Luis Fernando Veríssimo para O Estado de S.Paulo
M. H., o Marciano Hipotético, vem seguidamente ao Brasil.
Diz que gostou da caipirinha e das mulheres, embora nem sempre encontre uma disposta a aturar seu método pouco convencional de acasalamento (algo envolvendo tubos retratáveis e ventosas coloridas). As visitas de M.H. são bastante espaçadas, já que a viagem de Marte é longa, e ele sempre se surpreende com o que encontra aqui. Quando lhe contaram que no Brasil havia conflitos por terra, por exemplo, ele precisou ser reanimado ("Amônia! Amônia!"), tal foi o seu espanto. Como era possível, num país deste tamanho, faltar terra para dividir?
E M.H. não consegue entender a nossa política.
Lula, principalmente, é um desafio para a sua compreensão.
Numa das primeiras vezes em que esteve no Brasil, M.H. acompanhou a eleição do Collor com uma grande vantagem de votos sobre o Lula. Viajou de volta para Marte convencido de que a carreira política do Lula estava acabada. Voltou ao Brasil na época da eleição do Fernando Henrique, que derrotara... Não era possível. O Lula! Agora sim, pensou M.H.
Lula desistiria. Ficara claro que o Brasil jamais elegeria alguém como Lula para a presidência. O cargo - conforme lhe contaram - era só para doutores ou generais.
Além de tudo, Lula e o seu partido assustavam os brasileiros. Fernando Henrique também era de esquerda - pelo menos era o que dizia no rótulo - mas não ameaçava a prataria de ninguém. M.H. voltou para casa certo de que não ouviria mais falar em Lula e curioso sobre quem substituiria Fernando Henrique no governo.
Quem daria continuidade ao projeto liberal tão bem recebido pelo povo brasileiro?
Na sua visita seguinte ao Brasil, M.H. teve duas surpresas.
A primeira foi que o governo Fernando Henrique, por incrível que parecesse, tinha sido substituído por um governo Lula. A segunda foi que o governo Lula estava prestes a terminar. Lula não sobreviveria ao escândalo do mensalão. M.H. concordou com o Bornhausen: nos 30 anos seguintes, sempre que voltasse ao Brasil, não encontraria nem traços do PT. Mas quando voltou encontrou Lula não apenas ainda no poder mas com um índice de aprovação lá no alto.
O M.H. pôs as quatro mãos na cabeça.
Na visita seguinte, M.H. acreditou que o fim do Lula finalmente tinha chegado.
Leram para ele um artigo publicado num grande jornal que acusava Lula de ter assassinado os mortos num acidente de avião em São Paulo. Pronto, pensou M.H. Quando estão chamando um presidente da República até de assassino, é porque o seu fim está próximo.
Pelo menos, pensou M.H., num país normal.
Na sua última visita. M.H. pediu para saber o índice de aprovação do governo Lula, apesar de tudo. Quando soube, suspirou fundo pelas guelras.
É possível que desista do Brasil.
M
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