Augusto Nunes (*)
Pena que os dois tenham nascido distantes no tempo e no espaço.
Pena que um tenha crescido no morro e outro no PT.
Se o destino tivesse sido mais generoso, Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, e José Dirceu de Oliveira, o Guerrilheiro de Araque, viveriam celebrando entre tragos e tragadas, no quarto de hotel de luxo ou no botequim da viela, as semelhanças e afinidades que eternizam a amizade.
Ambos ficaram famosos como chefes de quadrilha, enriqueceram com atividades criminosas, são intolerantes com quem diverge, têm chiliques quando contrariados. Ambos gostariam de ser Lula.
E também acham, como o ídolo comum, que o Brasil precisa acabar essa mania de tratar coisas iguais de forma distinta.
Precisa mesmo, comprovou o tratamento dispensado aos colegas de ofício no feriadão do 15 de Novembro. Enquanto o chefe do tráfico tentava escapar da Rocinha cercada por mais de mil soldados, o chefe do mensalão estrelava numa Brasília sem polícia o II Congresso Nacional da Juventude do PT.
Enquanto Nem era fotografado em posição fetal no porta-malas de um carro, Zé Dirceu posava para a posteridade exibindo uma camiseta, encomendada por jovens milicianos, que transforma culpado em inocente.
As imagens berram que a capital da corrupção anda implorando por uma ocupação policial de dimensões superlativas. Mas não custa lembrar que Brasília é mais traiçoeira que qualquer morro sem lei.
Convém escalar para a captura do Nem do PT os dois tenentes da PM que recusaram o suborno milionário oferecido pelo Zé Dirceu da Rocinha.
(*) Jornalista e Ex-Diretor do Jornal do Brasil, do Jornal Gazeta Mercantil e Revista Forbes. Atualmente na Revista Veja
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