quarta-feira, 15 de junho de 2011

Manejo correto eleva produção de gado leiteiro

Leandro Costa (*) para O Estado de S.Paulo

O agricultor Ésio Carneiro, que cria gado de leite em Nova Ponte (MG), aumentou em 50% a produção diária por animal. Um ano atrás, o rebanho produzia, em média, 12 litros por vaca. Hoje esse número subiu para 18 litros/dia. Tal aumento não exigiu grandes investimentos. O resultado é fruto da adoção de técnicas supreendentemente simples, mas que, para pequenos produtores como ele, acostumados a perpetuar práticas de gerações passadas, nem sempre adequadas, representam uma mudança de paradigma.

Carneiro faz parte de grupo de pequenos pecuaristas que vêm sendo orientados gratuitamente pelo Núcleo de Extensão Rural (Neru) das Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu), em Minas Gerais. Formado por alunos e professores do curso de Zootecnia, o Neru diagnostica pontos críticos no manejo das propriedades, transferindo tecnologia a produtores que não têm por hábito procurar ajuda especializada.

"O objetivo é estimulá-los a explorar o potencial máximo de suas propriedades, sem ficar tocando as coisas no "chutômetro"", diz a professora coordenadora do Neru, Sarita Gallo. Com base no que encontraram no campo, os futuros zootecnistas descrevem os erros mais comuns, causados pela falta de conhecimento de novas técnicas.

O manejo do pasto é um deles. Segundo o estudante Rafael Resende de Oliveira, do quinto período, muitas vezes o erro começa na escolha da variedade de forrageira, feita sem considerar o tipo de solo. "Além disso, esses produtores costumam deixar o gado solto em uma ampla área de pasto", relata. "O animal anda mais e gasta mais energia." A solução, no caso, é simples: dividir o pasto em piquetes.

Piquetes. De 50 hectares de pasto, Carneiro compartimentou 40 em piquetes de 1 hectare cada. "Com isso faço um rodízio de piquetes e os animais demoram 30 dias para voltar ao piquete inicial, o que garante que ele só coma a ponta da grama, que é a parte boa", diz.

A mesma prática adotou o criador Ricardo Alves Neto, que tem 30 búfalas em lactação no mesmo município. Ele conta que lançou mão de outras mudanças, como afastar o cocho de sal mineral do de água, o que evita que os animais bebam a água logo após terem ingerido o sal, prejudicando a absorção dos minerais.

O rebanho de Alves produz 180 litros de leite/dia. Com algumas mudanças, além do aumento do rebanho para 50 animais, ele espera chegar à média de 350 litros/dia.

Outro dos principais erros diz respeito à nutrição. Conforme Oliveira, só pastagem não é suficiente para suprir as necessidades de uma vaca em lactação. O problema é que há produtores que não adotam a suplementação e os que o fazem nem sempre é da forma ideal. "Muitos incorrem no erro de adicionar água à silagem, fazendo uma sopa para evitar sobra de farelo no cocho. Isso é um desperdício, pois a adição de água reduz a absorção dos nutrientes", explica Oliveira.

Carneiro aprendeu também a separar os animais por lotes, o que facilita o controle do tipo e da quantidade de suplementação adequada conforme a condição de cada animal (vaca prenhe, novilhas, vaca vazia, etc).

As falhas no quesito silagem também são muitas, conforme Oliveira. Desde a compactação ineficiente, que não elimina o oxigênio, até o tamanho das partículas, que ora têm mais de 5 centímetros cada, o que impede a compactação, ora são menores que 2 centímetros, o que não estimula a salivação dos animais e provoca acidose no estômago.

Oliveira explica que isso pode ser resolvido com a calibragem adequada da peneira na máquina que tritura o material para ensilagem. "Além disso, o tempo entre o corte do produto destinado a silagem (cana-de-açúcar, capim e milho) e o armazenamento não pode ultrapassar 48 horas."

Crítico também nesse tipo de propriedade é o manejo reprodutivo. "Houve casos de vacas que ficavam até três anos sem parir. Além disso, o criador inseminava uma determinada vaca e depois a colocava junto com outro touro. Dessa forma, ele desconhecia a paternidade do bezerro", relata Oliveira.

Na propriedade de Carneiro, por exemplo, esse controle passou a ser feito e o produtor já planeja ampliar a reprodução por inseminação artificial.

(*) Jornalista

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