Fernando Reinach (*) para O Estado de S.Paulo
Quantas espécies de árvores existem na Amazônia? Você não sabe? Não se preocupe, porque ninguém sabe. Mas agora cientistas obtiveram uma primeira estimativa. São aproximadamente 16 mil espécies. Essa descoberta veio com uma surpresa. As 227 espécies mais frequentes são responsáveis por 50% de todas as árvores presentes na região.
Mais de uma centena de cientistas se juntaram para estudar 1.170 quadrados de mata espalhados pelos 6 milhões de quilômetros quadrados de florestas que compõem a região amazônica. Cada um desses quadrados de 100 por 100 metros (o tamanho de um quarteirão) foi vasculhado palmo a palmo. As árvores foram contadas, identificadas e classificadas (a definição de árvore usada pelos cientistas é qualquer planta com um tronco com mais de 10 centímetros de diâmetro). Dado o tamanho da amostra, e a distribuição desses quadrados por toda a região, os cientistas acreditam que esses dados são suficientes para inferir a real biodiversidade de árvores presentes na região.
Nos 1.170 quadrados foram identificadas e classificadas 639.639 árvores, o que indica que na Amazônia a densidade média é de 565 árvores por hectare e o total de árvores existente na região é de 3,9 x 1011. Isso equivale a mais de 50 árvores por habitante do planeta Terra (somos aproximadamente 7,1 x 109 pessoas). Se cada um de nós derrubar uma árvore por dia, em menos de 2 meses liquidamos a floresta.
Nessa amostra de 639.639 árvores foram identificadas 4.962 espécies. O resultado mais surpreendente foi a distribuição das diferentes espécies. As 227 espécies mais abundantes da floresta representam 50% de todas as árvores presentes na amostra. As outras 4.750 espécies representam os outros 50% da amostra.
Em seguida, os cientistas organizaram as 4.962 espécies por ordem de representatividade na floresta. Para tanto, colocaram no eixo vertical de um gráfico a quantidade de indivíduos de cada espécie, e no eixo horizontal a posição da espécie no ranking de representatividade. Esse gráfico permite extrapolar uma reta que cruza o eixo horizontal na espécie de número 16 mil. É com base nessa extrapolação que os cientistas acreditam que devem existir aproximadamente 16 mil espécies de árvores nesse ecossistema. Esse número é muito parecido com o número de 15 mil espécies estimado por diversos outros métodos.
A distribuição desigual de espécies significa que, apesar da grande biodiversidade de árvores, um número pequeno de espécies é responsável por grande parte de todas as árvores, enquanto as outras espécies possuem poucos exemplares na região.
Essa desigualdade é enorme: 227 espécies cobrem 50% da floresta, 5.853 espécies cobrem 49,88% da floresta e as restantes 10 mil espécies cobrem 0,12% da floresta. Isso significa que as 6 mil espécies menos frequentes na Amazônia são extremamente raras. Os cálculos feitos pelos cientistas indicam que provavelmente elas possuem menos de 1 mil indivíduos em toda a região amazônica.
Essa descoberta tem implicações importantes para os estudos da região amazônica. Como grande parte da floresta é composta por um pequeno número de espécies, os cientistas acreditam que a floresta é provavelmente muito menos resistente às mudanças ambientais do que se imaginava. Se o ambiente se tornar desfavorável para uma fração das espécies dominantes, grande parte da floresta desaparece.
Além disso, a baixa frequência das espécies mais raras (com menos de 1 mil indivíduos em toda a região) torna praticamente impossível fazer um levantamento completo de todas as espécies presentes na região. É provável que muitas dessas espécies desaparecerão muito antes de serem identificadas.
Esse estudo é um bom exemplo do pouco que sabemos sobre a biodiversidade da Amazônia. Tal como a caixinha de Pandora, a floresta é cheia de surpresas.
(*) É biólogo
Quantas espécies de árvores existem na Amazônia? Você não sabe? Não se preocupe, porque ninguém sabe. Mas agora cientistas obtiveram uma primeira estimativa. São aproximadamente 16 mil espécies. Essa descoberta veio com uma surpresa. As 227 espécies mais frequentes são responsáveis por 50% de todas as árvores presentes na região.
Mais de uma centena de cientistas se juntaram para estudar 1.170 quadrados de mata espalhados pelos 6 milhões de quilômetros quadrados de florestas que compõem a região amazônica. Cada um desses quadrados de 100 por 100 metros (o tamanho de um quarteirão) foi vasculhado palmo a palmo. As árvores foram contadas, identificadas e classificadas (a definição de árvore usada pelos cientistas é qualquer planta com um tronco com mais de 10 centímetros de diâmetro). Dado o tamanho da amostra, e a distribuição desses quadrados por toda a região, os cientistas acreditam que esses dados são suficientes para inferir a real biodiversidade de árvores presentes na região.
Nos 1.170 quadrados foram identificadas e classificadas 639.639 árvores, o que indica que na Amazônia a densidade média é de 565 árvores por hectare e o total de árvores existente na região é de 3,9 x 1011. Isso equivale a mais de 50 árvores por habitante do planeta Terra (somos aproximadamente 7,1 x 109 pessoas). Se cada um de nós derrubar uma árvore por dia, em menos de 2 meses liquidamos a floresta.
Nessa amostra de 639.639 árvores foram identificadas 4.962 espécies. O resultado mais surpreendente foi a distribuição das diferentes espécies. As 227 espécies mais abundantes da floresta representam 50% de todas as árvores presentes na amostra. As outras 4.750 espécies representam os outros 50% da amostra.
Em seguida, os cientistas organizaram as 4.962 espécies por ordem de representatividade na floresta. Para tanto, colocaram no eixo vertical de um gráfico a quantidade de indivíduos de cada espécie, e no eixo horizontal a posição da espécie no ranking de representatividade. Esse gráfico permite extrapolar uma reta que cruza o eixo horizontal na espécie de número 16 mil. É com base nessa extrapolação que os cientistas acreditam que devem existir aproximadamente 16 mil espécies de árvores nesse ecossistema. Esse número é muito parecido com o número de 15 mil espécies estimado por diversos outros métodos.
A distribuição desigual de espécies significa que, apesar da grande biodiversidade de árvores, um número pequeno de espécies é responsável por grande parte de todas as árvores, enquanto as outras espécies possuem poucos exemplares na região.
Essa desigualdade é enorme: 227 espécies cobrem 50% da floresta, 5.853 espécies cobrem 49,88% da floresta e as restantes 10 mil espécies cobrem 0,12% da floresta. Isso significa que as 6 mil espécies menos frequentes na Amazônia são extremamente raras. Os cálculos feitos pelos cientistas indicam que provavelmente elas possuem menos de 1 mil indivíduos em toda a região amazônica.
Essa descoberta tem implicações importantes para os estudos da região amazônica. Como grande parte da floresta é composta por um pequeno número de espécies, os cientistas acreditam que a floresta é provavelmente muito menos resistente às mudanças ambientais do que se imaginava. Se o ambiente se tornar desfavorável para uma fração das espécies dominantes, grande parte da floresta desaparece.
Além disso, a baixa frequência das espécies mais raras (com menos de 1 mil indivíduos em toda a região) torna praticamente impossível fazer um levantamento completo de todas as espécies presentes na região. É provável que muitas dessas espécies desaparecerão muito antes de serem identificadas.
Esse estudo é um bom exemplo do pouco que sabemos sobre a biodiversidade da Amazônia. Tal como a caixinha de Pandora, a floresta é cheia de surpresas.
(*) É biólogo
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