Jota Ninos (*)
A já confirmada demissão da secretária de Finanças do município, Rosilane Evangelista, antecipa uma crise interna no PT que vinha sendo controlada nas últimas semanas.
Crise essa que, à boca pequena, cresceu depois do fracasso da reeleição de Ana Júlia ao governo do Estado, e da não eleição de Carlos Martins a deputado federal, afetando as três tendências petistas que fazem parte do governo da prefeita Maria do Carmo e que estavam unidas em torno da candidatura do irmão menos estressado da Martilândia: a Unidade na Luta (UL), comandada pelos próprio irmãos Martins (e que vivia às turras com a Ana Júlia e sua Democracia Socialista/DS); a “PT Pra Valer”, do presidente do PT local, Juca Pimentel; e a Articulação Socialista (AS), liderada pelo ex-vereador Pedro Peloso, cunhado de Rosilane.
O estopim da crise de agora, já se sabe, tem suas motivações no conhecido destempero da prefeita que, ao se sentir acuada, sempre “chuta o pau da barraca” sem se preocupar com as conseqüências do barraco que venha a promover. Como foi noticiado aqui no blog, a causa seria uma suposta “quebra de confiança” que o cargo exige, pelo fato da Rosilane-mãe ter permitido que um de seus filhos entrasse com uma ação contra a Prefeitura onde trabalha a Rosilane-secretária!
Pode-se fazer várias leituras sobre esse episódio, mas talvez só mesmo a Rosilane-militante-petista possa responder: a ação tinha o cunho de enviar um recado, de como alguns petistas estariam insatisfeitos com o modo Martins de governar, ou é apenas um caso isolado do qual não se imaginava as consequências?
De qualquer forma, se confirmado o leit motiv da demissão, a reação da prefeita sugere no mínimo que a questão dos concursados ainda é um dos principais “calcanhares-de-Aquiles” da Martilândia…
Fontes próximas à prefeita garantem que muita gente do staff de Maria não concordava com a decisão (defendida pelo irmão todo-poderoso, Everaldo Martins) de não contratar os concursados e esticar a corda com os temporários até onde fosse possível. A visão tacanha de manter um exército de escudeiros eleitorais através de contratos temporários, repetindo os mesmo gestos que se combateu dos antigos prefeitos de Santarém, não condiz com a propalada perspicácia de Everaldo e mostrou-se ineficaz, além de ferir de morte um dos princípios basilares das administrações petistas que conseguiram algum sucesso Brasil afora: a transparência no trato da coisa pública. Foi preciso a Justiça intervir para que alguns concursados pudessem ter seu direito consagrado. Danilo Evangelista da Silva, filho da secretária de Finanças, foi um deles.
A crise, que estava no armário saiu e pode contaminar um processo que já vinha apresentando sérios problemas de condução, uma vez que transforma possíveis questiúnculas de caráter familiar em problemas de Estado. Era tudo o que o Governo Maria não precisava nesse momento. Enquanto isso, a oposição demo-tucana (Von e Maia) assiste de camarote e já esfrega as mãos acreditando que o Armagedom petista começou…
A volta dos que não foram
A participação de Pedro Peloso (militante histórico do PT e que andava sumido) nos comentários aqui do blog, alfinetando a prefeita e digladiando-se com petistas e anti-petistas num duelo virtual de palavras e ideias mal enjambradas, mostra que há um pote até aqui de mágoas, pelo menos no cabeça da AS. Mas os outros irmãos de Pedro e agregados (Rita, Milton e quetais), que também participavam dessa tendência já não se sentiam liderados pelo grande articulador.
Everaldo Martins, provando que é mais discípulo de Maquiavel do que um dia foi Pedro, não só chegou à Prefeitura como perfeito ventríloquo de sua marionete, como aproveitou a fase de baixo astral de seu maior adversário interno e convidou a cunhada deste (Rosilane) para comandar o cofre da Prefeitura desde o início do governo Maria I, conseguindo atrair também, seu marido Milton Peloso para mais perto de si, através de um cargo decorativo de “ouvidor mouco”, de forma a isolá-lo de seu mentor intelectual, já que é conhecida a faceta mais, digamos assim, “pragmática” do irmão de Pedro…
Pedro Peloso perdeu forças de aglutinação no PT quando foi envolvido, no final de 2004, no imbróglio da “operação faroeste” motivada por seu líder Roberto Faro, hoje o deputado federal mais votado do PT. E até agora Pedro vinha tentando voltar à tona e recuperar as rédeas do partido depois que perdeu importantes aliados em seu próprio grupo como, por exemplo, a ex-vereadora Odete Costa que achou que era maior que a AS. Ela sofreu a chamada “Síndrome de Marquinho”, alusão ao ex-vereador petista Marco Aurélio Magalhães que cuspiu no prato de seu mentor Edilberto Sena (nos idos de 1990) em troca de lamber as botas de Aldo Queiróz (quando aquele ainda mandava no PSDB e na UFPA), para enfim ganhar de presente a presidência do tucanato local.
Agora Marquinho é fiel escudeiro de Alexandre Von e espera ser recompensado com a 5ª URE… No caso de Odete ela não saiu do PT, mas foi pastar na horta de Everaldo Martins e acabou sendo indicada para um cargo de DAS (Direção e Assessoramento Superior) estadual, que vai perder com a derrota de Ana Júlia. Em breve, se contentará com um DAS municipal…
Pelo que se sabe, Pedro já vinha se apresentando como questionador dos rumos do PT no Estado, mas ao que parece a maioria de seus colegas de tendência se acomodou nos cargos oferecidos pelo governo putysta (Ana Júlia não foi governadora do Pará, Carlos Puty, sim. E deu no que deu: os putystas venceram os petistas…).
