Eliane Cantanhêde (*)
As eleições deste ano registram um contraponto curioso: enquanto os governadores foram majoritariamente reeleitos (exceção de Yeda Crusius e Ana Júlia), velhos senadores e experientes deputados ficaram para trás, derrotados nas urnas. A renovação é principalmente na oposição, mas não só nela.
Depois do anúncio de Jorge Bornhausen de abandonar a política para arejar e dar sobrevida ao PFL, rebatizado de DEM, agora foi a vez de Marco Maciel, Heráclito Fortes e César Maia caírem. E caírem pelas urnas.
Bornhausen e Maciel foram decisivos para a formação da dissidência do PDS que tirou as chances de Paulo Maluf continuar a ditadura sob a capa civil. Esse foi o núcleo que veio a formar em 1985 o PFL, suja origem é sempre mal e injustamente avaliada. O terceiro homem-chave nessa história foi o ex-governador e ex-senador Guilherme Palmeira, que já tinha caído na re serva remunerada e afinal aposentou-se. ACM, como poucos sabem, não integrou esse núcleo. Só aderiu depois, quando a vitória de Tancredo já estava costurada e certa.
Da velha guarda, volta o líder José Agripino Maia, uma força política capaz de criar uma cunha de oposição num Nordeste claramente lulista. O DEM elegeu dois governadores, Rosalba Ciarlini no Rio Grande do Norte (terra de Agripino) e Raimumdo Colombo, em Santa Catarina (de Bornhausen).
Na mesma linha de derrota em 2010, seguiram os tucanos Tasso Jereissatti, que já há tempos demonstrava uma certa exaustão, e Arthur Virgílio, que certamente fará falta ao Senado, com sua estridência culta e provocativa.
Eles reforçam o que Aécio Neves chamou de "sucessão geracional" do PSDB, partido fundado em 1988 para conferir programa, modernidade e uma certa sofisticação intelectual ao grupo que resistira à ditadura sob o guarda-chuva PMDB e achava que estava na hora d e tocar o trem adiante.
Mário Covas, Franco Montoro e José Richa morreram. Fernando Henrique Cardoso entra para a história como o principal líder tucano, mas já fora dos embates eleitorais, fora da disputa futura de poder.
No PT, José Dirceu é uma sombra que paira, lembrando o que há de pior, mas também o que ficou de melhor do PT. José Genoíno, o deputado por excelência, o campeão de votos, um símbolo petista, não se reelegeu. Fará falta não apenas ao partido, mas à própria negociação congressual.
No PMDB, José Sarney já octagenário, foi internado no dia da eleição; Jader Barbalho está às voltas com a Ficha Limpa; Pedro Simon mantém o mandato, que certamente será o último. E o "grande timoneiro" Ulysses Guimarães jamais encontrou um substituto à altura. Aliás, deve se remexer no túmulo com as coisas que acontecem naquele que já foi um dia o "seu PMDB".
Na contramão geracional, volta ao cenário político o ex-presidente Itamar Franco, 81, que se elegeu no rastro da popularidade de Aécio Neves em Minas, mas sempre tem o que falar, o que provocar. Um independente, ou suprapartidário, ou franco-atirador, como prefiram.
Começa uma nova história a partir do Congresso, com Manuela Dávila (PCdoB) sendo a mais votada para a Câmara no Rio Grande do Sul, Chico Alencar (PSOL) fazendo bonito no Rio de Janeiro, ACM Neto (DEM) campeão na Bahia, Lindberg Faria (PT) eleito para o Senado, Paulo Bornhausen (DEM) reeleito deputado, Eduardo Braga (PMDB) para o Senado e muitos outros. O futuro está aí.
A força tucana continua nos executivos estaduais, e é ali que se faz a renovação, com Geraldo Alckmin assumindo a liderança em São Paulo, Aécio Neves se transformando no grande nome político da sua geração e Beto Richa ganhando musculatura a partir do Sul.
Como vem também dos Executivos estaduais uma nova força emergente: o PSB. Edua rdo Campos foi o campeão de votos do país, com mais de 80% em Pernambuco, e Renato Casagrande ficou logo atrás no Espírito Santo.
E não se pode desconsiderar a "onda verde", não apenas pelo sucesso de Marina Silva como terceira via na eleição presidencial, mas também porque o PV lançou candidatos em praticamente todos os Estados, familiarizando o eleitor com a sigla, com as propostas e com seus candidatos. E, afinal, a sustentabilidade é, de fato, o grande tema de hoje e do futuro.
O Tiririca? Isso a gente deixa para discutir outra hora, ok?
(*) Jornalista . É colunista da Folha de São Paulo desde 1997
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