Eliane Cantanhêde (*)
O fim de semana amanheceu nublado, e o eleitor poderá enfrentar chuvas e trovoadas para votar nos candidatos que considera melhores para o seu país, o seu Estado, a sua região. Mas o esforço pode resultar em milhões de votos na lata do lixo.
Cerca de 1.300 candidatos estão "sub judice", atingidos pela Ficha Limpa, por falta de documentação e por prestações de contas vetadas, numa situação absurda: tiveram seus registros negados, mas estão disputando e têm o futuro indefinido. Vota-se num cidadão que pode não ser diplomado ou, pior, pode ser diplomado e passar todo o mandato com a faca no pescoço.
Nunca antes neste país se viu indefinição jurídica tal, o que projeta uma sucessão de vexames e frustrações. O candidato é eleito, mas cai; está no segundo turno e é substituído pelo terceiro colocado; puxa cinco ou seis outros correligionários para a Câmara, mas seus votos são considerados nulos e eles são trocados. Um pesadelo.
A confusão começa no Congresso, que vota leis imperfeitas e de múltiplas interpretações, mas o troféu lambança desta eleição vai para o Supremo Tribunal Federal, que brindou o país com o 5 a 5 sobre a vigência da Ficha Limpa, a mudança da regra do duplo documento de votação às vésperas do pleito, o telefonema entre Gilmar Mendes e José Serra e, finalmente, as fitas do genro de Ayres Britto trocando figurinhas com o campeão da Ficha Suja, Joaquim Roriz.
Para a Presidência, os troféus vão para Lula, que jogou tudo e todos a favor de sua candidata; para Dilma Rousseff, exemplar ao se moldar no figurino; para José Serra, pela coleção de desafetos que reuniu na campanha; para Marina Silva, a Verde que usou mais advérbios de modo (lamentavelmente, estrategicamente...) do que propostas.
E o grande prêmio vai para... Erenice Guerra! Ela é o símbolo desta eleição e, ganhe quem ganhar, imagine quantas erenices já não estão se assanhando por aí.
Bom voto!
(*) Jornalista é Colunista da Folha de São Paulo desde 1997
Nenhum comentário:
Postar um comentário