Após a derrota de Ana Júlia, todos os descontentes começaram a alertar para o chamado “efeito Orloff” (“Eu sou você, amanhã…”, lembram?) nas prefeituras do PT para 2012. E Santarém, pelos resultados pífios das eleições deste ano somados à baixa popularidade de Maria e de alguns dos secretários da Martilândia, tem tudo pra ser a bola da vez.
Mas, com dois anos pela frente e dinheiro para asfaltar ruas, os Martins acreditam na possibilidade de reverter o quadro e manter o projeto “Carlos Martins 2012”, apesar de sua derrota para a Câmara Federal. A ponte federal com o sorridente ministro Alexandre Padilha é praticamente uma tábua de salvação. Eles ainda acreditam que no governo Dilma possa caber uma indicação de um dos deputados federais eleitos pelo PT paraense para um cargo com visibilidade nacional, abrindo uma porta para Carlos Martins ser deputado federal e assim pavimentar seu caminho rumo ao palácio (argh!, cadê o MP pra mudar esse nome ilegal?) Jarbas Passarinho…
Houve até quem propalasse a possibilidade de Padilha vir a ser a opção da Martilândia para a sucessão de Maria, caso não fosse brindado com um ministério. Teríamos, assim, uma “Guerra de Alexandres” em 2012 (o candidato demo-tucano é Alexandre Von, o moleque de recados de Lira Maia)! Mas ao que parece essa hipótese é cada vez mais remota…
O fiel da balança na briga das tendências do PT do Pará deveria ser a maior delas em termos de militância e capilaridade eleitoral nos municípios. Mas a “PT Pra Valer” é cada vez mais “pragmática” e é facilmente domesticada com cargos DAS, seja no estado ou nos municípios. Por isso mesmo, não conseguiu evitar o desastre chamado Ana Júlia, já que poderia ter evitado sua candidatura e, liderar as demais tendências para apresentar qualquer nome que não fosse pior do que o da governadora putysta.
Mas, apesar disso, a “PT Pra Valer” conseguiu a reeleição de uma de suas maiores estrelas, o deputado Waldir Ganzer que começou sua atuação em Santarém, mas se afastou completamente de seu primeiro reduto, e a eleição do deputado estadual Airton Faleiro, outra cria do sindicalismo rural de Santarém, com maior presença na Transamazônica. Isso a mantém com certa força na liderança estadual pela reconstrução do partido, que se fará com a chamada Articulação Nacional (grupo que congrega tendências Lulistas, que no Pará são exatamente a “UL”, a “PT Pra Valer” e a “AS”).
Ganzer não tem mais qualquer influência em Santarém, mas Faleiro parece que aos poucos vai retornando aos debates internos do PT local desde que sua esposa (a jornalista Raimunda Monteiro) assumiu a vice-reitoria da UFOPA, o que indica maior qualidade nas insossas reuniões do PT, em nada recordando os velhos tempos do “PT de bases”. Afinal, ultimamente as reuniões só serviam para se dizer “sim” aos Martins, através do principal emissário da Martilândia, o sempre subserviente secretário de Governo, Inácio Martins, ops, Corrêa…
A esperança de muitos petistas preocupados com o futuro do governo Maria é que agora, Faleiro, Pedro, Juca e outros líderes históricos do partido possam acabar com a ditadura da Martilândia, ou pelo menos causar-lhes algumas dores de cabeça, como, por exemplo, indicar nomes que não sejam da Martilândia para a sucessão de Do Carmo.
Hoje, o PT Santarém é uma sucursal de dondocas da elite, onde mais valem as discussões sobre o próximo casamento no Iate e as novidades do botox, do que uma reunião num bairro de periferia. Essa teria sido, inclusive, a principal reclamação de militantes históricos do partido, que durante a campanha para Carlos Martins eram maltratados por um batalhão de Barbies petistas…
Mas, o que os históricos do PT não têm, os histéricos do PT ainda tem de sobra. Não se deve desconsiderar ainda o carisma de Maria do Carmo e a astúcia de Everaldo Martins, apesar do episódio Rosilane. O todo-poderoso Rei da Martilândia já está voltando depois de meses tentando salvar o naufragado governo de Ana Júlia. E junto com os sempre sensatos Socorro Pena (esposa de Everaldo) e o irmão Carlos Martins, podem, juntos, tentar dar um chá de maracujá na intrépida Do Carmo e corrigir os rumos do governo (desde que eles continuem à frente, é lógico…).
É bem verdade que de uma tacada só, Maria pode ter empurrado de volta para o colo de Pedro, o irmão pródigo e sua esposa, e quiçá outros ex-agregados da AS. Resta saber se Milton Peloso vai realmente se doer e abrir mão das benesses, ou exercitar a persona do operário resignado da bela canção de Chico Buarque (Cotidiano): “Todo dia eu só penso em poder parar/meio-dia eu só penso em dizer não/depois penso na vida pra levar/ e me calo com a boca de feijão…”.
De qualquer forma, o episódio Rosilane pode até não render tudo o que se espera, mas já causou um tremendo mal-estar em quem já não se sentia muito confortável com as peripécias da Martilândia. Enquanto isso Maia e Von sonham em retornar com a nefasta República do Cipoal, mas também têm fantasmas a vencer em suas redondezas com a dupla siamesa do nordeste, Helenilson e Nélio, mas isso é outra história…
Santarém, valha-nos quem?
(*)Jornalista grego-santareno e botafoguense.
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