Editorial da Folha de S. Paulo
O Brasil negocia em condições reservadas a compra de um novo avião presidencial para substituir o Aerolula. A intenção do governo de adquirir a aeronave foi revelada pela Folha, na segunda-feira.
O equipamento pode custar aos cofres públicos, a depender do modelo escolhido, até R$ 500 milhões -cinco vezes o valor gasto com o atual, em 2005.
Faz pouco tempo, como se vê, que o Sucatão, como foi apelidado o Boeing-707 que servia à Presidência no governo anterior, foi substituído pelo Airbus-319 executivo.
Trocá-lo por outro avião depois de período tão curto seria não apenas um atestado de incompetência do Executivo, mas uma sinalização equivocada, de desperdício de recursos, num momento em que as finanças públicas exigem forte ajuste.
Assim que o assunto veio a público, o presidente Lula fez questão de sair em defesa da troca, sem cerimônia ou preocupação com valores: "Não tem por que não comprar. Acabou aquela bobagem do Aerolula. Acho que o Brasil precisa de um avião com mais autonomia para o presidente".
Num evidente exagero, o mandatário argumentou que o Brasil "passa humilhação" pelo fato de a aeronave precisar de escalas para conseguir alcançar alguns destinos internacionais.
A autonomia do avião presidencial é de aproximadamente 8.500 km, o que não garante uma viagem em condições seguras entre Brasília e Londres, por exemplo.
Já o Airbus-330MRTT, cuja aquisição está em estudo, pode voar 12.500 km sem necessidade de reabastecer. Cotado como alternativa, o Airbus-A340 executivo, alcança 17 mil km.
Além da maior autonomia, as aeronaves em tela ofereceriam mais espaço, em benefício do séquito de convidados que costuma atravessar os ares na companhia presidencial. O Aerolula transporta 30 pessoas, sendo 10 delas na área VIP - número que poderia ser quadruplicado.
Se a compra do Aerolula foi mal planejada, que o governo arque com as consequências - bem menos graves, aliás, do que insinua o presidente.
Se não há risco à segurança, que se mantenha o atual equipamento. Há situações de fato humilhantes no país a pedir solução - e não se comparam às prosaicas escalas do Aerolula.
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