Foi-se o tempo em que o bambu e o seu similar nacional, a taquara, eram utilizados apenas para fins rústicos, como cerca para animais, haste para suspender varal, ou ainda para servir de alimento para pandas. O produto, que ainda é pouco explorado no Brasil, é um grande sucesso na China.
O material, com grande resistência, é frequentemente usado em construção civil e na indústria de móveis de alto padrão. Com esta informação em mãos, o Departamento de Economia Rural (Deral), órgão ligado à Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab), desenvolveu uma sondagem para descobrir o potencial existente da planta.
Segundo o engenheiro agrônomo e chefe da divisão de planejamento do Deral, Luiz Rob erto de Souza, o estudo demonstrou que o bambu e a taquara têm boas condições de se desenvolver no Paraná. Entretanto, é necessário alterar os meios de plantação para que se possa utilizar comercialmente esta madeira.
"O bambu e a taquara estão presentes em todo o Paraná, o que facilita sua exploração comercial. Verificamos, entretanto, que há pouquíssima plantação com estes fins, uma vez que não temos uma cadeia produtiva instalada. Não há acompanhamento do plantio, corte, beneficiamento e produção de materiais destinados ao público final. O que temos hoje é usado mais para artesanato", informa.
O engenheiro revelou que uma delegação paranaense foi até a China para acompanhar de perto o que pode ser feito com a planta. O resultado surpreendeu. "O bambu deixou de ter aquele ar de fo lclore para se transformar em uma importante fonte de renda.
Os produtos comercializados rendem milhões de dólares para o país asiático.
Quem planta bambu na China ganha o suficiente para viver em excelentes condições", garante. Roberto de Souza chama a atenção também pelas utilidades do bambu. "Você pode aproveitar 95% dele. Seja para a produção de vassouras, até materiais mais elaborados, como bebidas, medicamentos e tecidos. Até mesmo carvão feito de bambu é possível fazer. Os europeus descobriram isso e vem utilizando bastante o seu uso", afirma.
Tecnologia
Um detalhe que chamou a atenção do chefe do Deral foi a tecnologia utilizada para a manufatura do bambu.
Segundo ele, os chineses realizam tratamentos na planta, para que ela seja utilizada na indústria da construção civil. "Eles realizam algo que nós ainda não fazemos.
Eles tratam o bambu em câmeras de pressão, transformando o amido da madeira em um material mais resistente. A partir disto, eles transformam o bambu.
Por exemplo, eles conseguem fazer madeirites do bambu que, segundo eles, dura de cinco a 10 vezes mais se comparado com outra madeira. Os chineses também vêm empregando o material como substituto do aço. Eles provaram, cientificamente, que o bambu pode ser colocado em blocos de concreto e manter a mesma resistência", informa .
Preconceito
Mesmo com todos estes benefícios, porque o bambu ainda não se tornou atrativo como atividade comercial no Paraná?
A resposta de Roberto de Souza é taxativa. "O que acontece é que a gente tem essa visão preconceituosa do bambu. Isto ficou enraizado. Criou-se o mito de que produto de bambu é de baixa qualidade, popular. Mas isto não é verdade.
Para se ter ideia, a feira na China trazia uma casa de dois pavimentos toda feita em bambu, que foi um sucesso.
No interior desta casa, haviam móveis de alto padrão de qualidade e de design, desenvolvidos em uma parceria entre chineses e alemães. Se deixarmos de lado este pensamento retrógrado, tenho certeza de que o bambu iria se dar bem por aqui", avalia.
O engenheiro agrônomo comenta que, pelo fato do bambu e da taquara serem plantas rústicas, conseguem se adaptar facilmente em qualquer lugar. "Estas plantas possuem o que chamamos de nível de rusticidade alta. Elas se desenvolvem bem em áreas com erosão, suportam bem as intempéries e ela pode ser utilizada como recuperação da mata ciliar, pois se dá bem em ambientes com muita água também.
O bambu e a taquara crescem muito rápido e em apenas três anos eles já estão prontos para serem colhidos", explica. Roberto concluiu dizendo que para que não apenas o Paraná, mas também o Brasil, possa dominar melhor a utilidade do bambu é necessário mais estudos. "Primeiro temos que evitar o desperdício de seu uso. Depois, seria importante que as universidades, tanto públicas quanto privadas, investissem mais em pesquisas para difundir suas qualidades. Nós contamos com muitos empresários da indústria madeireira. Se eles tiverem acesso aos processos de beneficiamento, o restante ficará fácil para nos desenvolver", encerra.
Luiz Roberto de Souza é meu amigo e estivemos juntos na China.
ResponderExcluirFico feliz pela divulgação espontânea do assunto. Confirmo todas as observações do Souza.
Precisamos "capitalizar" esse conhecimento no Brasil, e esperamos uma resposta positiva do novo governo e mais vontade política para que os esforços empreendidos nessa missão não sejam esquecidos no tempo.
Estou a disposição para contribuir no que for preciso. Parabéns pela matéria,
Cláudio Ferreira