Eliane Cantanhêde (*)
Durante toda a crise Palocci, falou-se, ou falamos, dos peixes graúdos da coligação que apoia a presidente Dilma Rousseff: do PMDB e do PT. Agora, depois que Dilma decompôs o núcleo duro do governo com Gleisi Hoffmann na Casa Civil e Ideli Salvatti na articulação política, é hora de lembrar que as águas profundas governistas incluem 13 outros partidos. E é aí que o trio feminino começa a pescar.
No primeiro dia de trabalho de Ideli, a terça-feira, Dilma, Gleisy e Ideli almoçaram no Palácio da Alvorada com os senadores do PR, enquanto o líder do partido na Câmara participava de uma reunião de líderes governistas para falar grosso com o governo.
Para se ter ideia do tamanho dos 'peixes miúdos', entre os senadores do PR incluem-se Clésio Andrade, o homem da CNT, a poderosa Confederação Nacional dos Transportes, Blairo Maggi, um dos reis do agronegócio do país, e Magno Malta, não apenas ligado aos articulados grupos evangélicos como também um senador bastante atuante.
Dá para brincar com gente assim?
Enquanto os senadores do PR pediam interlocução direta com Dilma e o Planalto, os líderes aliados na Câmara lembravam que representam 304 deputados e eram bem mais objetivos na cobrança: além de 'interlocução direta', pedem coisas bem mais concretas e palpáveis, especialmente às vésperas das eleições das prefeituras no ano que vem.
Quais sejam: a liberação das tais emendas parlamentares, para que possam voltar para casa anunciando pontes, jardins, postos de saúde, ruas asfaltadas, dessas coisas que geram expectativa e votos, apesar de nem sempre saírem da promessa para a prática.
Dilma, Gleisi e Ideli, portanto, têm tempos difíceis e trabalho duro pela frente. Precisam alimentar os tubarões do PMDB, que estão unidos como nunca antes, e do PT, desarticulados e metidos numa guerra interna poucas vezes vista. E precisam não descuidar das tainhas e lambaris, porque esses se movem rapidamente.
A oposição está à espreita, esfregando as mãos com as perspectivas de boa pescaria. Apesar de coadjuvantes da crise Palocci, o PSDB e Aécio Neves ganharam ânimo com ela.
A base parlamentar de Dilma é imensa, um recorde, mas não confiável. Não custa lembrar que quantidade não é qualidade. E, se hoje o cardume está com o governo do PT, já esteve também com o do PSDB. Pode ir para um lado ou para outro, dependendo das condições de temperatura e satisfação.
O maior desafio de Dilma é a articulação política.
(*) Jornalista é colunista da Folha de São Paulo desde 1997
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