Luiz Caversan (*)
De tanto ouvir gente comentando, dizendo que é lindo, que se emocionou com tal ou qual participante, resolvi dar uma olhada no "The Voice", da Rede Globo. Aparentemente peguei um dia ruim, porque nada do que vi me pareceu algo que valesse tanto quanto a repercussão positiva de que o programa desfruta.
Mas o que deu para perceber em cinco minutos de audiência foi: "The Voice" nada mais é do que uma reciclagem dos nossos velhos e bons programas de calouro, que sempre fizeram sucesso no Brasil, desde os tempos do rádio.
Claro que sem todo o aparato tecnológico e cenográfico da produção global, a história de nossa música popular está plena de exemplos de competições deste gênero e formato, em que cada um a seu tempo foram capazes de arregimentar não apenas número expressivo de bons participantes, como público ativo e apaixonado.
A começar, pelo que me lembre, do compositor ("Aquarela do Brasil") e apresentador Ary Barroso (1903-1964), que levou por anos na década de 40 na Rádio Tupi do Rio de Janeiro seu programa "Calouros em Desfile", que obtinha grandes audiências e que tirou do anonimato nomes como Elza Soares, por exemplo. Em seu estilo histriônico, Ary contemplava com o estridente som de um gongo as piores performances, que eram transmitidas ao vivo.
Mais radical, Flávio Cavalcanti (1923-1986) mantinha um estilo bem agressivo, provocador, e simplesmente quebrava em cena os discos de que não gostava. Ele, segundo o Dicionário Cravo Albin da Música Brasileira, comandou o primeiro júri de calouros no país, nos anos 60 na extinta TV Excelsior.
E claro que há outros tantos, mais ou menos conhecidos, do simpático Edson "Bolinha" Cury (1936-1998) ao sensacional Abelardo "Chacrinha" Barbosa (1917-1988), que revolucionou a maneira de se apresenta em público na TV, e a Raul Gil, no ar ainda hoje.
O mais famoso de todos estes programas, como se sabe, foi o "Show de Calouros" comandado durante mais de duas décadas, até meados dos anos 90, pelo eterno Silvio Santos.
No caso de Silvio, atração à parte eram seus jurados, que desenvolviam estilos pessoais de fazer graça ou atrair a antipatia do público, entre os quais Aracy de Almeida, Zé Fernandes, Elke Maravilha, Pedro de Lara e outros.
De maneira que as estripulias de Carlinhos Brown ou as caras de bocas e Claudia Leite e mesmo as observações tecnicamente corretas de Lulu Santos não trazem nada de inédito. Encontram a repercussão que tem havido por conta de três fatores, a meu ver:
1 - A natural vocação dos brasileiros para a música cantada, que sempre existiu e que, além do talento verdadeiro que possa ser detectado, alcança hoje em dia patamares surpreendentes por conta, sobretudo, da alta tecnologia e dos equipamentos utilizados.
2 - A também natural capacidade (ou seria necessidade?) que o público em geral tem de se emocionar com "gente simples que está chegando lá", identificando-se com as conquistas e condoendo-se com os excluídos.
3 - O inter-relacionamento estreito, mérito desta atração da Globo, com as redes sociais, principalmente o Twitter, que proporcionam à atração uma reverberação a mais, que não se encerra ao final do programa nem nas eventuais matérias jornalísticas que se façam a respeito.
Se, em sua época, as "macacas de auditório" do Flávio Cavalcanti ou do "seu" Silvio tivessem smartphones ou tablets, certamente suas escolhas também iriam bombar na rede.
(*) Jornalista e consultor na área de comunicação corporativa da Folha de São Paulo
De tanto ouvir gente comentando, dizendo que é lindo, que se emocionou com tal ou qual participante, resolvi dar uma olhada no "The Voice", da Rede Globo. Aparentemente peguei um dia ruim, porque nada do que vi me pareceu algo que valesse tanto quanto a repercussão positiva de que o programa desfruta.
Mas o que deu para perceber em cinco minutos de audiência foi: "The Voice" nada mais é do que uma reciclagem dos nossos velhos e bons programas de calouro, que sempre fizeram sucesso no Brasil, desde os tempos do rádio.
Claro que sem todo o aparato tecnológico e cenográfico da produção global, a história de nossa música popular está plena de exemplos de competições deste gênero e formato, em que cada um a seu tempo foram capazes de arregimentar não apenas número expressivo de bons participantes, como público ativo e apaixonado.
A começar, pelo que me lembre, do compositor ("Aquarela do Brasil") e apresentador Ary Barroso (1903-1964), que levou por anos na década de 40 na Rádio Tupi do Rio de Janeiro seu programa "Calouros em Desfile", que obtinha grandes audiências e que tirou do anonimato nomes como Elza Soares, por exemplo. Em seu estilo histriônico, Ary contemplava com o estridente som de um gongo as piores performances, que eram transmitidas ao vivo.
Mais radical, Flávio Cavalcanti (1923-1986) mantinha um estilo bem agressivo, provocador, e simplesmente quebrava em cena os discos de que não gostava. Ele, segundo o Dicionário Cravo Albin da Música Brasileira, comandou o primeiro júri de calouros no país, nos anos 60 na extinta TV Excelsior.
E claro que há outros tantos, mais ou menos conhecidos, do simpático Edson "Bolinha" Cury (1936-1998) ao sensacional Abelardo "Chacrinha" Barbosa (1917-1988), que revolucionou a maneira de se apresenta em público na TV, e a Raul Gil, no ar ainda hoje.
O mais famoso de todos estes programas, como se sabe, foi o "Show de Calouros" comandado durante mais de duas décadas, até meados dos anos 90, pelo eterno Silvio Santos.
No caso de Silvio, atração à parte eram seus jurados, que desenvolviam estilos pessoais de fazer graça ou atrair a antipatia do público, entre os quais Aracy de Almeida, Zé Fernandes, Elke Maravilha, Pedro de Lara e outros.
De maneira que as estripulias de Carlinhos Brown ou as caras de bocas e Claudia Leite e mesmo as observações tecnicamente corretas de Lulu Santos não trazem nada de inédito. Encontram a repercussão que tem havido por conta de três fatores, a meu ver:
1 - A natural vocação dos brasileiros para a música cantada, que sempre existiu e que, além do talento verdadeiro que possa ser detectado, alcança hoje em dia patamares surpreendentes por conta, sobretudo, da alta tecnologia e dos equipamentos utilizados.
2 - A também natural capacidade (ou seria necessidade?) que o público em geral tem de se emocionar com "gente simples que está chegando lá", identificando-se com as conquistas e condoendo-se com os excluídos.
3 - O inter-relacionamento estreito, mérito desta atração da Globo, com as redes sociais, principalmente o Twitter, que proporcionam à atração uma reverberação a mais, que não se encerra ao final do programa nem nas eventuais matérias jornalísticas que se façam a respeito.
Se, em sua época, as "macacas de auditório" do Flávio Cavalcanti ou do "seu" Silvio tivessem smartphones ou tablets, certamente suas escolhas também iriam bombar na rede.
(*) Jornalista e consultor na área de comunicação corporativa da Folha de São Paulo
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