Fernando Canzian (*)
Títulos de dívidas de países são, em última instância, o pilar que sustenta o mercado financeiro global.
A maioria dos governos opera no vermelho. Por isso, se financiam no mercado, vendendo papéis a bancos e pagando juros. Os bancos repassam esses títulos a investidores pelos quatro cantos do mundo.
Esse arranjo está à beira de um colapso nos 17 países que formam a zona do euro.
O país mais rico da região, a Alemanha, já encontra dificuldades em vender títulos no mercado.
E são cobrados juros insustentáveis (do ponto de vista da evolução do endividamento) de Espanha, Itália, Grécia e Portugal.
Em comum entre eles há o euro. Moeda que denomina o valor dos títulos que esses governos vendem no mercado.
O euro, e os papéis cotados nele, não têm um Tesouro Europeu como lastro. A Alemanha se recusa a dividir a conta das dívidas europeias com os demais.
Daí a fuga de papéis de governos.
Ela reflete não só a desconfiança na capacidade dos Estados em pagar suas dívidas. Mas a própria sobrevivência do euro em alguns dos 17 países (ou na totalidade deles).
A crise agora embica para um ponto agudo: o início de uma onda de saques em euros nos países mais encrencados.
Os maiores bancos de Itália, Espanha, Portugal, Irlanda e Grécia perderam cerca de 10% dos depósitos bancários nos últimos meses (ver quadro).
Para segurar depósitos, bancos de Portugal, Espanha e Itália dobraram, para até 4% ao ano, os juros pagos a correntistas. Algo bem acima do 1,25% ao ano da taxa básica do Banco
Central Europeu.
O que se teme é o colapso do euro nesses países. Que os obrigaria a desenterrar liras, pesetas, escudos etc.; moedas que renasceriam valendo uma fração do euro hoje.
É isso o que os mercados refletem. E o que as valorizações recentes do dólar evidenciam.
Apesar do enorme endividamento norte-americano (US$ 15 trilhões), o país tem um Banco Central (o Fed) e um Departamento do Tesouro que podem imprimir dólares e garantir dívidas indefinidamente. Por isso investidores correm para as verdinhas.
A Europa não faz e não tem nenhuma coisa nem outra. Se a Alemanha não ceder e concordar que seja feito na região o mesmo que os EUA fazem, pode ser questão de tempo o colapso da moeda conjunta.
É um cenário caótico e impensável até há pouco.
Assim como era impensável que a Alemanha encontrasse dificuldade em se financiar no mercado.
Nos EUA, a crise de 2008/09 levou o governo a medidas extremas contra a força deletéria de um mercado apavorado. Já os 17 da zona do euro não se entenderam até agora.
O mercado está arrumando uma saída.
(*) Jornalista e é repórter especial da Folha de São Paulo
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