente nas crises modernas, é preocupante que essas começam na órbita do mercado financeiro e, logo em seguida, se deslocam para causar estragos na esfera da economia real, isto é, da produção bens e dos serviços: comércio, indústria e agropecuária.
Contudo, apesar da dimensão da crise, o tema que tem prevalecido refere-se à agenda ambiental.
Em junho do próximo ano, o Brasil sediará o encontro Rio+20, marcando os vinte anos de realização do Eco 92, no Rio de Janeiro.
Todas as preocupações com o meio ambiente mais do que se justificam; os alertas cumprem papel mobilizador; mudam cabeças de pessoas, partidos políticos, empresas, instituições e governos. Mas é preciso notar que o aquecimento global se deve à atividade humana moderna, de acordo com o documento final do Painel sobre Mudanças Climáticas, da ONU, a COP 15, ano passado: o crescimento do PIB per capita e da população foram determinantes do aumento das emissões globais durante as últimas três décadas do século XX.
Por isso, insistir no falso dilema "preservar ou desenvolver" leva a outro equívoco, muito mais grave: o empenho pouco decidido, de governos e sociedades, diante do sofrimento daqueles que não têm o que comer - uma, em cada sete pessoas. Ou, 1 bilhão de famintos, entre os 7 bilhões de habitantes alcançados hoje.
Na verdade, conservar a natureza e o desenvolvimento socioeconômico são rumos urgentes e complementarmente possíveis.
A resposta está na agricultura moderna - seja a chamada familiar ou a de grande escala - quando ambas aliam os manejos sustentáveis à imprescindível eficiência tecnológica.
Estudo da Universidade da Pensilvânia concluiu que a produtividade do trabalho no Brasil caiu 15% nas três últimas décadas.
"A exceção é a agricultura, cuja produtividade teve grandes avanços no Brasil", destaca José Alexandre Scheinkman, economista de Princeton. É também a conclusão de estudo da Embrapa: entre 1970 e 2010, o preço real dos alimentos caiu pela metade, graças à revolução tecnológica levada ao campo.
São conquistas que tornam estranhas, hoje, manchetes de jornais de algumas décadas atrás. "Pode faltar pão no estado; farinha só dá até agosto" (Folha de S. Paulo, 04.07.1960).
Ou seja, o que avançou extraordinariamente não foram as máquinas sobre áreas nativas, e sim a produtividade de alimentos nas mesas dos brasileiros e do mundo.
(*) Economista pela FEA/USP, pós-graduado em Administração de Empresas pela FGV-SP e diretor executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal, Andef.
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