Bellini Tavares de Lima Neto (*)
Neste ano nasceu um jesus. Eu sei que a afirmação pode soar estranha. Afinal, segundo a tradição do Natal, ele renasce todos os anos nesta mesma data, apesar de alguns já começarem a afirmar que o fato não ocorreu nesse dia. Isso, no entanto, é o de menos. Ultimamente qualquer acontecimento importante atrai a atenção dos polêmicos de plantão. Há quem ainda jure que o homem não chegou à lua, que fulano ou sicrano não morreu e por aí afora. Deixando tudo isso de lado, neste ano nasceu um jesus. Devo confessar que faço uma pequena confusão porque, ao menos de acordo com os meus arquivos pessoais, existe a Páscoa que, segundo consta significa renascimento. Mas, para sanar a dúvida seria preciso que eu fosse capaz de compreender melhor os mistérios todos. Como eu mal consigo compreender o que é evidente, ainda estou tentando entender um sem número de coisas que estão bem aí na minha frente, à luz do dia, seria muita pretensão compreender os mistérios.
Mas, independente disso tudo, neste ano nasceu um jesus. Mais correto seria dizer que nasceram muitos, mas como o alcance da minha visão é bem limitado, vou ficar apenas nas cercanias do que posso enxergar melhor. Nasceu um Jesus bem à minha volta, à nossa volta, bem aqui pertinho. Chegou de mansinho, não fez quase nenhum alarde. Nós é que fizemos muito mais barulho. Ele, mesmo, chegou quietinho e quietinho se manteve pelos primeiros tempos. Mas já começava a produzir efeitos. O principal deles é o que, segundo a tradição do natal, é a sua marca principal: o efeito do renascimento. Aliás, não sei se a palavra mais correta é, mesmo, “renascimento”. Mais adequado talvez fosse “revivência”. Mas o dicionário ainda não registrou essa. Em lugar dela existe “revivescência” ou “revivescimento” que são bem mais longas e difíceis de escrever e falar. Por isso, vou pedir licença aos mestres (que certamente não vão nem me ouvir pedir a tal licença) e adotar a minha “revivência” para os fins e efeitos desta prosinha.
Porque não “renascimento”? Porque, na verdade, ninguém nasceu de novo. Estávamos todos vivos já, quando esse jesus nasceu. Só quem nasceu foi ele. Segundo a minha forma de enxergar, veio de algum lugar que a minha vista não alcança, mas, para os efeitos do planetinha, por aqui ele nasceu. Portanto, “renascimento” fica um pouco fora do lugar. Já a idéia de “revivência” é bem o caso dos que estavam por aqui quando o cavalheiro nasceu. Porque, de um modo geral, todos os viventes que tomaram conhecimento da sua chegada ganharam uma dose extra de extrato de vida. Tudo começou com a inauguração de uma nova geração que já fazia um bom tempo que não acontecia. Esse jesusinho assumiu a função de arauto desse tempo novo. Sabe-se lá de que tamanho será a fila que ele vem puxando. Tomara que seja grande, barulhenta, que ponha fim ao sossego que tinha se instalado e já vinha incomodando por falta de novas lufadas de vento. Temos, por aqui, uma brisa fresca e perfumada.
Inaugurar uma nova geração talvez seja a forma de expressão mais eloqüente da dinâmica da vida. Afinal, é ela que dá o sentido o movimento. As novas gerações são as marés do oceano da vida. Sem elas tudo seria calmo como um lago que, apesar de bonito e sereno, não conseguirá jamais inspirar tanto aos poetas quando a soberania do mar. Ao inaugurar uma nova etapa, esse jesus recém surgido invadiu a todos com os cristais da dinâmica, ondulou nosso beira-mar, fez quebrarem em nossas praias calmas, as espumas da emoção, da revivência.
Nosso jesus não é o único. Muitos outros chegaram neste ano e certamente trouxeram na bagagem os mesmos tesouros mágicos que o nosso. Isso, no entanto, não faz do nosso jesus menos magnífico. Porque, para cada um de nós, ele é majestoso, imperial, assim como são os demais para os seus respectivos súditos, suas respectivas côrtes. Importante é reverenciar esse nosso pequeno jesus por tudo o que nos trouxe, tal como farão os mitos outros reinos em relação às suas próprias majestades. O nosso jesus vem nos coroar a todos pela caminhada que empreendemos até agora e que culminou com essa graça. Estamos, por isso, todos abençoados, glorificados, recompensados. Há de ser permitido e possível que todos os jesuses chegados neste ano possam juntar suas forças e transformar este recanto do universo num cantinho de paz e felicidade.
(*) Advogado , avô recente e morador em S. Bernardo do Campo (SPO). Escreve para o site O Dia Nosso De Cada Dia - http: blcon.wordpress.com.
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